Catar ideias aos ventos

 

CATAR IDEIAS AOS VENTOS

 

Encurralado por infinitos assuntos, evidenciados pela mídia e redes sociais, monas em suas ordinárias ladainhas, ideias permeiam minha mente. Resenhar “Os Memoráveis”, livro de Lígia Jorge, Lisboa 2014, já na 6ª edição, leitura alvissareira as vésperas dos fatos narrados no romance, a completarem no próximo ano, meio século daqueles acontecimentos.

Porém, e sempre tem um, porém, como já dizia Plínio Marcos, lembrei que meu nome consta da Ficha Técnica da peça de teatro “Coluna Prestes, Encruzilhadas da Esperança”, em cartaz no Teatro Arthur Azevedo, situado no bairro da Mooca, em São Paulo, dirigida por Rafael Presto, um dos fundadores do Coletivo Galochas, trupe que embrenhou no assunto, de tema tão combatido pelas forças da ignorância pátrias, tentativa torpe de apagar da memória, um dos maiores feitos da história militar, não só do país. Como diz o professor da universidade da Flórida, Neil Macaulay, autor do livro “A Coluna Prestes”, depois de entrevista-lo, ombreou sua Coluna às marchas de Enéas depois da queda de Tróia.

Do que se vê no palco, diz seu diretor: “A trajetória de figuras recortada a contrapelo (o grifo é meu e ele se faz necessário), da historiografia oficial da Coluna Prestes, narrando desde o ponto de vista da base do movimento, fazendo pontes com as lutas do agora”. Em momentos históricos deste vulto, os que tentam omiti-lo, em muito contribuem para realçar sua relevância factual. Sejam quais forem as impressões de quem hoje os vê através da montagem teatral, o registro por si só, dignifica a centenária data que aproxima.

As ruas estão calmas, aparece, aguardando que as “coisas” mudam, uma vez que a maioria elegeu pelo sufrágio universal, seus representantes, e deles esperam que suas condutas façam vistas firmes para que as mudanças prometidas, aconteçam.

A consciência coletiva dos que neles votaram, demonstram desconhecer sua importância, com isso ignoram que o voto depositado a favor das mudanças, é puro e tão somente o primeiro passo, fiscalizar a atuação dos eleitos, conforme suas proposituras, é fator essencial para que as mudanças possam frutificar.

As ruas de ontem, as quais pisamos hoje, são palcos que aguardam de nós, clamar pela existência a céu aberto, do cordial jubilo, da saudação da transeunte anônima, dos abraços ao pôr do sol, que mais um dia cumpriu sua jornada e amanhã, cumprirá novamente e assim sucessivamente continuará, que não é a mesma para cada um de nós, mas é igual para todos no seu estradar.

Procurar compreender fatos passados, por mais glorificados ou incompreendidos que os foram no seu tempo presente, hoje por mais doloroso que possa ser, convém, a medida do entendimento individual, transforma-lo em bem comum, mesmo que o mito já tenha sido construído, seja quando a teimosia insiste em reviver aqueles fatos, sejam ilusão de sonhos perdidos ou uma construção da imaginação ficcional.

Em tempos de calmaria, convém assoviar para chamar o vento e nele catar ideias, escarafunchar pelos jardins, em busca de alguma semente de alecrim, circular pelas curvas das trilhas, carreiros e caminhos, por onde passaram os rebelados da Coluna e redesenhar, novamente a chama do convívio harmonioso de um povo, cuja felicidade não depende dos seus representantes, acômodos em seus almofadados assentos no planalto, mas da sua própria força, mesmo que elas estejam sedimentadas em suas malezas.

Diogo Gomes dos Santos

Mestre em Artes/Cineclubista/Cineasta

Sobre Diogo Gomes dos Santos 11 Artigos
Diogo Gomes dos Santos Diogo Gomes dos Santos, Cineasta, Cineclubista, Mestre em Estética e História da Arte, possui pós-graduação em Estudos Literário, graduado e licenciado em Historia, roteirista, diretor, produtor com vários prêmios nacionais e internacionais. Diretor do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros/Delegado junto a Federação Internacional de Cineclubes.

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