Os Desenhistas Brasileiros

Os Desenhistas Brasileiros

Na edição da Folha da Noite de 24 de agosto de 1955, Zé Marmiteiro comenta o aumento do preço do pão, a escassez da farinha de trigo em São Paulo e o constante medo do comunismo russo. Fonte:  https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/nova/

Por Jorge Hata

O Brasil possui também uma plêiade de excelentes e excepcionais desenhistas (capazes de criar personagens polarizadores da opinião nacional como “O Amigo da Onça” de Péricles, “Juca Pato ” de Belmonte e “Zé Marmiteiro” de Nelo), todos apaixonados pelo gênero de quadrinhos, geração formada, lendo revistas de histórias em quadrinhos. Alguns morreram,outros passaram para a publicidade, para o cartoon, para a televisão, cinema, ilustração de livros, pintura, magistério, edição, literatura, imprensa, para todos setores de comunicações, enfim, menos para os quadrinhos. Raríssimas exceções fracassaram. Até as de maior sucesso, como o “Pererê”, de Ziraldo, em 1.959. Algumas merecem registro, Chiquinho, sempre foi considerado personagem nacional, a maioria ignorando que se tratava de Buster Brown. Nos princípios do Tico-Tico, os desenhistas, em sua maioria copiavam material estrangeiro, com pequenas modificações. Mas alguns já eram criativos, J.Carlos, um dos maiores desenhistas que o país já teve, participou dos inícios do Suplemento em 34 e do começo do Tico-Tico (de 1.905 a 1.907 e depois como diretor de arte da editora “O Malho, incluindo a revistinha da casa, de 1.922 até 1.938), onde criou, entre outras, as façanhas de uma empregadinha doméstica pretinha: Lamparina. K. Ximbown, de Max Yantok, em 1.928, era uma série que lembrava Caran DÁche, pela sua qualidade. Ainda no Tico-Tico, Oswaldo Storni acerta com Zé Macaco e Faustina (lembrando Yara Sales e Lamartine Babo) e mais tarde, Luis de Sá conhece o sucesso com Réco-Réco, Bolão e Azeitona.

Diversos artistas experimentaram o gênero querido por todos eles, como Theo (com Tinoco, caçador de feras), Belmonte em incursões rápidas ou duradouras como “Pernambuco”, o marujo, de Osvaldo Storni no Tico-Tico. Sob o pseudônimo de A.Ericson, o falecido intelectual Carlos A. Thiré, posteriormente diretor de cinema,iniciou-se no Suplemento com “O Gavião de Riff” e depois fez,além de outras histórias, “Raffles e Três Legionários de Sorte”, que chegou a ser editado em album. Antonio Eusébio, Celso Barroso, Rodolfo Iltzche, Sálvio, Alcyro Dutra, Mario Jacy, Milton Casério, Mario Pacheco, Luis Fontes, Helio Queiroz, Renato Lima, Humberto Barreiros, Ilden Moreira, trabalhando para Aizen nos tempos do Suplemento e Mirim, ilustraram muita coisa, inclusive vidas ilustres de personalidades históricas do Brasil. José Geraldo teve uma ´produção grande até na Edição Maravilhosa. A Garra Cinzenta foi publicada na Gazetinha em 1.937, com invulgar receptividade, refletindo-se no México, Editorial Sayrols e em 1.939 no Jornal Spirou, cobrindo a Bélgica e França, através da Maison Deditions J. Dupuis, onde foi republicada. O texto era do jornalista Francisco Armond e os desenhos de Renato Silva. Também na Gazetinha, Messias de Mello desenhou Audaz, o Demolidor, além de inúmeras outras criações como “Pão Duro”. “Dick Peter”, criação de Jerônimo Monteiro, sob o pseudônimo de Ronnie Wells, saiu em tiras diárias no Diário da Noite, de São Paulo, desenhado por Abilio Corrêa em 1.947.

O Café Jardim, anteriormente, em época memorável, com repercussão invulgar, distribuiu nos seus pacotes, as figurinhas coloridas (sequências que formavam um álbum completo em quadrinhos, dando direito a trocas pelos livros da coleção Terramarear), desenhadas por Sigis (Sigismundo Walpeteris). Em agosto de 1.952, Cortez tentou com a editora La Selva, Dick Peter em gibis, histórias completas. Fernando Dias da Silva, que fez as “Minas do Rei Salomão” em cores para o Mundo Ilustrado, começou vencendo um concurso no Suplemento, onde foi premiado. Joselito teve uma produção prolífica em Vida Juvenil e Vida Infantil, o mesmo acontecendo com José Geraldo, que trabalhou para a EBAL na Edição Maravilhosa, ilustrando inclusive, “Os Sertões ” de Euclides da Cunha. No Sesinho (do Serviço Social da Industria), começou um desenhista que assinava Ricardo Forte, que é nada menos que o cartunista Fortuna. Também no Sesinho trabalhava Gil Brandão que editava o semanário “Gil Modas”, mostrando o seu traço elegante, formado pelos quadrinhos “Morena Flor” em 1.947, foi escrita e desenhada por André Le Blanc, haitiano, educado nos Estados Unidos, radicado no Brasil, que ilustrou os livros de Monteiro Lobato para a Brasiliense. Quadrinizou toda a obra de José Lins do Rego e obras de José de Alencar. Dinah Silveira de Queiroz, Herberto Salles e Maria José Dupré para a Edição Maravilhosa de Aizen. Fez uma das únicas experiências no Brasil de distribuição de uma historieta nos padrões de syndicates americanos, com a tira diária “Morena Flor” concebida e realizada no Brasil, e distribuída na Argentina, Chile, e até nos Estados Unidos.

Le Blanc inaugurou a série da Edição Maravilhosa, em 1.949, com o “Guarani” de José de Alencar em aguada. Antes disso, o romance entre Peri e Ceci fora ilustrado por F. Acquarone, para um álbum editado pelo Correio Universal, todo copiado de posições de Alex Raymond. Em dezembro de 1.947, Jayme Cortez Martins, recém-chegado de Portugal, fez a mesma obra em tiras diárias para o vespertino Diário da Noite. A última versão conhecida desse romance é um trabalho de Edmundo Rodrigues. José Lancellotti, numa fase nacionalista fez, Raimundo, o Cangaceiro. Guilherme Walpeteris, tal como seu irmão mais velho, Sigis, tentou os quadrinhos também na Gazeta. Manoel Victor Filho trabalhou diversas versões em quadrinhos. Uma delas, de um romance de seu pai sobre Zumbi (Ganga Zumba), para a Edição Maravilhosa, além de Capitão Tarumã, para Barbosa Lessa. Praticamente, toda a literatura brasileira foi publicada na coleção de Adolfo Aizen, Edição Maravilhosa na fase da EBAL, iniciando-se em 1.949, com capas de Antonio Eusébio, contando com a colaboração de inúmeros ilustradores brasileiros ou estrangeiros aqui radicados. Ramon Hampayas, Gutemberg Monteiro, Gil Coimbra, José Geraldo, Nico Rosso, Rodolfo Iltzche, Aylton Thomás, Juarez Odilon, Marcelo Monteiro (filho de Monteiro Filho), Até a História do Brasil (que teve inúmeras versões) foi especialmente escrita pelo acadêmico Gustavo Barroso em trabalho e ilustrações primorosas.

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