Do pastel de feira ao surrealismo

 

Do pastel de feira ao surrealismo

Comer pastel na feira é um hábito que carrego há muitos anos. Melhor ainda se acompanhado de um caldo de cana.
Dia desses encontrei um antigo colega de trabalho na feira da Vila Maria. Aproveitamos para colocar a conversa em dia justamente no trailer do pastel. Pedi um pastel de palmito e o amigo perguntou por que não o de carne. Expliquei-lhe que por razões de foro íntimo, deixei de comer carne em 1967. Afinal, muita gente não se alimenta de carne, como os vegetarianos, veganos, adventistas. Sou, por opção, lacto-ovo-vegetariano.
Como se sentisse ofendido com a minha revelação, ele elevou o tom de voz: “Como alguém pode se abster de proteína animal por mais de meio século? É uma loucura! Um absurdo! Isso é completamente surreal! Surreal mesmo!
Como hoje em dia as pessoas empregam o adjetivo “surreal” a torto e direito, para designar qualquer coisa que fuja a qualquer padrão, perguntei-lhe o que ele entendia por surreal, mas sem valer-se de reducionismos.
Fez-se então um silêncio entre nós dois, E, não sei se por coincidência ou saída estratégica, ele levou o celular ao ouvido e disse que era sua mulher solicitando que voltasse logo para casa com a cebola e o alho. Uma visita inesperada chegara para almoçar. Fiquei sem a explicação.
É bom lembrar que “surreal” refere-se a “surrealismo”, um movimento de vanguarda surgido na Europa há exatos 100 anos. Teve sua origem num manifesto dos poetas franceses André Breton e Phillipe Soupault, lançado em 1924, . No documento eles propunham a renovação de todos os valores filosóficos, morais, políticos e científicos. Defendiam uma nova visão das artes, do mundo e da vida. Sobretudo nas artes e na literatura, entendiam os sonhos, o inconsciente, o instinto, os insights, como fontes de inspiração.
Polêmico e controvertido, o movimento atraiu gente como Magritte, Salvador Dali, Luiz Buñuel, os Irmãos Marx no cinema. Inspirou o Teatro do Absurdo, e outras formas inovadoras de manifestação da sensibilidade humana.
O movimento surrealista ousou desafiar o conservadorismo predominante em vários campos da atividade humana.
Não é possível agradar a todos, e nem é necessário. John Kennedy, ex- presidente dos Estados Unidos, quando lhe indagaram qual era a fórmula para o sucesso, respondeu: “ Desconheço essa fórmula, mas a do fracasso é viver para agradar todo mundo”.
Então, continuo firme no meu pastel de palmito.

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 190 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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