Conto – ERAM OS DEMÔNIOS ASTRONAUTAS?

ERAM OS DEMÔNIOS ASTRONAUTAS?

Morte! Terror! Destruição!
Foi tudo o que eles nos trouxeram… e o fenecimento veio dos céus!
Foram milênios de nossa rica história com a pergunta que nunca se calava: seríamos únicos no universo? Tantas teorias, tantas afirmações confrontadas com um igual número de negações, se existiria vida em outros mundos. Hoje não existe mais esta dúvida, e ela foi sanada da forma mais lancinante possível.
Eles vieram dos céus, e à princípio nos pareciam mesmo anjos… prestativos, empáticos, demonstrando a cada ação que estavam aqui para nos ajudar a chegar aonde já se encontravam… com sua ajuda, também chegaríamos ao pináculo da civilização.
Nos prometeram partilhar sua Ciência, Medicina e Cultura… e tolamente, acreditamos. Nos primeiros ciclos isso parecia mesmo estar ligado à fidedignidade, mas não poderíamos estar mais enganados!

Logo eles mostraram sua verdadeira face, sua verdadeira alma, e ela era exatamente como sua aparência tão atroz! Como pudemos confiar em seres com formas tão blasfemas? Eram tão terrificantes que não poderiam jamais serem anjos, tinham que ser demônios! Sua vil aparência não ouso descrever aqui, pois com certeza o pouco que me resta de sanidade seria arrancada de mim sem demora, e me veria jogado nos braços da loucura.      A traição veio com asas ligeiras, e começaram a nos vitimar como se fôssemos simples animais. Pegos de surpresa, nada pudemos fazer, e caímos! Mas mesmo que estivéssemos preparados, é pouco provável que o resultado fosse diferente… suas armas eram infinitamente superiores às nossas, e nenhum de nossos líderes nada poderia fazer. Quem diria que havíamos perdido tanto tempo guerreando entre nós mesmos, por nossas diferenças de raças, credos e culturas? Hoje sabemos que as fronteiras só nos fizeram enfraquecer, que deveríamos ter vivido como um único povo, respeitando as diferenças e não as usando como desculpa apenas para separar e odiar. Ao menos isso os demônios nos ensinaram… mas tal sabedoria parece ter vindo tarde demais.

Não sabemos o motivo de tanta vilania… não sabemos se querem nos expurgar de nosso próprio planeta para passar a viver nele ou se querem nossas riquezas naturais para levar ao inferno de onde esses demônios devem ter vindo. Sabemos que muitos de nós foram capturados vivos e levados por eles, mas não temos ideia sobre qual foi o triste destino a que foram acometidos. Talvez para serem transformados em escravos, talvez para serem estudados, fisiológica e mentalmente… não sabemos e isso só faz aumentar o terror que nos abraça.
Ominosos demônios! Deixem-nos em paz!

Que tolo desabafo este meu… eles não irão embora, eles agora são os donos de tudo. E caçam impiedosamente os remanescentes de nós, que ainda lutam, que ainda são livres para retaliar.
O luto hoje é onipresente. Para toda região que tento ir, o cenário é sempre o mesmo… nossas construções desarvoradas, e a morte reinando suprema, com os restos do que já fomos, deixados ao léu, mefíticos… meras carcaças a exalar miasmas!
No início, eles pareciam anjos… com seus sorrisos, suas bênçãos, sua cordialidade, e sorríamos em comunhão. Hoje não há mais júbilo algum… apenas ruínas, dor e sofreguidão. Nos enganaram desde o início, dizendo que seu planeta natal era como o nosso, tomado por mares dividindo os continentes e que coincidentemente também era o terceiro planeta a partir de sua estrela, e que isso nos tornava irmãos no universo… falácias! Vis falácias que tolamente acreditamos, e por isso pagamos o mais alto dos preços.

Não tenho mais coragem de olhar para os céus, pois é de lá que os malfazejos demônios vieram, é dos céus que a ruína, que agora reina, veio nos visitar. Sussurros inaudíveis me atormentam a todo momento… temo estar perdendo a razão.
Me pego pensando o motivo de seguir fugindo, me escondendo, ainda tendo esperança. Não seria muito mais fácil me entregar aos demônios, já que a sina de nosso povo obviamente já foi decidida? Não sei porque ainda resisto, porque ainda me recuso a cair quando todos que conheço já caíram… família, amigos, conhecidos… todos se foram, ceifados pelas mãos ímpias dos nefastos  demônios vindos dos céus.
Ódio! Talvez ele seja a resposta… é a cólera inequívoca aos demônios que não me deixa cair, que me impele a resistir, a perseverar… a de fazê-los pagar o mínimo que seja, pela mácula que nos fizeram.

Sei que pouco ou mesmo nada posso fazer contra eles, mas já me tiraram tudo, não deixarei que me tirem também meus sonhos, meus anseios.      Jamais me esquecerei do primeiro contato dos demônios conosco… suas primeiras palavras já marcavam todo o embuste que suas verdadeiras intenções possuíam… uma bela mensagem já traduzida para nossos idiomas, vocábulos de esperança, precedidos pelas enganadoras e históricas palavras:
– Saudações! Nada temam! Somos habitantes do planeta Terra, viemos em uma missão de paz…

 DALTO FIDENCIO 
 nils satis nisi optimum

 http://www.facebook.com/dalto.fidencio
 http://twitter.com/DaltoFidencio

2 Comentários

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*