São Silvestre – Corrida Internacional

31-12-2016

92ª Corrida de São Silvestre – 2016

Último dia do ano é também dia da última corrida do ano para os amantes de corridas de rua! Sim, estou me referindo a Corrida Internacional de São Silvestre!
E como já se tornou tradição para mim, lá estava eu ainda com o sol por nascer rumando para a capital paulista para mais uma participação na mais tradicional corrida pedestre do país… para estar presente pela nona vez!
Desde que a prova tinha passado a ser de manhã que a largada era em clima ameno, tranquilo… mas este ano foi diferente, chegamos a São Paulo às 7h da manhã e já fazia 24ºC! E daí a temperatura só subiria…
Mais uma vez foram 30 mil inscritos, fora os que correm sem inscrição (e não os culpo, pelo absurdo valor que se paga), o que garantia mais um festivo engarrafamento pelas ruas paulistanas… já disse outras vezes mas vale sempre repetir: a São Silvestre não é uma corrida normal, é muito mais uma festa para quem corre o ano todo, e por isso é bobagem se preocupar com tempos e recordes, se você for amador. O negócio aqui é celebrar o amor pelas corridas de rua, perto da virada do ano, na mais famosa das corridas!

Neste ano tínhamos novidade, pois o percurso havia sido alterado em alguns trechos, depois de alguns anos em mudanças.
A largada para a categoria Cadeirantes foi às 8h20, e pouco depois foi a vez da Elite Feminina, às 8h40. Os favoritos tanto nos homens quanto nas mulheres eram claro, os atletas africanos, que vem dominando a SS com tranquilidade nos últimos anos.
Dada a largada feminina, nossa maior esperança era Joziane Cardoso, campeã da Meia Maratona do Rio de Janeiro 2016, mas também podíamos depositar as esperanças em Marizete Moreira dos Santos, bicampeã da Maratona Internacional de São Paulo e em Tatiele de Carvalho, que ficou entre as 10 na São Silvestre do ano passado e foi representante do Brasil nos na Rio 2016. A elas caberia a duríssima tarefa de derrotar as estrangeiras favoritas, como a tricampeã Ymer Ayalew, da Etiópia, e a queniana Jemima Sumgong, campeã das maratonas de Londres e dos Jogos Olímpicos Rio 2016. além delas, ainda tínhamos outras feras, tais como as tanzanianas Faliluna Matanga, campeã da 10K Rio 2014 e da Tribuna 2016 e Jaclyn Sail, terceira na São Silvestre 2013; a queniana Flomena Daniel, campeã da Saitama Marathon no Japão neste ano; e a alemã Nadine Gill.

E às 9h foi dada a largada para a Elite Masculina, e (bem) atrás deles, lá viemos nós, tomando a Avenida Paulista como carro algum jamais irá conseguir fazer! A última vitória brasileira havia sido em 2010 com Marílson dos Santos, e maior esperança tupiniquim neste ano era novamente Giovani dos Santos, vencedor em 2016 da Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro, da Volta da Pampulha e da Eu Atleta 10K Rio. Fora ele tínhamos outros nomes de destaque, tais como Gilmar Lopes, terceiro colocado na Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro 2016; Gilberto Lopes, terceiro colocado na Maratona Internacional de São Paulo; Vagner Noronha, quinto na Maratona de São Paulo 2016; Damião de Souza, campeão da Meia Maratona de São Paulo; Wellington Bezerra da Silva, campeão brasileiro de corridas de rua em 2015, Dalto Fidencio… ops, esse não, esqueçam esse último.

Enquanto a Elite voava lá na frente , saímos em trote reduzido pela Paulista, pois é simplesmente impossível correr no início, tal o número de pessoas. Eu levei cerca de 10 minutos só para conseguir dar o primeiro passo!
Deve-se elogiar a tentativa da organização de separar os corredores por tempo aproximado que irão fazer na prova, como nas maratonas, mas infelizmente os atletas não respeitam os setores separados por cores, e largam onde bem entendem… uma pena isso. Pelo menos eu cumpri o meu dever, largando no setor laranja, o que me era destinado desde que meu número de peito foi gerado.
Como citei anteriormente, o percurso este ano sofreu algumas alterações. Ruas como Margarida, Olga e adjacências (próximas ao Memorial da América Latina) saíram do traçado, dando lugar a ruas do centro histórico de São Paulo, como a Xavier de Toledo, Sete de Abril, Bráulio Gomes, Viaduto 9 de Julho, Viaduto Jacareí e Rua Dona Maria Paula.
Largamos na Paulista, com 25º C, na altura da Rua Ministro Rocha Azevedo, passamos pelo Túnel Jose Roberto F. Mellen, onde sempre é uma festa do povo apoiando os atletas, e fomos em direção à Av. Dr. Arnaldo, onde passamos pela marca do Km 01. A Elite feminina havia passado por ali menos de 4 minutos após largar, a Elite Masculina com menos de 3 minutos, já eu… como levei mais de 10 minutos só para dar o primeiro passo e mais uns 5 até passar pela largada… quando passei por ali os atletas de elite já estavam com mais de 1/3 da prova percorrida!

Dali fomos pra Rua Major Natanael, em seguida para a Rua Des. Paulo Passallaqua e então estávamos na Av. Pacaembu, onde se pode aumentar a velocidade um pouco. Já era o Km 03 e a Elite havia passado por ali com 9 minutos de prova… ainda antes de este poeta-atleta dar o primeiro passo! E todos os anos alguém ainda me pergunta se alguém que sai no Pelotão Geral poderia alcançar os quenianos… bem, se for numa bicicleta de corrida, quem sabe!
No Km 04, ainda na Avenida Pacaembu, passamos pelo primeiro posto de hidratação, muitíssimo bem-vindo, devido ao calor de 27ºC do momento, e uma sensação térmica de 10 graus a mais!
Mas falando dos corredores de verdade novamente: na prova masculina, Adriano de Oliveira puxava o pelotão de frente ali na altura do estádio do Pacaembu, fazendo o papel de coelho, ditando o ritmo. Outro brasileiro, Reginaldo da Silva, do Cruzeiro, ultrapassou Adriano na altura da Praça Charles Miller. Mas tanto os favoritos estrangeiros quanto Giovani dos Santos seguiam os líderes de perto.

No início da Av. Norma P. Giannotti chegamos ao Km 05, ou seja, um terço da prova! O calor era forte mas como eu ia num ritmo despreocupado com tempos mirabolantes, me sentia muito bem, com bastante gás para superar o restante sem problemas.

Seguimos para a Av. Rudge, em seguida para o Viaduto Orlando Murgel e depois para a tradicional Avenida Rio Branco, onde havia o segundo posto de hidratação. Peguei meus valiosos 2 copinhos de água e parti, já no Km 07, quase metade da prova!
Enquanto isso na Elite Feminina, a queniana Jemima Sumgong brincava com as adversárias, ela simplesmente não tomou conhecimento das rivais e dominou completamente a prova. Liderou desde a Avenida Pacaembu, ignorou o forte calor, e como não tinha adversárias a lhe ameaçar desde o Km 10, resolveu competir contra o cronômetro mesmo, e fez com ele o mesmo que fez com a subida da Brigadeiro… pulverizou! Fechou a prova com um novo recorde, de 48m34, batendo o antigo tempo da também queniana Priscah Jeptoo, que era de 48m48, conquistado em 2011.
Nessa hora eu estava chegando a apenas 2/3 de prova ainda… mas estou me adiantando no tempo. Da Avenida Rio Branco eu segui pra Avenida Ipiranga e em seguida para a Avenida São João, passando pelo poético cruzamento das duas vias. Alguma coisa realmente acontece em meu coração quando passo por ali!
Era o Km 08 e logo chegamos ao Km 09, na Av. Duque de Caxias. Agora eram 30ºC na cabeça, o que não tornava nada fácil a tarefa de seguir em frente sem diminuir o ritmo. Largo do Arouche, Avenida Vieira de Carvalho e chegamos à Praça da República, chegando assim ao Km 10! Só mais 1/3 pro final! Lá na Paulista a Elite recebia seus troféus no pódio, mas para nós, ainda faltava muito suor pra chegar ao final.
Passamos por mais um posto de hidratação, contornamos e passamos novamente pela Ipiranga com São João (passando bem em frente a Galeria do Rock, onde sempre comemoro), depois a Rua Conselheiro Crispiniano e então passamos por trás do magnífico Teatro Municipal, numa das novas partes do traçado. Era o Km 11, entramos na Rua Sete de Abril, seguimos para as Ruas Dr. Bráulio Gomes e Cel. Xavier de Toledo e assim chegamos aos viadutos Nove de Julho e Jacareí. Km 12… faltava pouco! Peguei meu último copo de água no posto de hidratação ali, apesar que sabia que ainda teria mais um perto do final da Brigadeiro, mas prefiro ignorar este último por estar muito perto do final da prova.

Passamos pela Rua Dona Maria de Paula e então lá estava ela… a tão falada Avenida Brigadeiro Luis Antonio! E todo mundo ao meu lado gritava: “Ah, é Brigadeiro!”. Agora faltavam apenas os dois últimos quilômetros de pura subida em primeira marcha… calor, cansaço, lesão, nada me faz diminuir o ritmo nessa hora! Confesso que gosto muito de subidas e adoro a parte da Brigadeiro, ela me estimula, por saber que falta tão pouco para atingir o objetivo.
Mas voltemos aos atletas profissionais, os corredores de verdade: a prova masculina foi bem mais disputada que a feminina, com uma disputa intensa até o final. Os etíopes Dawit Admasu e Leul Aleme e o queniano Stephen Kosgei dispararam na parte final, deixando Giovani dos Santos um pouco para trás. Mas o que era uma corrida de fundistas se tornou uma corrida de 300 metros rasos assim que eles fizeram a curva da Brigadeiro para a Paulista. E num sprint surpreendente, Leul Aleme, que havia sido o vice-campeão no ano passado, acabou sendo o grande campeão deste ano, numa chegada espetacular, fechando em 44m53, seguido muito de perto (apenas 2 segundos atrás!) por Dawit Admasu e por Stephen Kosgei, que foi o terceiro. O brasileiro Giovani dos Santos, em ótima corrida, foi o quarto colocado, apenas 37 segundos atrás do líder. Fechando o pódio, tivemos Willian Kibor, também do Quênia.
“Eu vi que teria que correr muito nos últimos 300 metros para vencer. Foi o que eu fiz. Estou muito feliz por ter vencido e por estar aqui no Brasil. Eu gostei muito do percurso e, principalmente, do carinho do público, que me apoiou e aplaudiu durante toda a prova.” – foram as palavras do campeão Aleme.
Vale registrar também a exemplar prova feita pelo atleta de São José dos Campos, Ederson Vilela Pereira, que chegou na sétima colocação, fechando a prova como o segundo melhor brasileiro, apenas 30 segundos atrás de Willian Kibor, o último a figurar no pódio.

Entre as mulheres, além do passeio da queniana Jemima Sumgong, tivemos em segundo lugar a também queniana Flomena Cheyech, em terceiro ficou Eunice Chumba, do Bahrein, em quarto Ymer Ayalew, da Etiópia, e fechando o pódio, tivemos a queniana Ester Kakuri. A brasileira mais bem cotada, Joziane Carvalho, não conseguiu ficar entre as 10 primeiras, mas Tatiele Carvalho colocou o Brasil na sétima posição.
Com a palavra, a grande campeã Jemima: “Estava muito quente e difícil, mas eu consegui imprimir uma boa velocidade e estou muito satisfeita com a vitória. Quero agradecer ao apoio dos brasileiros, que foram muito acolhedores e me incentivaram o tempo inteiro.” – afirmou a campeã olímpica no Rio e agora também grande vencedora da São Silvestre.
Se uma queniana supercampeã diz que estava muito quente para correr… imagine então nós, reles mortais, atletas amadores?
Cheguei ao fim da Brigadeiro e fiz a tão desejada curva à direita na Paulista… aí foi só acelerar! Dei meu sprint final, nem de longe tão veloz como o do campeão etíope, mas com certeza com o mesmo sentimento de dever cumprido, e cruzei a reta de chegada, agradecendo aos deuses das corridas por mais uma prova icônica concluída, e sem nenhuma nova lesão!
Então foi pegar mais copos de água e seguir para pegar minha 9ª medalha da SS… que considerei a mais bela entre as que tenho! Se economizaram na camiseta (que não é mais Adidas nem Fila) e também no Gatorade, que não foi mais oferecido ao longo da prova, ao menos a medalha foi portentosa!
Corredor que se preza, termina o ano correndo a maior prova da América Latina! E que venha a de 2017, que venha a minha décima participação!
Conectando ideias, conectando a Corrida Internacional de São Silvestre!

RESULTADOS 2016:

Elite Masculino
1º Leul Aleme (Etiópía) = 44min53
2º Dawit Admasu (Etiópia) = 44min55
3º Stephen Kosgei (Quênia) = 45min00
4º Giovani dos Santos (Brasil) = 45min30
5º Willian Kibor (Quênia) = 45min49

Elite Feminina
1ª Jemima Sumgong (Quênia) = 48min34
2ª Flomena Cheyech (Quênia) = 49min14
3ª Eunice Chumba (Bahrein) = 50min24
4ª Ymer Ayalew (Etiópia) = 51min40
5ª Ester Kakuri (Quênia) = 51min45.

Cadeirantes Masculino
1º Heitor Mariano dos Santos (Brasil) = 42min22

Cadeirantes Feminino
1ª Aline dos Santos Rocha (Brasil) = 49min36

Deficientes Visuais Masculino
1º Josivan Guedes da Silva (Brasil) = 58min30

Deficientes Visuais Feminino
1ª Valeria Campos Neto Najar (Brasil) = 1h19min31

Deficiente Intelectual Masculino
1º Eduardo Ferreira da Silva (Brasil) = 1h20min45

Deficientes Andantes Membro Inferior Masculino
1º Ronan do Espirito Santo (Brasil) = 01h33min50

Deficientes Membros Superiores Feminino
1ª Leticia Santos Goncalves (Brasil) = 2h17min00

Deficientes Auditivos Masculino
1º Daniel Esperancin (Brasil) = 1h36min12

Deficientes Auditivos Feminino
1º Valdirene Malta (Brasil) = 1h54min37

DALTO FIDENCIO
nils satis nisi optimum

“Sono poeta delle tenebre e della malinconia; ma non piango lacrime, piango poesia!” – DALTO FIDENCIO

“I became insane, with long intervals of horrible sanity” – EDGAR ALLAN POE

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