Decomposições geram paixões!

Decomposições geram paixões!
Por Raul Tartarotti
Existe uma sopa que está sendo preparada sem parar há 45 anos. Ela fica num restaurante em Bangkok, na Tailândia, chamado Wattana Panich.
Apesar da ideia parecer muito estranha, o estabelecimento atrai turistas do mundo inteiro, que estão em busca da sopa eterna. Ela é quase uma água benta da culinária, tão única e rara de sentir o gosto.
Eles utilizam uma técnica antiga, conhecida como “ensopado perpétuo” ou “ensopado de caçador”, que consiste em deixar a sopa ferver constantemente em fogo baixo enquanto adiciona novos ingredientes, assim, o caldo absorve o máximo de sabor possível e fica ainda mais gostoso. A diferença é que, na técnica original, o caldeirão é esvaziado e limpo em alguns momentos, mas no Wattana Panich isso nunca acontece.
E se você é daqueles que ama ver um ambiente limpinho e uma louça brilhando, esse não é o seu lugar. Isso porque os donos também tornaram o ato de não limpar a borda da panela uma tradição.
A casca marrom endurecida em torno do caldeirão é basicamente o caldo que tem espirrado durante os 45 anos.
Outro fato interessante é que a sopa não segue uma receita com porções contadas, na verdade a família desenvolveu a habilidade de provar e saber exatamente o que está faltando e, então, adicionar os ingredientes ao caldo.
Como a borda da sopa eterna, o caminho que seguimos, deixa em nossas vidas, um rastro para trás sem direito a volta pra saudar os passos temperados com carinho, numa estrada arada pelo esforço das vísceras expostas, que foi nos ensinando a ser gente, sem lamentações pelo que se viveu ou carregou de mágoas.
Como os fiéis judeus, que oram e depositam suas mágoas e seus desejos por escrito no Muro das Lamentações, porque lá é um lugar propício a essa descarga emocional, própria de cada um que se posiciona em frente dele. E não no ouvido do próximo que se aproxima pra conviver em paz conosco.
Criar uma dinâmica importante para expor suas certezas, possibilidades, queixas e dúvidas, torna possível modificar estratégias para atingir seus objetivos, temperar sua sopa, e superar suas inseguranças, bem como compartilhar com seu próximo o crescimento dentro de você, ao invés de sobrecarregar uma relação de amizade, amorosa ou familiar com seus dramas, já que essas pessoas não são as mais adequadas para ouvir isso, tampouco treinadas para receber lamentos diários.
O filósofo Espinosa escreveu que um corpo encontra outro e pode acontecer que esse encontro se componha para formar um corpo mais potente, ou que um decomponha o outro diminuindo sua potência de agir. Os efeitos dessas composições ou decomposições, geram paixões alegres, ou tristes. A alegria resulta da ideia que se encontra em nossa alma e aumenta nosso poder de ação. Mas a tristeza, surge quando algo ameaça a coerência, e acaba por diminuir nossa própria energia.
Sobre Raul Tartarotti 94 Artigos
Natural de Gramado, Raul teve formação básica em Eng. Biomédica. É cronista em diversas publicações no Brasil e exterior, impressa e eletrônica. Estudou literatura Russa, filosofia clássica e contemporânea. Suas crônicas são de cunho filosófico e social, com objetivo de trazer reflexão ao leitor sobre temas importantes de nosso cotidiano.

1 Comentário

  1. Famosas são as comidas exóticas da Tailândia. E fez uma bela comparação entre composição e decomposição que geram paixões. Abraço!

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*