Superfície – Capítulo 11

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Por Milton T. Mendonça

Superfície – Capítulo 11

A pequena nave de transporte aterrissou sem nenhum ruído e todos desceram agitados pela novidade que os esperavam. Elisa segurou a mão de Muai e se encaminharam á alfandega para o registro obrigatório de entrada no planeta. Receberam o frasco de oxigênio e a mascara que deveriam levar sempre que estivessem fora dos prédios pressurizados e saíram ao saguão repleto de viajantes alegres e comunicativos. O barulho era infernal.

O alto falante emitiu um assobio intermitente enquanto caminhavam em busca da bagagem. A resposta foi instantânea o silêncio percorreu o ambiente como uma onda. Todos ficaram atentos.

– Drª Elisa… Drª Elisa… Favor se encaminhar a sala verde no final do corredor leste.

– É com a gente, bisa!

Muai exclamou alerta.

– Sim, meu bem! Leste… Leste… Onde fica o leste você sabe?

Girou o corpo em busca de uma indicação. Quatro corredores saiam do salão na direção dos pontos cardeais e desapareciam em algum lugar longe dalí Muai tocou seu ombro e mostrou a placa. No canto superior pendurada ao teto a sinalização, em grandes letras azuis, mostrava para onde deveriam seguir.

Respirou aliviada e passou as costas da mão no rosto sorridente do bisneto. Girou o corpo mais uma vez e com gestos imperativos chamou o rapaz de uniforme caqui que esperava com o carrinho de mão estacionado no lado oposto. Esperou que as malas e pacotes fossem carregados e ainda segurando seu acompanhante seguiu na direção indicada.

A sala verde era um anfiteatro onde centenas de repórteres esperavam para entrevista-la.

– Drª Elisa?

O homem se aproximou com a mão estendida.

– Pois não!

– Desculpe-me por não ir espera-la no saguão, mas uma confusão de última hora me segurou…

– Sou o adido cultural Thomaso. Fui designado para escolta-la á reunião na tentativa infrutífera de mantê-la incógnita.

– Percebo que meu pedido foi ignorado…

– Por Deus não, doutora! Foi essa a confusão de ultima hora a qual me referia… Descobriram não se sabe como e quando cheguei aqui centenas de repórteres já a esperavam. Precisei organizar uma coletiva para evitar tumulto.

– Infelizmente esse transtorno vai atrapalhar bastante…

– Sabemos disso Drª Elisa. Peço-lhe que nos perdoe, mas uma figura tão eminente quanto a senhora é quase impossível fazer passar despercebida. Principalmente nessa crise atual…

– Em que pé estamos? O que eles sabem?

– Não muito felizmente. Somente que será a mediadora. Desconhecem totalmente nossa estratégia…

– menos mal! O que devo fazer agora… Tenho algo para dizer?

– Não! Confiamos plenamente em seu bom senso. Acreditamos que estão mais curiosos com sua pessoa… Claro que alguns jornalistas mais perspicazes farão perguntas que gostaríamos que não fizessem, mas confiamos em seu julgamento.

– Está bem… Vou apresentar meu bisneto quem sabe desviará as atenções…

– Muito bem pensado doutora.

Abriram caminho por entre a multidão que se apertava ocupando todo o espaço disponível da acanhada sala de espera e subiram no estrado, colocado ás pressas por subordinados atarefados, deixando-os visíveis para que todos tivessem a chance de manifestar sua curiosidade.

– Senhores!

Exclamou ao microfone.

– Atenção! Senhores!

Repetiu enérgico.

– A doutora Elisa concordou em conversar com os senhores. Peço-lhes um pouco de paciência para podermos organizar o evento. Somente será ouvido aquele que levantar a mão. Pedimos cooperação dos demais fazendo silêncio e observando as regras da boa educação… Obrigado.

O homem puxou gentilmente Elisa deixando-a frente ao microfone.

– Bom dia senhoras e senhores é um prazer estar aqui hoje.

Articulou movendo a cabeça lentamente da direita para a esquerda fixando o olhar em cada um dos presentes.

– Esse mundo é um dos poucos que sempre tive muita vontade de conhecer e, como sabem sua generosidade com os estrangeiros sempre foi lendária. Espero ter a chance de comprova-la hoje.

Virou o corpo e estendeu as mãos em direção a Muai que observava calado, instigando-o a se aproximar.

– Esse é meu bisneto Muai!

Apresentou-o demonstrando todo o orgulho que sentia.

– Estamos de férias e queremos aproveitar tudo que esse planeta maravilhoso pode nos oferecer nos próximos dias… Espero contar com a boa vontade de todos em nos deixar livres para aproveitar nosso merecido descanso.

Terminou a frase com um tom zangado mostrando claramente que não aceitaria de bom grado a invasão de sua privacidade.

Muai ainda sorrindo encaminhou-se á beirada do palco e abanou as mãos saudando os presentes enquanto os flashes pipocavam de todos os lados.

– Doutora e a reunião!

Alguém gritara no meio da multidão.

– O que tem a reunião?

Perguntou irritada procurando quem fizera a pergunta.

– Pensamos que a senhora contribuiria com sua experiência…

O homem levantou a mão segurando um pequeno objeto que ela identificou como gravador. Continuou olhando hipnotizada quando num átimo a mão estranha surgiu por detrás de seu interlocutor e atirou em sua direção um pequeno volume. Antes de alcança-la percebeu outros movimentos ao redor e dezena de volumes iguais aquele fora lançada para o alto. Viu os homens com máscara contra gás segundos antes de sua consciência ser atirada em um abismo negro e sem fim.

O homem retirou a máscara de gás e antes de atravessar o salão evitando pisar nos corpos caídos gritou para seu companheiro.

– Maurice pegue o menino deixe a embaixadora comigo.

Subiu no tablado abaixou-se ao lado de Elisa segurou-a pela cintura e num só fôlego a jogou no ombro saindo rapidamente passando pelo  corredor vazio protegido por dois comparsas, que encostados a parede evitava que transeuntes desavisados penetrasse naquele espaço. Subiu a escada, sempre acompanhado pelo indivíduo que carregava Muai, se dirigindo ao telhado onde uma pequena nave o esperava com os motores ligados.

O veículo levantou voo no mesmo instante, antes mesmo das vítimas ser acomodadas em seu interior e o edifício foi deixado para trás. Sobrevoou a cidade velozmente se acercando das crateras do outro lado da montanha que protegia a cidade contra os ventos de inverno. Jogou a nave em ângulo fechado contra as rochas no fundo do enorme vão que se abriu  no ultimo minuto dando passagem a seu corpo esguio. A frenagem foi acionada manualmente e o paraquedas de emergência se abriu em ambos os lados da maquina parando-a abruptamente.

Continua no próximo capítulo…

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