Insones – O caos e (em) nós

Insones

O caos e (em) nós.

A dramaturgia de Victor Nóvoa é, dentre os destaques da nova dramaturgia brasileira, um dos ícones que permitem e provocam encenações acerca do caos e (em ) nós, como sínteses recrudescidas do drama humano contemporâneo.

Nos estudos sobre a modernidade e a pós modernidade há quem afirme que o homem moderno é (era) dramático e o pós-moderno, trágico.  Em Insones, os personagens são como que melotrágicos – e, claro, daí chegam a ser cômicos-, com sua recitação obsessiva, âncora do existir para cada um deles. Rompem com toda a possibilidade lógica, ordenada, linear, mergulham no nada ou na ridicularização do ser um e ser outro, sem se reconhecerem, pois flutuam do singular detalhe de que estão insones há um ano, à ausência do relacionar-se,  à ausência de si e do outro, à violência por puro experimento e prazer.

A única referência ao que os prende ao aqui e agora, ao existente, é uma improvável lembrança de que o ano está findando, e que devem celebrar esta passagem. Um tempo que não existe. Uma espera frágil, despedaçada, muito depauperada quando a aproximamos de um non sense de um Godot, por exemplo, com que Beckett  corou o espírito do pós guerra via o teatro do absurdo, nos anos de 1950

Victor Nóvoa tem como tema recorrente esse trágico tempo nenhum em que submergimos,  nessa condição humana assolapada por vazios, retalhada por embotamentos, por over doses do não ser, não sentir, não sofrer, não morrer, não concluir. Uma cena melancólica porque resvala no ridículo é a do abraço.

Nóvoa fascina com seus trajetos do macro universo ao micropoético com que por vezes alicerça os delírios de cada personagem.  O árido e o frio do absurdo humano são esmiuçados com poesia que, por mais desértica que seja, incorpora ao texto uma beleza inegável.

Kiko Marques, na direção, mais uma vez decifra o indecifrável com habilidade, potência e decisão. Tanto, que o elenco estertora e renasce à vontade em uma comunhão feliz entre texto, cena e atuação, trilha e luz, significando com exatidão o que deve ser pautado no âmbito desse ser (e não ser) em tempos inenarráveis como os nossos. Gestos, expressões, time perfeitos alçam as falas ao indecifrável e altamente comunicável, ao mesmo tempo.

Enfim, Insones é uma vertigem brilhantemente encenada, um contundente e necessário trabalho.

Beth Brait Alvim

Teatro | De 01 a 23 de agosto 2018

Insones

Direção Kiko Marques

Dramaturgia Victor Nóvoa

Quartas e quintas às 20h | Duração: 55 minutos | Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 5 (Moradores do Bixiga).

14 anos

 

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