História: como foi a retomada do futebol após a Gripe Espanhola

Por Felipe Lucena -14 de maio de 2020

Enquanto alguns países, como Alemanha e China, que estão estágios mais avançados que o Brasil na luta contra o Coronavírus, começam a retomar suas competições de futebol, o debate se espalha por aqui. Há quem já queira a bola rolando nos gramados do Rio de Janeiro e do Brasil. E tem quem não veja motivos para isso por enquanto. Já vivemos isso no passado. A história se repete.

Durante a pandemia causada pela Gripe Espanhola, o futebol não saiu ileso. Em outubro de 1918, a doença já estava espalhada pelo Brasil e obviamente pelo Rio de Janeiro. Por isso, o Campeonato Carioca daquele ano só teve um jogo naquele mês: Carioca x Andaraí. O placar foi 5 a 3 para o Carioca e a partida realizada na Estrada Dona Castorina.

Arquivo: Jornal do Brasil

Em novembro, a competição, à época a mais importante do país, parou de vez. No mesmo mês veio o anúncio de que a Copa América, que foi disputada no Rio de Janeiro, também iria parar.

Jornal do Brasil

O Campeonato Carioca voltou apenas em 8 de dezembro. No fim, o Fluminense foi o campeão e o Botafogo vice após disputar um jogo de desempate com o São Cristóvão.

“Muita gente criticou a pausa no futebol. Mas outras pessoas apoiaram. Tinha jogador de outros estados que não queria vir ao Rio jogar amistosos com medo de se contaminar, pois aqui tinham muitos casos e notícias sobre a Gripe Espanhola”, conta o pesquisador de futebol Márcio Guedes.

O Fluminense sofreu com a Gripe Espanhola. O jogador inglês Archibald French, contratado como craque, faleceu durante a competição após ser infectado pela doença.

Time do Flumiensne na época.

Além disso, o Fluminense, com pontuação já para ser campeão, não atuou na última rodada, perdendo de W.O para o Carioca. A decisão foi tomada porque boa parte do elenco estava com o vírus da Gripe Espanhola e os atletas não tinham condições físicas para jogar.

Ainda falando sobre o dono do Estádio das Laranjeiras e sua casa, após tentativa de mudarem a Copa América para o Uruguai – que tinha menos casos de Gripe Espanhola que o Brasil -, o Rio de Janeiro foi mantido como sede e serviu de palco para o primeiro grande título da Seleção no mês de maio de 1919. A final foi no campo do Flu e o Brasil venceu  o Uruguai por 1 a 0, com gol de Friedenreich, para um público de 27,5 mil pessoas – a maioria usando máscaras.

Foto: Museu Virtual do Futebol – Seleção joha em Laranjeiras

Em outros estados, a situação foi parecida. O Campeonato Paulista parou por um mês. O Pernambucano ficou sem partidas por mais de dois meses e o Campeonato Gaúcho teve sua edição de estreia adiada para o ano seguinte.

Voltando ao Campeonato Carioca e aos tempos atuais, se a competição não voltar este ano e for dada como finalizada o Fluminense, líder na classificação geral, deve ser decretado campeão. Sem jogar, como aconteceu há mais de 100 anos, no contexto da outra pandemia, a Gripe Espanhola. A história se repete.

Felipe Lucena é jornalista, roteirista, escritor, cronista. Filho de nordestinos, nasceu e foi criado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, em Curicica. Sempre foi (e pretende continuar sendo) um assíduo frequentador das mais diversas regiões da Cidade do Rio de Janeiro.

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