Aquele olhar
Quando desviei meu olhar àquele morador de rua, senti-me como que petrificado. Seus olhos se fixaram nos meus, querendo me dizer alguma coisa. Interrompi minha marcha e o encarei. Ele parecia suplicar que eu o reconhecesse como gente, alguém que de alguma forma existia. Naqueles olhos embaçados pela tristeza havia a história de uma vida. Vida que se perdeu em algum ponto do tempo.
Eu queria lhe falar. Esboçar uma palavra qualquer. Meu desejo era tentar um diálogo, ainda que sobre nada. Naqueles olhos sem brilho percebia-se, ainda, um lampejo de humanidade.
Mas, meu orgulho pequeno burguês falou mais alto. Desisti. Prossegui em minha caminhada. Faltou-me humanidade. E a pena imposta pela minha consciência foi jamais esquecer aquele olhar. Aquele olhar…
Por Gilberto Silos
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