O duende ruivo e o dragão

O duende ruivo e o dragão

Era uma vez um duende que tinha barbas e cabelos ruivos, e também era muito mal e ganancioso, chamado Hagrid Magnus. Esse duende vivia em uma toca muito funda que ficava perto de uma montanha. Nessa montanha, por pura coincidência, vivia um dragão de linhagem nobre, que era muito malandro, e todos os dragões diziam entre si que ele era o mais grande do seu tempo, e que também era o mais ávido por possuir riquezas.

Esse dragão se chamava Neville Régus. Ele tinha as escamas esverdeadas como o lodo, e dois par de chifres ao lado de sua testa semelhante a um touro. Neville gostava de sair da sua caverna no tempo mais quente do verão e abrir sua imensa boca, incendiando qualquer floresta que avistasse enquanto estivesse voando com suas duas asas pelo céu.

Diferente do dragão Neville, o duende Hagrid só saia para fora da sua toca quando seu mapa-mágico, herança de seu pai, mostrava para ele os locais onde pessoas viajando com riquezas estavam passando na estrada. Como ele era um duende versado em magia e possuía uma varinha mágica capaz de lançar vários feitiços de confusão, Hagrid confundia qualquer viajante que estava levando ouro ou prata em suas bolsas ou bolsos, e depois de hipnotizar com encantos tal pessoa sacudindo sua varinha mágica, o duende retirava dela o objeto de riqueza e voltava correndo para sua toca, onde se regozijava com muitas risadas da sua astucia.

O que o duende Hagrid não imaginava é que certa manhã, depois de roubar um conselheiro de um rei muito famoso daquelas bandas, ele estava sendo observado pelo dragão Neville que estava dormindo na frente de sua caverna, e como todos sabem os dragões dormem com um olho aberto, o que possibilita para eles verem a chegada de qualquer guerreiro que se aproxime com espada e escudo para um duelo.

“Tenho certeza que esse duende malandrinho deve ter muito ouro naquela toca de coelho onde ele se esconde”, pensou o dragão Neville, coçando o queixo e esfregando as garras imaginando o tanto de riqueza que o duende poderia ter ali, já que todos nós sabemos (imaginem os dragões!) que os duendes são mestres em conseguir riquezas em qualquer lugar onde se encontram. “Acho que vou tentar enganar esse duende e pegar sua riqueza para mim.”

Então o dragão levantou voo e foi atrás de um velho amigo que ele tinha e que morava do outro lado do Rio Braduin. Esse amigo era um mago que não chegava a ser maldoso, mas devia muitos favores para o dragão.

O nome dele era Lorion, e ele tinha barbas muito compridas e brancas. Lorion entregou ao dragão uma falsa pedra vermelha e disse para ele: “Essa é uma réplica da pedra filosofal. A famosa pedra que sempre seduziu os alquimistas dos dias antigos, quando os gigantes e os dragões eram os verdadeiros governantes deste mundo. Você sabe Neville que o desejo de todos os duendes desde o princípio dos tempos, quando os animais falavam e as árvores andavam, é possuírem a pedra filosofal, já que essa pedra é capaz de transformar qualquer coisa em ouro, ou prata, ou esmeralda, ou qualquer coisa de valor que possa seduzir os olhos.”

Então, segurando a pedra, o dragão Neville correu para espiar o duende, e como conseguiu observar o dia-a-dia deste, o dragão fingiu um encontro inesperado pela estrada, quando o duende estava levando um saco cheio de ouro para tomar um ar-fresco (pois os duendes acreditam que o ouro precisa disso para se tornar mais brilhante).

“Bom dia senhor Duende.”, disse o dragão com certo ar de inocência. “Vejo que está passeando pela estrada nesse dia quente. Sente-se aqui comigo, perto do lago, vamos conversar um pouco”.

“Estou sem tempo para conversar com dragões hoje, meu caro”, respondeu o duende de mau-humor.
“Aliás, por muitas eras que não me aparece um dragão por essas bandas. Não te conheço. Ou pelo menos, não me lembro de você”.

“Eu me chamo Neville. Neville Régus”, respondeu o dragão com um sorriso no rosto. “Sou da nobre família Régus. Viemos do Norte frio em busca de terras ensolaradas. Eu moro perto da montanha que vai em direção ao Leste. Ali tem uma caverna quente onde eu deito por dias, até sair por aí”.

“Tem um dragão morando perto da minha toca e eu não sabia disso”, pensou o duende em silêncio. “Isso pode ser perigoso”.

Dragões sempre são capazes de adivinhar os pensamentos de algumas pessoas, principalmente as que são atraídas pela riqueza sem limites. Por isso ele percebeu que o desejo do duende era pegar sua varinha e se tornar invisível e correr o máximo que pudesse antes de entrar por alguma porta secreta em sua toca e passar anos e anos trancafiado até se aventurar para roubar ouro de outras pessoas novamente. Quando Hagrid ia fazer exatamente isso, o dragão segurou a falsa pedra filosofal contra a luz do sol. A pedra imitiu um brilho vermelho intenso. O coração do duende se encheu de desejos por ela. Sem demonstrar isso, ele colocou de volta a varinha mágica no bolso, e com um gesto de reverencia se apresentou.

“Desculpe, meu caro dragão, por eu não ter me apresentado primeiro. Eu me chamo Hagrid. Hagrid Magnus. Sou o ancestral direto de Henri Magnus e Tamarila Magnus. Por acaso eles fundaram algumas casas de ouro junto de alguns dragões. Me desculpe, meu caro Neville, essa pedra que está na sua mão por acaso não é a pedra filosofal?”
O dragão ria por dentro, sabendo justamente que a intenção do duende era roubar a pedra dele no exato momento em que ele a viu. Só que o dragão sabia muito bem que o duende Hagrid mesmo possuindo uma varinha de encantamentos, nenhum poderia ser lançado contra o dragão, pois os dragões não são facilmente enfeitiçados. Ou até mesmo destruídos.

“SIM, meu caro Hagrid”, respondeu o dragão. “É a pedra filosofal. A única pedra filosofal existente nesse mundo cruel e triste. Recebi ela das mãos de Hesper Chitock, uma bruxa que vaga pelas florestas enfeitiçando qualquer um que possa encontrar. Você sabe, ela gostou de mim e passamos a noite juntos. E então de manhã ela me entregou essa bela pedra, que tudo transforma em ouro. E eu gosto de ouro, sabe meu caro duende?”

“Claro que sei”, disse Hagrid. “Eu também tenho encantos pelo precioso metal. Veja, meu caro dragão, não gostaria de me vender essa pedra filosofal por esse saco de ouro?”

“Agradeço sua oferta meu bondoso duende. Ela não está a venda. Uns trasgos montanheses me ofereceram o dobro desse saco cheio de ouro e eu não vendi a eles. Não venderei essa pedra nunca. Ela sempre me servira. É a única que existe no mundo. Você com toda certeza me entende, não é, meu caro duende?”

“Claro, claro”, respondeu Hagrid, já desejando roubar a falsa pedra filosofal de alguma maneira. “Eu entendo muito bem, meu caro dragão. Meu bisavó tinha uma espada feita de rubis que até hoje está na posse de nossa família. Nós Magnus somos duendes muito ricos.”

“Eu imagino”, disse Neville, fingindo se distrair no lago, colocando a pedra do lado direito, colocando o foucinho na água, sabendo exatamente o que iria acontecer.

O duende ao ver a falsa pedra filosofal ali ao lado do dragão enche seu coração de desejo para possuir ela e poder transformar qualquer objeto em ouro pelo resto de sua vida. Quando o dragão fingiu estar se distraindo no lago, Hagrid agarrou a pedra e saiu correndo procurando a porta de sua toca. Só que o maldoso duende não sabe que o mago Lorion enfeitiçou a falsa pedra filosofal de uma magia antiga, fazendo que qualquer pessoa que não fosse o dragão Neville que a tocasse fosse transformada em pedra instantaneamente.

Assim, Hagrid foi transformado em uma bela estátua de duende bem na frente de sua toca, onde ele serviu para o resto da vida sendo poleiro de passarinhos que não tem medo de chegar perto da cara feia do duende.

O dragão Neville após assistir essa cena gargalhando sem parar, foi até o duende transformado em pedra, achou a varinha mágica de Hagrid caída no chão. Pegando a varinha mágica do duende, Neville abriu a porta da toca onde ele morava, pegou todo ouro, prata, todo objeto de valor que conseguiu encontrar lá dentro, e saiu, levando embora todas as coisas para a sua caverna na montanha, onde ele fez um montão de ouro e deitou em cima, repousando feliz por ter conseguindo roubar a riqueza que era do duende.

Gabriel Limão Macabeu

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