A 12° tribo

 

A 12° tribo

Por Milton T. Mendonça

A nave viaja a uma velocidade próxima da luz. Entra na galáxia após cruzar alfa centauro sem encontrar seu destino.

Há alguns séculos fora lançada em busca da última das doze tribos, perdida após ser enviada, há milhares de anos, a procura de um planeta habitável no espaço desconhecido, em mais uma tentativa de transformar o universo em um imenso jardim, onde todos os seres vivos possam viver em harmonia, rompendo assim, o silêncio esterilizador responsável pelo vazio existente.

A máquina inteligente passa por milhares de mundos, alguns hostis, outros nem tanto. Observa seres recém saídos da primeira infância e outros tão velhos que a morte já os contabilizam.

Nunca para, prefere se distanciar o máximo possível, cumprindo a ordem de não ser detectada. No seu interior tonelada de equipamentos da mais alta tecnologia, jaz adormecida a espera da hora de decodificar a mensagem recebida pela nova civilização, assim que for encontrada.

O sinal esperado é um som especial que confirmará a integridade do povo procurado. De seus valores espirituais não corrompidos e da conservação do meio de comunicação com o projetista de todo o cosmo: a glândula pineal. Único instrumento existente capaz de unificar numa mesma frequência a lógica pura e a emoção mais profunda, e lança-la ¼ acima da velocidade da luz aos pés do criador de todas as coisas. Onde seu emissor, através do desejo sincero, terá permissão de absorver todo poder e graça, atributos necessários para transforma-lo em um deus. Aptidão poderosa que o capacitará a conquistar paz e felicidade

Doze tribos fora mandada, espalhadas em todas as direções há muitos milênios. Há alguns séculos, espaçonaves fora enviada em seu encalço. Esta viaja em linha reta, buscando num ângulo de trezentos e sessenta graus o sinal de que finalmente encontrara o povo procurado. Quando isso acontecer, a nave traz informação suficiente para que seus membros demudem o planeta onde vivem em um paraíso inimaginável.

Somente existe uma lei a ser observada. A nova civilização não poderá ter se esquecido da motivação inicial. Esse é um julgamento de probidade. Todas as tribos que compartilharam a mesma experiência já fora encontrada, esta é a última. A grande maioria se desviara do caminho. Perdera a memória. Degenerara se transformando em alguma coisa entre o racional e o irracional.

Cruzando distancias imensas em silêncio, fora do tempo, como um fantasma sonolento rompendo o hiper-espaço, a imensa astronave é alcançada por um bip inesperado, quase inaudível, acordando-a e acionando o enorme aparelho fixo em seu estômago atulhado de máquinas maravilhosas. Imediatamente uma estrela amarela surge brilhante no canto direito da tela que pisca como um farol. A cabeça que aparecera congelada, simultaneamente, aos poucos se torna viva. Vira-se para trás e observa a estrela que brilha radiante.

O bólido se desloca veloz em direção a nova estrela. É calculada a trajetória do bip. Imediatamente é reajustada para o pequeno planeta azul, com apenas uma lua, preso pela gravidade da estrela cintilante. O computador direciona a nave para interceptá-lo, que parte com um zunido.

O som chega, ainda com o veículo espacial fora do sistema solar. As luzes se acendem, como estava programado, a transformando em um pequeno sol. Os decodificadores são ativados, e o som reconhecido. Alguns nanos segundos após a primeira interpretação, interferências intensas invadem o equipamento obstruindo o recebimento do som original. Instrumentos auxiliares são requisitados e o ruído identificado: choro de milhares de vozes, misturado a lamentos e suspiro de auto-indulgência enchem a nave, freando-a bruscamente..

Sem hesitação, sua trajetória é alterada, se reprogramando para a volta ao seu planeta natal. A astronave rapidamente deixa para trás o pequeno sistema solar, onde uma raça a caminho da irracionalidade se contorce nas dores da involução. A última tribo fora encontrada, a oitava a ser desconsiderada.

Em Porto Rico, um astrônomo solitário vê acender uma luz brilhante como um novo sol que, após algum tempo, desaparece sem deixar vestígio. Ele passa a noite numa busca frenética e, na manhã seguinte, exausto, nada encontrara.

Enquanto isso, no Tibete, monges oram pela paz no mundo.