Mas Chico, não!

 

Mas Chico, não!

Por Paola Domingues

Falem mal de Marias, Josés, Antonios, Pedros, Joãos e Luises, mas Chico não!

É que Chico Buarque de Hollanda é tão irreal que parece ter saído já adulto da cabeça de sua mãe, trazendo nas mãos todos os segredos desvendados da alma da mulher.

O garoto do Brasil completa em 2014 seus 70 bem vividos anose com ele, uma trajetória de vida que se confunde até com a história do nosso país. Isso porque Chico Buarque viu “da janela de casa” as mudanças do Brasil e ainda fez questão de obter registro com papel, caneta e música.

Falo isso porque sou fã de Chico Buarque, não só pelo idealista que é ou pela fama que tem, mas pelo aconchego de suas músicas… Tem dias que acordo Chico! Sento no sofá da minha sala e seleciono alguns álbuns para me fazer companhia e passar o dia comigo, e ali, nos encarregamos (Chico e eu) de refletir sobre as questões da vida, sobre o amor e sobre tantas coisas banais num enlevado ritmo gostoso que parece o balançar da rede.

“É que Chico Buarque toca a alma da gente, chega no íntimo mesmo, sabe? Um trabalho tão perfeito de poesia e música que quem responde é o nosso coração”.

Aí esses dias, ouvindo Sr. Francisco, pus-me a refletir sobre o quão banalizada está essa cultura popular brasileira. Nessa “muvuca técnológica” que andamos vivendo, abrem-se as portas para falarmos e ouvirmos de tudo, e as críticas sobre a cultura “lixo”, manifestações “sem futuro” e poetas “sem razão” explodem dia após dias nas redes sociais.

É que hoje há tanta informação pulverizada que não há meios de centralizar. As opiniões são compartilhadas como o autor bem entende – e as vezes mal entende – e já não dá pra acreditar se aquele velho diabo é um artista ou não passa de um velho bêbado.

Não venho aqui só pra defender Chico, mas tantos outros artistas que são diariamente alvos de críticas maldosas por um comportamento ou atitude, e esquecem de avaliar de fato, o artista e sua obra. Chegamos a um ponto onde a informação é gratuita e não-seletiva, onde expressar-se sem tomar o cuidado com o sentimento do próximo tornou-se comum. É deixar o artista entre e “cruz e a caldeirinha”, colocado em prática real a expressão de “o preço da fama”, ferindo até mesmo as boas práticas do respeito e do bom senso.

Ora, posso estar sendo incoerente em também “subir na mesa” e opinar, mas como podem falar mal de Chico Buarque, de Caetano, de Gal Costa, Maria Bethânia e tantos outros? Ícones que moldaram nossas movimentações musicais, influência em nossa cultura e ritmo. Estamos a falar de pessoas que ao longo desses 50 anos mudaram a cara do nosso Brasil!!!

Não julgaria além nem aquém aqueles que os criticam, mas há uma indecência nas palavras rebuscadas e de tratamento chulo que eu não poderia deixar de observar.

É a democracia e a liberdade de expressão sendo vulgarmente utilizadas nessa muvuca tecnológica, e que anda tão vulgarmente utilizada que acredito já ter perdido seu efeito, como aquele que “cão que muito ladra, mas não morde”.

Aos simpatizantes de Chico Buarque uma novidade: O lançamento do filme Chico: Artista e o tempo, que o Diretor Miguel Faria Jr. promete lançar ainda este ano. Uma oportunidade ímpar de nos aproximarmos da intimidade deste artista e ate mesmo, de opinar, com mais propriedade sobre ele.

 E a Chico Buarque, com meu profundo respeito se me permite dizê-lo: Bocas cheias e corações vazios estão aos muitos por aí! Preserve-se assim, boca vazia e coração cheio!

Esse texto foi publicado na Revista Entrementes 0:

Para ler a Revista completa:

 

2017

Sobre Quênia Lalita 434 Artigos
Quênia Lalita escreve poesia. É ilustradora, tradutora e faz revisão de textos. E mora em São José dos Campos, SP

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