São José, 44 anos depois

Banhado de SJC – Elizabeth de Souza

SÃO JOSÉ, 44 ANOS DEPOIS

Vim parar em São José dos Campos em 1974, fugindo da poluição e do ritmo trepidante de São Paulo. No início estranhei um pouco. Perguntava-me que milagre era aquele que conciliava indústria e tecnologia de ponta com o jeitão provinciano do joseense. As grandes multinacionais ao longo da Dutra revelavam um município progressista, humanizado por uma mineirice aconchegante.
Para me integrar aos novos ares procurei fazer coisas que o joseense comum fazia. Comecei por adotar o E.C. São José como meu segundo clube do coração. O primeiro sempre foi o Corinthians.
Estranhei a falta de eventos culturais e de opções de lazer. Explicaram-me que o prefeito de então extinguira o Departamento de Cultura do Município e a Escola de Belas Artes. Vivíamos os tempos do chamado “milagre econômico”; cultura não constava da pauta de prioridades.
Mesmo assim, vez por outra era possível assistir alguma apresentação artística na Sala Veloso e os cines Paratodos, Palácio e Santana eram uma opção de entretenimento.
Tentaram, na base da canetada, apagar alguns traços do que chamavam de provincianismo. Assim, proibiram o “footing” na Rua Quinze, aos domingos à noite, e a ornamentação de algumas ruas centrais no feriado de Corpus Christi.
A cidade passava por transformações radicais. Entre 1970 e 1980 a população do município quase dobrou. São José ainda não dispunha de estrutura adequada para receber aquele contingente. O crescimento desordenado trouxe problemas ambientais, como a poluição do ar e a contaminação das águas dos córregos e do Rio Paraíba. A ocupação do espaço urbano resultou em perda crescente de áreas verdes.
Como já sopravam os ventos da redemocratização do país, surgiram os movimentos ambientalistas protestando contra aquela situação. Ao mesmo tempo, despontava na cidade um movimento cultural. A criação da Fundação Cultural Cassiano Ricardo foi um marco desse renascimento.
Movimentos independentes como a Rádio Aguapé e os Celebreiros da Poesia ocupavam as praças nos fins de semana, tornando-as espaços públicos de livre manifestação cultural. Ali, poetas, músicos, atores, artistas plásticos expunham seus trabalhos.
Muita coisa aconteceu nesses 44 anos. Indústrias de grande porte, migraram para outras bandas, em busca de maiores vantagens. Comércio e serviços passaram a ser os grandes geradores de renda e emprego.
A cidade, hoje, é uma moderna e pequena metrópole com mais de 700 mil habitantes. Oferece atrativos, como shoppings centers, universidades, parques bem arborizados, centros poliesportivos, museus , centros culturais como o Sesc, o Parque Vicentina Aranha e a Fundação Cultural
Cassiano Ricardo. Ao mesmo tempo, convive com problemas – um passivo social – que há muito tempo desafiam seus administradores.
Adotei São José como minha terra de coração e acredito que a recíproca é verdadeira. Aqui nasceram minha filha caçula e meus três netos. É a minha São José dos Campos, dos encantos e também dos sonhos . Nela vou tocando em frente, e Ando devagar porque já tive pressa E levo esse sorriso porque já chorei demais.
Cada um de nós compõe a sua história, E cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz.

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 190 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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