O olhar internamente por Alexandre Lúcio Fernandes

 

O olhar internamente

por Alexandre Lúcio Fernandes

Diante do espelho, quem a gente enxerga? Quem nós percebemos? O que o rosto traz de ontem que transita em nossas feições e define o que nos faz? O agora é o que se transformou e enrijeceu o zelo que a alma tanto batalhou diariamente. Embrulhamos tantos sonhos e guardamos tantas memórias em gavetas. Tanto que ocasionamos esquecimentos sutis. Mas é o caos que nos alimenta, essa loucura que vai e vem, que repercute nossas emblemáticas deduções. Às vezes não notamos essa profundidade exaltada em nossas texturas escondidas pelo tempo.

O que já fomos um dia, encontra-se entranhada na pele, cravado na alma. O agora é uma resposta dessa mutação decorrente de nossa condição humana. O tempo tem um efeito em nossos trejeitos, nas nossas frestas internas. Sofremos inconstantes reflorescimentos, todavia, é essa transfusão que a vida ocasiona na gente, que nos torna tão orgânicos. O humano cresce e decresce internamente; mas só morre externamente. A genética não acompanha o espírito, pois o material é uma fissura que, mais dia ou menos dia, se rompe. A alma, por outro lado, se imortaliza mais enquanto o tempo flui.

O que somos quando pensamos em ser? O que acontece quando avistamos a pele? Pesamos tudo numa balança imaginária. Colhemos reflexões de condições em que a vida nos coloca, como um confronto entre humano e espírito. É quase sutil essa capacidade de nos analisarmos constantemente. Mas é esse procedimento que nos permite conhecer o mais profundo de nós. Afinal, quem enxergamos diante de nossos reflexos? Esse encontro acontece de forma diferente todo dia. E todo dia, aprendemos um olhar distinto sobre nós.

Esse aceno com o que nos tornou é uma maneira da alma vislumbrar o que seremos. Essa arte de se olhar, de conduzir nosso legado e nossa memória, nossas experiências, é o caminho que se tem para tecermos um futuro próspero. O olhar internamente é o semeio da alma; é um ato em que germinamos toda a nossa história, na intenção de constantemente florescermos melhores. A gente começa a crescer quando entende os questionamentos quase inconscientes que fazemos diante do espelho. Amanhã, quem queremos enxergar? Quem queremos ser um dia?

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