Pele Negra, máscara de Super-herói…

Pele Negra, Máscara de Super-herói (Referência ao livro Pele Negra, máscara branca de Frantz Fanon.)

Ao som do ilustre Curtis Mayfield começo esse texto, hoje, inspirado pelo quadrinho “Ultimate Spider Man”, gostaria de realizar uma discussão acerca da imagem que foi construída para o cidadão afro-americano nos quadrinhos de heróis e super-heróis.

Como já afirmei anteriormente, os quadrinhos, assim como as demais manifestações artísticas presentes na sociedade são influenciados pelo seu “tempo histórico”, ou seja, os quadrinhos são reflexos da própria conjuntura histórica onde o mesmo se inseri, por isso, podemos dizer que o Batman representa o espírito da “depressão” americana, causada pelo crack da bolsa e pelos consequentes problemas econômicos e sociais que varreram os EUA, como também podemos perceber no Capitão América o espírito da vontade americana de vencer o inimigo fascista. Cientes dessa conexão entre a conjuntura e o tempo, pode-se afirmar que os próprios estereótipos representados pelos quadrinhos de certos “tipos sociais” se transformam no decorrer do tempo.

Refletindo o profundo preconceito racial das primeiras décadas do século XX, a imagem do negro nos quadrinhos era, quando presente, uma visão idealizada do que era um negro na concepção branca da época, lábios grossos e caricaturados, péssimo uso da língua inglesa e inteligência no mínimo limitada, ou seja, uma visão completamente distorcida pelos valores sociais das classes mais abastadas. Vale lembrar que neste contexto, a eugenia, ciência que pretendia descrever as características do homem através de sua constituição física, afirmava ser o negro uma “espécie” humana inferior, fazendo com que a própria ciência, usando se dos paradigmas científicos do darwinismo, afirmasse uma verdade falsa. Dessa forma o uso dos personagens negros na época se restringia a coadjuvantes, ou personagens secundários de cunho humorístico.

Com o avanço dos movimentos anti-racistas nos EUA na década de 60 e a explosão da cultura negra na década de 70, com movimentos como o “blaxploitation”, os quadrinhos, influenciados pela contracultura e pelos ideias anti-racistas passaram a empregar uma imagem mais verossímil dos personagens negros, chegando até a criar personagens centrais negros, como Luke Cage(1972 – com um visual inspirado nos personagens dos filmes da blaxploitation) e o Pantera Negro (1966), mesmo assim, por vezes essas imagens ainda carregava subjetivamente preconceitos raciais e sociais acerca da condição do negro.

Atualmente, refletindo os avanços da própria situação dos negros nos EUA, nos aspectos sócias, políticos, econômicos, etc, os quadrinhos aos poucos vai incorporando a seus roteiros o dilema do “ser” negro numa sociedade “Branca”. Dando destaque aos personagens pertencentes a minorias (étnicas, mas também sexuais) os quadrinhos se tornaram importantes relatos desse panorama.

Mais recentemente, no “Universo Ultimate” (universo paralelo onde as histórias dos super-heróis da Marvel foram recontadas tendo como contexto o século XXI), o personagem Peter Parker (o Homem-Aranha) morreu num incidente, em seu lugar, assume o posto o personagem Miles Morales, filho de um pai afro-descendente com uma latino americana, ao ser picado por uma aranha alterada geneticamente adquiri poderes aracnídeos. A repercussão dessa história do roteirista Brian Michael Bendis, responsável por arcos como, Guerra Civil, Alias, Reinado Sombrio, Pulse, etc, foi enorme, a direita conservadora americana desgastada pela administração Bush e indignada com a administração Obama, fez declarações radicais do novo Homem-Aranha, símbolos da ala conservadora americana como o apresentador de T.V Grenn Beck manifestaram em público sua opinião sobre o caso, afirmando que o quadrinho do Homem-Aranha, fazia parte da “conspiração Obama” para mudar os valores tradicionais dos americanos e ainda afirmou:

“Esse Homem-Aranha é meio-latino, meio-negro. Não estou nem aí se é meio-latino, inteiro-latino, meio-negro, todo-negro, sei lá… Não me interessa, não me interessa mesmo. Meio gay, todo gay, não me interessa. Não me interessa! É um gibi imbecil” (BECK, Grenn)

2018

 

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