O homem agarrado à corda

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O homem agarrado à corda

“Nenhum problema pode ser resolvido

pelo mesmo estado de consciência que o criou”.

Albert Einstein

 

Quando sentíamos um grande alívio pelo arrefecimento da pandemia, eis um inesperado conflito na Europa. Mais uma vez fomos lançados no campo das incertezas. Se o Covid colocou a economia mundial de cabeça para baixo, o que poderá acontecer agora?

Antes, o risco era um vírus mortal; agora uma guerra de consequências imprevisíveis. As duas nações envolvidas possuem arsenais nucleares. Se disparados, o conflito pode se generalizar.

Tanta incerteza gera insegurança, que gera perguntas que, sem respostas, geram mais incertezas, que geram insegurança. Um círculo vicioso.

Até 2019, apesar das crises, havia um certo espaço para a previsibilidade a curto e médio prazo, porque teorias, fundamentos científicos e crenças lhe davam suporte. Agora, tudo isso e areia movediça têm o mesmo significado.

Mas, há quem não dispense essas muletas. Uma mente apegada a suas convicções é como um homem agarrado a uma corda. Ele tenta preservar sua vida. Seus pais, seus professores e amigos, todos à sua volta, fazem o mesmo. É um padrão de comportamento. Ele não consegue entender que ela lhe oferece uma segurança ilusória e apenas o mantem no mesmo lugar.

Um sábio se aproxima e tenta convencê-lo da inutilidade da corda. Diz-lhe que pode provar tudo isso. Basta-lhe soltar um dedo da corda.

Um dedo para o homem não é muito, e ele resolve arriscar-se. O sábio o incentiva a soltar o segundo dedo. Meio ressabiado, acaba desapegando o segundo e percebe que nada lhe aconteceu.

“Solte o terceiro dedo”, pede-lhe o sábio. Relutante, o homem solta mais um dedo. “Percebo a mente bloqueando sua coragem”, diz-lhe o sábio, “porque vai contra tudo o que aprendeste até agora”. “Libere o quarto dedo”. E ele o faz, num arroubo de coragem.

“Falta apenas um. Solte-o. Liberte-se de seus medos, abra sua mente, não tema correr o risco”.

Confiando em sua voz interna, ela solta o último dedo, e nada lhe acontece. Ele fica exatamente onde estava. Percebe, então, que estava com os pés no chão o tempo todo. E, ao saber que nunca mais seria necessário agarrar-se à corda, finalmente encontra a verdadeira paz de espírito.

A contingência de enfrentar as incertezas pode desempenhar um papel fundamental na nossa libertação interior. A maioria das pessoas tem dificuldades em lidar com a insegurança, pela necessidade de certezas de como as coisas poderiam ser ou deixar de ser.

Não existe nenhum tipo de segurança externa. A estabilidade interior é um caminho a ser conquistado. Essa parece ser uma das mensagens que estes tempos turbulentos querem nos transmitir.

 

Por Gilberto Silos

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Sobre Gilberto Silos 229 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

2 Comentários

  1. Nos transmite a verdadeira segurança em acreditar em si mesmo, todo o poder vem da nossa segurança e acreditar em nos mesmo. Belo texto

  2. A liberdade vem antes do prato de comida, pra mim, é claro!
    O meu sonho de liberdade é intenso, gosto de me sentir livre, mesmo sabendo que dentro da imensidão do Universo, estamos presos às Leis.
    Texto maravilhoso, Gilberto!
    Abraço!

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