Jogando conversa fora

 

Jogando conversa fora

Uma figura, esse tal de Ararigboia. É meu conhecido de muitos anos, aqui nesta cidade. Técnico em eletrônica, já aposentado, além da profissão sempre foi um misto de filósofo e humorista. Papo gostoso. Leve. Inteligente. Capaz de tornar qualquer conversa em um momento muito agradável.
Uma particularidade sobre ele: detesta seu nome, sobretudo pelo “g” mudo acrescentado. Inquirindo os pais sobre isso, a resposta dada foi a de que o “g” mudo confere dignidade e nobreza ao nome. E, na réplica ele argumentou: a palavra insignificância também leva o “g” mudo.
Nosso último encontro foi em maio deste ano, no Mercado Municipal, num sabadão ensolarado. Melhor lugar para jogar conversa fora é impossível.
Aproveitamos o momento para almoçar ali mesmo. Pedimos o popular PF (prato feito), com arroz, feijão, uma mistura e saladinha básica. Comida simples, mas saborosa, bem temperada.
O PF ali na mesa provocou um diálogo sobre as coisas simples e como elas preenchem de alegria os momentos da vida.
Como não poderia deixar de ser, o Ararigboia, em um de seus arroubos filosóficos, passou a discorrer sobre a simplicidade.
Pipocaram, ali, várias ideias interessantes. Uma delas é de que as pessoas desdenham da simplicidade por, equivocadamente, confundirem-na ou relacionarem com pobreza, precariedade e coisas afins. Isso não corresponde à realidade. O simples não é o pouco, ou aquilo que em algo falta. Ele é o essencial, o completo.
De repente o Ararigboia vem com esta: “A simplicidade é a forma mais discreta e bela de sofisticação”.
“Concordo, mas essa frase não é sua. É da Coco Chanel”.
Não se dando por achado, ele disparou esta: “Toda conquista ou descoberta notável tem sua origem na simplicidade de uma ideia”.
“Tudo bem, mas não se trata de alguma novidade. Os exemplos e a realidade comprovam”.
A conversa chegou ao fim. Nos despedimos. Cada um foi para seu lado, mas antes ele me tascou outra filosofada, em forma de conselho: “Tente exercitar a simplicidade de ser quem você é todos os dias”.
Era o Ararigboia sendo o Ararigboia.

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 229 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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