Amarcord e o fascismo à italiana
Para os amantes da sétima arte chega uma boa notícia lá da Itália. Na cidade de Rimini, desde o dia 20 de janeiro, há uma exposição sobre o cineasta Federico Fellini. O evento comemora o cinquentenário de “Amarcord”, uma das mais importantes obras desse aclamado diretor. Filmado em 1973, ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1974.
O evento consiste de uma mostra de 65 fotogramas do filme, miniaturizadas e reproduzidas em óleo sobre tela pelo artista albanês Agim Sulay. As pinturas destacam as cores e os recortes de luz que compõem os enquadramentos de “Amarcord”.
Falando do filme, a curiosidade gira em torno do seu título, “Amarcord”. Amarcord é uma espécie de neologismo do dialeto romagnolo, falado naquela região. Quer dizer “a m’arcord”, cuja tradução é “eu me lembro”.
“Amarcord” é uma autobiografia de Fellini – embora ele o negue – recordando os tempos de sua infância e adolescência na pequena Rimini.
O filme se compõe de uma sucessão de cenas e personagens do cotidiano daquela cidadezinha provinciana nos anos 30, durante o governo fascista de Benito Mussolini.
Fellini detestava o fascismo e o critica no filme, com sarcasmo e ironia. Caricaturiza também a cultura italiana, clerical e patriarcal. Pelos olhos do jovem Titta (interpretado por Bruno Zanin) desfilam a mais bizarras figuras e cenas de Rimini – a vida familiar, a cultura, a religião, a educação e a política daqueles tempos, onde não faltam o preconceito, o falso moralismo, hipocrisia e o autoritarismo.
Fellini ressalta o culto à personalidade do líder fascista Mussolini. O Duce, como também era chamado, empolgava as massas com seu discurso nacionalista e populista. O endeusamento do líder chega a ser um misto de ridículo e patético. Isso é demonstrado no desfile onde a juventude porta armas e uma foto grotesca do Duce. Lembra algo parecido nos dias atuais? “Amarcord é um desfile de imagens e cores, algumas reais, outras oníricas, ao embalo da trilha sonora de Nino Rota. Fellini sempre surpreendeu pelo seu talento em projetar a realidade nas asas da fantasia. Vale a pena ver, ou rever.
Por Gilberto Silos
Imagem do site: https://comunitaitaliana.com/cidade-de-rimini-prepara-exposicao-inspirada-no-filme-amarcord-do-cineasta-federico-fellini/
Uma exposição num momento em que a Itália está novamente se voltando ao passado escuro do fascismo; ao eleger a primeira ministra, Giorgia Meloni, fã de Mussolini.
Grande abraço, Gilberto!
É bom ver este Felini!