A Sacralidade da Natureza
Outro dia, caminhando, solitário, pelo Parque da Cidade, percebi o quanto esse isolamento social faz bem à natureza. Durante dois meses o parque esteve fechado ao público. Foi tempo suficiente para o ambiente natural se recompor e respirar um pouco, livre da presença e das estrepolias do bicho-homem.
Acomodei-me num banco e permaneci por um bom tempo com os olhos fechados, em silêncio, apenas ouvindo a sinfonia da natureza. Em meio a múltiplos trinados, uma agradável sensação de harmonia.
Aventurei-me a percorrer as trilhas do parque, mesmo com todo o calor daquela manhã. Surpreendi-me com a presença de animais que há muito tempo não encontrava naquele local: serelepes, preguiças, capivaras. Encantei-me com a imagem refletida de uma garça sobrevoando o lago. Papagaios ornamentavam as copas de algumas árvores. Até a vegetação, desbotada pelos meses de inverno, irradiava um brilho incomum.
Foi um momento de lazer que me levou a muitas reflexões sobre a relação do homem com a natureza.
Nas culturas mais antigas a natureza era entendida como uma parte de Deus. A terra era sagrada; considerada não só como a fonte pródiga da vida, mas também o lugar de descanso dos mortos. Aquela sacralidade foi relegada ao plano do esquecimento ao longo dos séculos.
A Reforma e o pensamento mecanicista cartesiano formaram uma consciência em que ao homem estava destinado exercer seu poder e o controle do ambiente natural. Para René Descartes o mundo material funcionava de maneira totalmente mecânica. À luz desse mecanicismo o mundo podia ser explicado e explorado. A ciência, a tecnologia e a economia servem, atualmente, aos propósitos dessa ideologia predatória.
Percebe-se agora uma reação no sentido de tentar reverter esse estado de coisas. Tomara não seja tarde demais.
Por Gilberto Silos
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