Eu queria te ver nu,
eu queria te ouvir gritar
queria beijar sua pele,
beijar tudo que é seu
Eu queria ser sua mulher
Eu queria ser seu homem
Queria ser a pessoa
que você poderia entender
– trecho traduzido da canção Vampire Empire*
quando a música começou a tocar
eu soube, de imediato
meu amor por você ainda é maior
do que o rancor que tanto hidrato
porque cheira a carne podre aqui dentro
enquanto encaro uma pilha de coisas sujas, a mofar
é como se eu vivesse um dia de verão sem fim
ouço estrondos no meu ringue de luta livre particular
onde o suor faz minhas marcas de nascença arderem
sua eletricidade já distante dessa libido cansada
o próprio sol engana minhas emoções genuínas;
só assim pra eu não acabar dormindo na calçada
então, no meio do caos desesperado
me lembro de seus olhos brilhando em maresia
e de como eles me consumiam num único gole,
me desmascarando em plena luz do dia
ao fundo, talvez você acabe ouvindo, sem querer
minha virilha e minha intuição brigando até morrer
o desejo de ambas equivale ao nosso, antigamente
sempre que nos deitávamos juntos pra desaparecer
por ora, não sei como enterrar as lembranças
desculpe se não sei como poderia te ajudar
só deixo a música tocando, pois ela não se cansa
e adormeço num rio de sonhos que continua a duvidar
Quênia Lalita Março/2024
*composta pela banda Big Thief:
poema original em inglês
Que poema lindo!
Ficou perfeito…forma e conteúdo na medida certa da dualidade.
Parabéns!
foi um dos poemas mais difíceis, emocionalmente, que já escrevi na vida – então muito obrigada pelo feedback, Beth!
De tantos poemas que lemos todos os dias, este me causou um impacto. Comecei a ler no Facebook, liguei o computador e vim aqui me manifestar. Poucas coisas que lemos parecem ter uma originalidade como este seu poema. Espero que venham mais e mais.
poxa, Joka, fiquei até sem palavras aqui haha
agradeço, de coração, pelo comentário e vou tentar postar mais! 🙂