Re-evolução?

A Liberdade Guiando o Povo, de Delacroix

Re-evolução?

Meu coração está tão pequeno, doído e pesado diante de tanta escuridão. Escuridão essa, que veio vindo quase desacreditada, como fosse impossível se instaurar, mas ela se instaurou, de uma forma tão surreal quanto a nossa credibilidade.
Vivíamos tão felizes na luz, mesmo diáfana ou em meia luz. Havia certa alegria, um sentimento fugaz de felicidade, mas agora o bicho pegou. Em meio a muitos monstros, estamos com os olhos vendados, apalpando a escuridão. Estamos vendados ou vendidos?  Sim, estamos na escuridão por escolha. Uma escolha não genuína, mal feita, uma imposição sutil do nosso sistema atual em que as coisas mudaram, o jogo é outro. Um jogo cruel, desumano, onde ninguém ganha, a não ser o deus do momento: MAMON!  Trocando em miúdos, o deus mercado, o sistema financeiro, o dinheiro. Os seres humanos não estão ganhando, mesmo os que servem a Mamon.


Tudo na contramão daquilo que acreditávamos que eram regras naturais. No final das contas, no campo das boas ideias, estamos voltando aos anos 70 e 80. Começamos a re-pensar sobre direitos, deveres, livre expressão, liberdade de ir e vir, democracia, sociedade, igualdade, justiça, classe social, etc. Enfim, estamos re-pensando aquilo que não foi pensado direito. Alguma coisa deu ruim, alguma coisa não está bem, alguma coisa está podre nesse reino das bananas. E no campo da más ideias, estamos voltando à Idade Média. Os valores estão se valorizando, porque os estamos perdendo. E ao perder, aprendemos a valorizar e entender como foi todo o processo. Nossa ficha está caindo?
A grande máxima da Revolução Francesa “Liberdade, igualdade e fraternidade”, voltou a pisar nesse palco, de forma nítida, como se nunca tivéssemos sabido dela. Agora ela tornou-se real em nossas mentes e corações. Apesar das ideias rebrotando, continuamos anestesiados, sem nenhuma ação concreta. Penso que pode ser o choque, mas também acredito, que algo novo surgirá, como “aquele índio” do Caetano.
A ignorância e sua irmã gêmea, a escuridão, estão no comando. Como tudo no Universo é dual, nesse momento a Luz do Conhecimento também está surgindo, tão impactante quanto a sua contraparte.
Estamos definindo, delineando e filtrando melhor; agora sabemos o que está acontecendo e como combater, mas continuamos inertes, parados, assustados, pegos de surpresa.

Obra de Steve Cutts

Vamos acordar e sair dessa matrix? Será que só agora, quase vinte anos depois, vamos entender na real, aquele trilogia da Matrix? Temos aí no nosso tempo, os filmes de zumbis, temos uma arte tão esclarecedora como a de Steve Cutts, temos a luta silenciosa de pessoas que querem ajudar nosso mundo, através de vazamentos de informações relevantes para o nosso melhor entendimento dessa teia…E tantas outras coisas boas que podemos lançar mão como armas de combate contra a ignorância, escuridão e Mamon. Ainda temos uma chance, vamos aproveitar o momento e como diz Gilberto Silos, “não percamos a esperança” –  “Carpe Diem”.
Enfim, mesmo triste e com o coração apertado, ainda acredito que esse é um grande momento para usarmos tudo aquilo que tínhamos como teoria, como estudo, como poesia concreta. Vamos à Luta!

Elizabeth de Souza

Um índio
Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul
Na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias
Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá
Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor
Em gesto, em cheiro, em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto-sim resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará
Não sei dizer assim de um modo explícito
Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio.
Compositores: Caetano Emmanuel Viana Teles Veloso
Sobre Elizabeth Souza 406 Artigos
Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

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