Bush = Osborn: Quando o real invade a fantasia

Bush = Osborn: Quando o real invade a fantasia

Segundo o filósofo Slavoj Zikek, os eventos que encerram a utopia capitalista iniciada após a queda da antiga União Soviética tiveram seu início em 2001, quando o refluxo da política externa norte americana pulou o murou, invadiu o jardim e matou milhares de pessoas e ainda por cima, causou a rachadura na armadura do “titã” EUA.

O inimigo externo a ser combatido, cruel, mortal e acima de tudo “real” levou os EUA a declararem guerra a todos os inimigos da liberdade, levando a guerra a todos os seus opositores. Cerca de onze anos depois, temos o mundo a beira do caos econômico, onde o xenofobismo espalha-se como um vírus pela Europa, no terceiro mundo, o crime e a violência causado por políticos e pelos criminosos transformam estes lugares em depósitos das sujeira dos países desenvolvidos. No extremo oriente, o controle de ferro da China leva a morte a milhares de pessoas, já no oriente médio, o resultado do treinamento e do armamento cedido a rebeldes anticomunistas, gera hoje seus refluxos, como o Taliban, como foi Saddan e muitos outros ditadores.

Nos EUA, a guerra levou a vida de milhares de soldados (não mais que as vítimas inocentes dos países visitados pelos defensores da liberdade – leia-se também democracia), ocasionando uma mobilização social bastante grande, uma vez que os soldados norte-americanos sofrem um processo bem peculiar de alistamento, o que transforma tal cargo em um emprego, que em épocas de guerra gera muitas vagas.

Economicamente os EUA pagaram também o preço da guerra, o preço para o “alienamento” cultural americano foi o estímulo ao crédito, tal fato somado ao intenso investimento numa guerra de inimigos “invisíveis” onde somente a tecnologia de ponta poderia dar bons resultados, levou o Estado a investir pesadamente no setor bélico, levando isso a uma complexa série de eventos que culminaram na atual crise, iniciada em 2008.

Se um homem pode ser culpado por isso, este homem pode ser o presidente norte americano George W. Bush, nos quadrinhos, sua gestão política do país mais poderoso da Terra, serviu de enredo para uma das tramas mais interessantes publicadas pela Marvel, a saga “Reinado Sombrio”.

Nela, após salvar o EUA de uma invasão alienígena (externa) o outrora vilão Norman Osborn (também conhecido como Duende Verde) se torna o chefe de segurança dos EUA, levando a guerra e o terror, aos inimigos dos EUA. Osborn cria para si uma equipe sombria de Vingadores, onde somente vilões vestem o uniformes de heróis consagrados, roubando a tecnologia de Tony Stark (o Homem de Ferro) Norman torna-se o “Patriota de Ferro”.

Levando o terror para toda a população do Universo 616 da Marvel, seja, caçando todos os mutantes, forçando os X-Men fugirem dos EUA e fundarem seu “país” (arco Utopia), seja devolvendo antigos ditadores como Dr. Victor Von Doom ao trono da Latvéria (como é mostrado nas histórias da “Cabala”), aliando se ao crime organizado, colocando-os como funcionários do Estado (como ele faz com o personagem Capuz), etc. Osborn inaugura o período mais tenebroso do Universo Marvel, segundo a própria editora.

No fim do arco, Osborn arma um ato terrorista num jogo de futebol, incriminando a cidade de Asgard e a colocando sobre cerco, a guerra decorrente, faz com que os heróis, colocados na ilegalidade por Osborn, se juntassem e derrotassem o vilão, com um apoio interessante do jornal fictício “FrontLine”, chamado inclusive numa estória da mini saga “Reinado Sombrio: A lista” de jornaleco de esquerda.

Desenho de Mike Deodato

A grande sacada desse arco é justamente utilizar os fatos contemporâneos como fonte e como inspiração, transformando o quadrinho, em algo altamente rico, tanto pelo requinte estético (graças aos desenhos de artistas como o brasileiro Mike Deodato, ou ainda John Romita Jr, etc.) como pelo conteúdo. Nesse caso, o roteirista Brian M Bendis tem se destacado. Dono dos mais interessantes arcos de histórias publicados pela “Casa das Ideias” Bendis é um excelente roteirista, sabendo perfeitamente mesclar o mundo real e o mundo fantasioso, dando a seus quadrinhos um gosto de realidade bem verdadeiro. Sagas como “Guerra Civil”, “Reinado Sombrio”, “O Cerco”, e também os aclamados títulos “Alias” e “The Pulse” mostram o talento de Bendis.

Outro fator que corrobora para o tom altamente crítico do arco, é a relação de ampla desaprovação demonstrada pela sociedade americana, todos os setores, no decorrer do tempo passaram a questionar e a desaprovar as ações de Bush, criando um ambiente tanto contundente para as críticas politicas, devido a frustração cotidiana dos norte-americanos, como também publicamente positivo, já que estavam naquele momento contra a gestão desumana de Bush.

Em suma, a teoria de Zikek, afirma que, a história tende a se repetir, ocorrendo primeiramente como tragédia e depois como farsa, o fim do casamento entre democracia e capitalismo, ocorreu em 2001 de forma trágica, sete anos depois, os efeitos econômicos mostraram as consequências das políticas americanas tanto dentro do país como ao redor do mundo, a farsa do segundo evento, reside no fato de que apenas o percebemos devido aos problemas econômicos, mas que o real motivo, havia de forma trágica ocorrido em 2001, na forma de uma violenta resposta contra o “american way of life”.

O quadrinho, “Reinado Sombrio” é um ótimo reflexo dos eventos recentes da história norte americana, assim como “Watchman” de Alan Moore, é um reflexo da década de 80, podendo ambos serem entendidos como formas de esboçar o real no fantasiosa.

Rodolfo Salvador

29022012

Comentários:

Não choro a vida dos soldados norte americanos que morreram, se choro é na mesma intensidade que chorariam ppela morte dos nossos “soldados” de todos os dias.
Se eles foram usados como os peões são usados num tabuleiro, pois é, foi assim que foi, poderíamos ser nós como já se fez antes.
Não vejo os doentes Bush como responsáveis de nada, são sim, loucos aceites como ideais ou estandarte da “democracia” que no caso é o governo do “demo”.
A coisa mais interessante que podemos fazer, individualmente é segui os nossos caminhos nos afastando das emoções sem sentido que nos fazem engolir e vomitar.
O Brasil é lindo e tem as maiores riquezas do planeta terra… para que perdermos tempo com tantos falidos?
Os interesses das guerras que não tem fim e que não podem ter fim não são nossos… aliás quais são os nossos interesses?

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Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

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