Entrevista com o poeta e prosador Ricardo Mainieri – ConVersa e Prosa

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Entrevista com o poeta e prosador Ricardo Mainieri

 

 

Biografia:

Eu sou o poeta e prosador Ricardo Mainieri. Gaúcho, nascido em Porto Alegre, nos loucos e inquietos anos 60. Publicitário de profissão, trabalhei na área por pouco tempo. Dediquei muitos anos ao serviço público municipal, no qual me aposentei. Publiquei meu primeiro livro em 1990, fruto de uma seleção do Instituto Estadual do Livro – IEL/RS, chamado “A travessia dos espelhos”. Depois de um longo hiato, em que publiquei em coletâneas e nas redes sociais, voltei a ser lançado. Agora, pela editora Caravana/BH, no ano de 2021, com o livro “Mínimo animal poeta”. Em 2022, grandes surpresas, pois consegui emplacar duas edições. Uma pela editora Patuá/SP, com a obra “Emoções em trânsito” e, outra pela Folheando/PA, com o livro “Assemblage”. Atualmente ando revisando poemas para constar em futuras obras. E assim seguimos. 

 

Entrevista

(Bruno Macedo)  – Como funciona o teu processo criativo? O que te motiva a escrever?

(Ricardo Mainieri) – O processo de criação, para mim, é uma coisa um tanto anárquica. Escrevo por motivação, seja por estímulos do exterior como um poema, uma música, uma vivência cotidiana, uma notícia de jornal ou por necessidades interiores, ou seja, ao comando das emoções. No entanto, como cacoete de meu tempo de prática publicitária, tenho capacidade de escrever sob demanda, com prazo fixado. A inspiração e a transpiração, então, se encontram. E geram obras de boa qualidade, também.

 

(Bruno Macedo) – Quais autores que são para ti referências?

(Ricardo Mainieri) – Eu leio muito. Desde criança. Lembro-me dos clássicos infanto-juvenis, das revistas como Seleções e Realidade, da década de 70. Depois, iniciei-me na leitura de autores brasileiros como Jorge Amado e Érico Verrísimo. No entanto, minhas preferências vão para a poesia e a narrativa curta. Então poetas como Manuel Bandeira, Carlos Drummond, Paulo Leminski, Adélia Prado, autores da literatura marginal como Cacaso, Chacal e os estrangeiros como Mário Benedetti, Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Vladimir Maiacoviski são essenciais. Na prosa, prefiro os nacionais como Fernando Sabino, Machado de Assis, Paulo Mendes Campos, Roberto Drummond, Caio Fernando Abreu e os latino-americanos como Júlio Cortázar e Jorge Luiz Borges. E continuo, sempre, pesquisando novos autores. Sejam impressos ou nas redes sociais.

 

(Bruno Macedo) – Como você enxerga o mercado editorial brasileiro e a publicação de um livro na atualidade?

(Ricardo Mainieri) – Até algum tempo, publicar era uma tarefa que demandava um bom investimento. As editoras, normalmente, só buscavam autores consagrados e, preferencialmente, de narrativa longa e de não-ficção. Na atualidade, o mercado anda mais favorável. Com as seleções feitas por editoras independentes, pude trazer à luz meus novos livros. É muito gratificante.

No entanto, sinto, no Brasil, um empobrecimento cultural. As pessoas estão muito voltadas à tecnologia e outras à sobrevivência. Sinto falta, também, do apoio dos entes privados e públicos. Enfim, é um período onde, até se publica bastante, mas se vende pouco e, assim, tua obra não ganha o alcance necessário.

(Bruno Macedo) – Comente um pouco sobre tuas publicações e sobre projetos que estejas preparando para o futuro. 

(Ricardo Mainieri) – Como disse, publiquei até aqui, quatro livros. E os últimos três, entre 2021 e 2022. O  primeiro, “A travessia dos espelhos”, é resultado de uma seleção pública, do IEL/RS. É uma obra das inquietações juvenis, das descobertas amorosas, dos desencantos de um tempo de ditadura. Já a obra “Mínimo animal poeta”, de 2021, centra-se num projeto de escrita minimalista, onde os poemas são de, no máximo, doze versos  e as temáticas vão do erótico ao existencial. No livro “Emoções em trãnsito”, de 2022,  falo um tanto da maturidade, da morte, dos desenganos políticos, da perplexidade, em versos mais longos e intensamente burilados. Na última obra, “Assemblage”, reuno poemas como numa festa inspirada pelos mitos dionisíacos, onde a alegria, o vinho e a sensualidade, embriagam às paginas. E sobre novos projetos, estamos sempre escrevendo e mandando, adiante, nosso material. Pode surgir coisa no horizonte, em breve.

Podes escrever aqui um poema ou trecho dos teus livros, bem como foto das capas.

 

DAS VIAGENS DO AMOR

Onde está o amor?

 

na Rua do Amparo
Olinda
entre frevos e a saudade
em Belorizonte
rodoviária
no coração da manhã.

Foi visto
transitando pelas luzes
de São Paulo
Rio de Janeiro
y otros meses
desvendando as águas
da Ilha de Santa Catarina
verão. 

Perdido pelas esquinas
nos parques
o amor se resguarda
caracol
mas não oculta suas pegadas.

Ele hiberna em mim
e a chama de teu sorriso
se perde
pelas tardes precocemente escurecidas.

Do livro “A travessia dos espelhos”, 1990       

 

PEQUENA MORTE

 

o arco

 

a tensão 

da corda

 

o alvo

 

cravo a seta

do amor

em ti

 

e estremeço

 

após

sou paz.

 

Do livro “Mínimo animal poeta”, 2021.

 

RITO DE PASSAGEM

ao iniciar
a grande travessia

da alma

expedição para Atlântida
Aruanda
ou a Walhala

quero ter mãos livres
a mente sem débitos

para pairar acima

e nesse momento

serei poeira cósmica
som primordial
link no ciberespaço


e neste compasso

ouvirei divinos cantos

 

e poderei quem sabe

– novamente –

germinar.

 

Do livro “Emoções em trânsito”, 2022.   

 

FREUDIANA

 

no divã 

do analista

a alma nua

 

precários

mecanismos 

de defesa

 

& a libido 

sublimada

 

fixada 

na fase oral

 

sonho 

seio

alcoólico & farto

 

logo após

no happy hour.

 

Do livro Assemblage, 2022.                   

 

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