Mais uma São Silvestre vencida!

31/12/2009

Apesar da distância da prova ficar longe dos 42Km de uma maratona, todo corredor urbano tem um  carinho mais do que especial para esta prova tão tradicional. Pode-se dizer que é a Meca dos  corredores brasileiros.
A previsão deste ano era de chuva durante toda a prova, e me preparei para isso, inclusive treinando sob chuva algumas vezes em dezembro, pois já desconfiava que teríamos previsão de mau tempo no dia 31.

Desta vez fui de carro com outros corredores de SJC, os amigos Willians, Magno e Vanderlan. Destes, apenas o último também já tinha participado da São Silvestre anteriormente, como eu. Era visível a ansiedade dos dois estreantes, principalmente no Willians.

Chegamos em São Paulo por volta de 14h, deixamos o carro num estacionamento junto ao Terminal do Tietê e seguimos de metrô para a Paulista (bem mais seguro que deixar o carro na rua…).
Chegamos lá por volta de 14h30, e já se notava um mar de pessoas, de todos os lugares. Nessas horas sempre penso que tenho que arrumar uma camiseta com o nome de SJC escrito nela, pois é muito legal numa reunião de pessoas dos mais diversos logradouros, você poder divulgar qual é a sua origem. Vi pessoas com camisetas de cidades dos estados de RJ, ES, PE, BA, MG, PR, SC, só pra citar algumas, além de inúmeras do interior de SP.
Atletas amadores internacionais eu vi poucos, sendo um equatoriano e um grupo de argentinos. Mas vale lembrar que muitos usam camisetas sem identificação de onde vieram. Destaque também para a beleza de várias atletas do quadro feminino…Paulista alcançada, agora era hora de se preparar corretamente para a prova. Antes dos alongamentos, fomos procurar os guarda-volumes, que desta vez eram feitos em vários caminhões dos Correios, estacionados em fila. Cada um deles se destinava a guardar as mochilas de mil atletas, tendo a numeração impressa em letras grandes do lado de fora. Boa sacada da organização, isso fez que as bolsas fossem achadas muito mais rapidamente do que um único gigantesco guarda-volume como era antes. Por outro lado, antes você recebia sua medalha e logo em seguida pegava a sua mochila no mesmo estacionamento ao lado da Rua Pamplona. Agora tivemos que sair da Pamplona com a medalha e ainda voltar uma boa parte da Paulista atrás dos caminhões. Isso pra quem havia acabado de correr 15Km não foi muito agradável…Mochilas guardadas, fomos “abastecer o tanque” para a corrida, comendo barras de cereais, tomando Gatorade e/ou carboidrato em gel. Menos o Willians, que preferiu comer um sanduíche acompanhado de um refrigerante.

Como havíamos combinado, foi legal ter encontrado no metrô com minha amiga paulistana Iris, que veio ver o início da prova, além de matar as saudades, já que nos vemos pouco.
Como sempre, diversos “atletas” estavam fantasiados, e tinha de tudo mesmo: homem-aranha, Gandi, faraó, “apagão”, zorro, Carmem Miranda, Michael Jackson e até um Fred Flintstone com carro e tudo (!).
Faltando meia-hora para a prova, fomos tomar nosso lugar na largada. Devíamos ter ido antes, pois ficamos muito para trás o que atrapalhou muito no decorrer da prova. Dada a largada, ficamos pelo menos 10 minutos (!!) sem sequer dar um passo, pois era muita gente (21 mil corredores) participando. Depois, quando a São Silvestre realmente começa, quem quer fazer um tempo razoável tem que sair literalmente driblando as pessoas à sua frente.
Era até perigoso ter havido uma colisão, pois eu tinha que ir “costurando” cada vez que via uma brecha, me senti um moto-boy num trânsito engarrafado. As pessoas que correm para chegar em 2h de prova deviam ter o bom senso de já largar atrás, para não atrapalhar quem quer fazer em 1h30. Ou a organização da prova já podia tomar essa iniciativa, separando os amadores em diversos pelotões, de acordo com o tempo que fizeram no ano anterior, como é feito na Maratona Internacional de São Paulo.

Correr mesmo só lá no final da Paulista, quando a parede humana abriu algumas brechas…e ao chegar na descida da Consolação eu soltei o freio e aumentei bem minha velocidade. Isso não é nada aconselhável, pois seus joelhos são muito exigidos nas descidas (resulta num impacto de 4 vezes o peso do atleta, ou seja, eram 240 Kg sobre meus joelhos e tornozelos, a cada passo) mas eu precisava fazê-lo para recuperar um pouco do tempo perdido por ter largado tão atrás.

No Km 3, na Avenida Ipiranga, vi um atleta cair um tombo feio, com certeza causado por uma tentativa de ultrapassagem. Infelizmente todo ano vejo algo assim. Mas ele se levantou e continuou na corrida, ainda bem.
Passando pela avenida São João e ainda um calor de rachar… cadê a tal chuva anunciada?
Nessa hora ela até que seria bem-vinda. Chegamos ao Km 5, no Elevado Costa e Silva, eu esperava ansioso por ele por ser uma subida. Como a maioria diminui o ritmo ali, pude passar muita gente, já que meu forte são as subidas. Mas nada de ultrapassagens fáceis, pois as paredes humanas perduraram por toda a prova. Era preciso ir se desviando dos mais lentos, muitas vezes com pequeninas colisões.

Os postos de água eram um capítulo à parte… os copos de água mineral estavam em boa temperatura dessa vez, não pequei nenhuma água morna como em 2007, mas quase havia “briga” na hora de pegar a água… os atletas se amontoavam nas mesas e era impossível continuar correndo no mesmo ritmo. Numa das vezes tive que ficar trotando no mesmo lugar enquanto não chegava minha vez. Em outra, cedi um dos dois copos que havia pegado para um outro atleta, que não tinha conseguido pegar nenhum.

Memorial da América Latina, já no Km 7, perto da metade da prova. Minha contusão crônica no joelho direito não atrapalhava e a luxação em meu ombro direito doía mas de forma moderada, sem atrapalhar muito. Sim, uma contusão no ombro atrapalha o desempenho num esporte que só usa as pernas…. pois o ombro fica latejando como um coração, e essa dor prejudica a concentração na prova.
Os moradores da rua Turiassú novamente estavam lá munidos de suas mangueiras, molhando os corredores que pediam pelo favor quando passavam. Já virou tradicional quando chegamos nessa rua.
Cheguei na avenida Rio Branco, no Km 10, com um tempo razoável, poucos minutos acima do meu tempo em provas normais de 10Km, o que indicava que eu tinha conseguido descontar bastante do tempo perdido na largada e nas tentativas de ultrapassagens aos mais lentos. Mas mesmo com 2/3 de prova percorridos, ainda não se via pista limpa de forma alguma.
O tempo começou a fechar e o calor deu uma trégua… ótimo para nós!
Vi três corredores de SJC no caminho… duas meninas e um rapaz. Vi também um de Taubaté.

Passando o Viaduto do Chá no Km 12, finalmente a famosa subida da Brigadeiro se aproximava. Ao iniciá-la, vi que meu tempo ia acabar empatando com meu recorde pessoal, então esqueci o cansaço e forcei na subida, ultrapassando muitos corredores (alguns esgotados, apenas caminhando). No meio dos 2 Km de subida meu joelho reclamava e meu ombro mais ainda, mas era olhar para o relógio e manter a subida em ritmo puxado, pois se não baixasse meu tempo depois de chegar tão perto, eu ficaria frustrado.
No Km 14 da Brigadeiro vi uma cena assustadora: um atleta não aguentou e caiu, ficando com os olhos virados e respirando com dificuldade. Ainda bem que foram atendê-lo logo.
Espero que tenha sido apenas um susto para o rapaz. É… a Brigadeiro não é tão mortal como dizem, mas todo ano vejo ela derrubar um ou dois.
Cheguei na Paulista para os últimos metros até a sede da Cásper Líbero inteiro, então dei um sprint final, e já sabendo que conseguiria baixar meu tempo, até fiz pose para um fotógrafo, fazendo o V da vitória com ambas as mãos.
Cheguei com 1h23min, melhorando meu recorde pessoal em mais de 2 minutos, o que me deixou bastante satisfeito. Valeu todo o sacrifício!

É preciso citar que uma das coisas mais legais pra quem corre esta tradicionalíssima prova de rua é a energia que as pessoas que ficam nas calçadas passam aos atletas. É muito legal ver principalmente as crianças estendendo aos mãos para cumprimentar os corredores que vão passando.
Depois de beber água, fui receber minha medalha (muito bonita, a mais legal que já vi da São Silvestre até agora!) e o kit pós-prova (com maçãs, minipão-de-mel, barra de cereais, torradas, microtorrone e Gatorade), e depois fui atrás do guarda-volume pegar minha mochila. Me dirigi então ao metrô Brigadeiro, que era o ponto de encontro com meus amigos. Logo estávamos reunidos, pois todos fizeram bons tempos, pouco acima da casa dos 1h30.

Muita gente já chegava pra festa da virada do ano na Paulista, e o metrô estava lotadíssimo. Chegamos no terminal do Tietê, seguimos para o estacionamento e pegamos a Dutra de volta para SJC, só então vendo sinais da chuva prevista.
Desta vez, São Pedro foi amigo de São Silvestre…
E que venham mais corridas de rua em 2010!

DALTO FIDENCIO
nil satis nisi optimum

“”Sono poeta delle tenebre e della malinconia; ma non piango lacrime, piango poesia!””
DALTO FIDENCIO – E Pluribus Unum

Sobre Quênia Lalita 434 Artigos
Quênia Lalita escreve poesia. É ilustradora, tradutora e faz revisão de textos. E mora em São José dos Campos, SP

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