Comentários sobre o folclore joseense #1 – O Homem Infinito

Vamos iniciar essa série de comentários sobre o folclore joseense colocando os pingos nos is a respeito de um tema polêmico e controverso, que tem perturbado alguns munícipes mais sensíveis ao paranormal ao longo das últimas décadas: os avistamentos do Homem Infinito pela cidade de São José dos Campos.

O Homem Infinito é usualmente descrito como um indivíduo magro, levemente corcunda, de sexo biológico masculino, na faixa dos 50 anos, altura em torno de 1’60, vestindo sempre uma camiseta branca, calças beges, pochete, óculos de armação quadrada e lentes fundas. Alguns indícios sugerem que ele pode ser capaz de mudar radicalmente sua aparência, embora nenhum estudo sério corrobore essa hipótese em definitivo.

Pessoas que avistaram o Homem Infinito costumam relatar uma experiência que parece ser comum em todos os casos: ele é visto em alguma região da cidade caminhando apressadamente a pé; as testemunhas, ao se deslocarem (de carro, ônibus ou moto) para outro ponto longínquo e extremo do município, subitamente se deparam novamente com o Homem Infinito caminhando, exatamente do mesmo modo, como se tivesse se teleportado de um bairro a outro.

Alguns teóricos e folcloristas do IFI começaram a trabalhar com a hipótese de que, ao invés de se teleportar, o Homem Infinito permanece imóvel – neste caso, ao invés de ser dotado de um suposto poder de deslocamento, ele seria onipresente (alguns pesquisadores utilizam a grafia omnipresente para designar o atributo no caso específico do Homem Infinito). Indícios parecem apontar para o fato de que a omnipresença do Homem Infinito se restringe ao território urbano da cidade de São José dos Campos.

Esse viés vai de encontro com um relato anônimo de uma testemunha que disse ter ouvido do próprio Homem Infinito que ele foi discípulo direto de Parmênides. Essa informação pode parecer absurda de início; contudo, devemos lembrar que o Homem Infinito aparentemente não envelhece – são muitos os casos de avistamentos em um intervalo de décadas, nos quais a aparência do Homem Infinito se manteve exatamente a mesma.

De minha parte, digo que já avistei o Homem Infinito inúmeras vezes. Mas mais do que isso: já conversei com o Homem Infinito. Isso aconteceu em meados de 2005 ou 2006. Um amigo de longa data conhecido como Monteiro (chamado por alguns especialistas de Monteiro, o folclore vivo), recém-fascinado por temas ufológicos e mitologia espírita kardecista, havia me convidado para um encontro ufológico na Câmara Municipal sediado por um vereador lunático obcecado por ETs (que muitos de vocês devem conhecer). Como eu não via esse amigo há muito tempo, decidi ir ao evento. Chegando lá, me deparei com palestras (levadas muito a sério por todos os presentes) sobre pirâmides na Lua, fósseis em Marte e discos voadores que se escondiam no mar. Às vezes segurava o riso, mas ao olhar pro lado via que meu amigo encarava todos esses assuntos com muita credulidade. Então aguentei e não fiz piadas.

Terminado o evento, olho para o lado e vejo o Homem Infinito conversando com Monteiro. Meu amigo parecia muito íntimo do Homem Infinito que, ao se apresentar, me disse seu nome. Era um nome estranho, esotérico, que se dissipou de minha memória ao término de sua pronúncia. Até hoje não deixo de pensar que o nome do Homem Infinito, indizível como era, não podia ser apreendido por uma memória humana.

O Homem Infinito, ao saber que eu era músico, disse que gostava muito de Brahms. Levantou-se uma dúvida: ele gostava da pessoa Brahms (que ele poderia ter conhecido, dada a sua infinitude) ou apenas de sua música? Até hoje eu não sei. O Homem Infinito também me disse que teve contatos com intraterrenos (que seriam Ets que moram dentro da Terra, e não fora – ou seja, não são Ets, mas Its). Sua personalidade me pareceu delicada e amorosa, e naquele momento me lembrei de um dia quando o avistei por volta das 8h da manhã na Avenida Anchieta. Eu estava dirigindo em direção ao Bosque, e ele estava a pé, indo na direção contrária. Ao passar pela Avenida Andrômeda na zona sul, olho para a calçada e lá está ele, como se tivesse mantido o trajeto anterior, como se tudo fosse contínuo, infinito! Nesse mesmo dia, na hora do almoço, encontrei novamente o Homem Infinito almoçando com um grupo de pessoas muito jovens em um restaurante popular (daqueles em que você podia comer à vontade por 4 reais) na que ficava do lado da Unesp na José Longo. E não foram poucas as vezes em que vi o Homem Infinito cercado por jovens. Numa outra ocasião, me surpreendi, sentado na Cultural Livraria da Adhemar de Barros, ao flagrá-lo abraçado com duas moças bem bonitas, andando tranquilamente pelas calçadas da Vila Adyanna.

A última vez em que vi o Homem Infinito, foi há três anos atrás em uma rua pouco movimentada do meu bairro, perto da meia-noite. Estava caminhando, quando um carro parou em uma esquina, e o Homem Infinito desceu. Pensei nesse momento que haveria a possibilidade de morarmos na mesma região e isso me enterneceu.

Há relatos de que o Homem Infinito também se dedicava à prática da justiça. Um amigo meu (conhecido como Boi) me contou que, quando menino, foi abordado por crianças mais velhas que queriam assaltá-lo. O Homem Infinito surgiu do nada e espantou os assaltantes mirins. Meu amigo também me disse que o Homem Infinito era um defensor da beleza – não por protegê-lo, e sim pelos serviços de jardinagem que ele oferecia a preços módicos aos moradores da Vila Ema na década de 90. Década essa considerada de ouro pelos folcloristas e teóricos da mitologia joseense, pois no intervalo dos anos 90-00, se situam os principais eventos folclóricos da cidade: a aparição do minotauro na boate Casablanca, as festas secretas organizadas por Paulo Maluf em seu cassino clandestino no banhado, as inúmeras abduções alienígenas na zona norte da cidade, Le Grand Rendezvous da Fundação Cultural, a vinda do cadáver do Et de Varginha para o CTA, a Estória do Assalto, a morte do Brandão Bandidão e o início das abordagens do vampiro Glauko na extinta livraria Saraiva no Shopping Centervale.

Mas esses são assuntos para textos futuros. Sugiro agora, para encerrar, uma meditação sobre o

Homem Infinito ao som da canção de mesmo nome:

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Sobre Bruno Ishisaki 7 Artigos
Cancionista e compositor de música de concerto. Doutor, Mestre e Bacharel em Música pela UNICAMP. Especialista em Composição Musical pela FMCG. Professor substituto do curso de Composição da USP. Autor de conteúdo de artes na Editora FTD. Membro das bandas Senhor Shitake e Os Joseense e do coletivo Tempo-Câmara.

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