Crônica: O que é Deus?
Por Milton T. Mendonça
Essa é uma pergunta que tomou conta de minha imaginação por muitos anos. Tive a oportunidade de perceber sua presença em minha vida de diversas maneiras, algumas não muito elegantes é verdade, mas todas muito fortes. Na época não compreendera muito bem o sentido de sua presença e imaginara que talvez estivesse apenas se divertindo com a minha dor. É difícil compreender uma mente tão poderosa como a de Deus. Ele sabe tudo, vê tudo e entende aonde aquela ação que estamos praticando vai nos levar. Coisa, aliás, impossível para nós. Principalmente no calor da emoção. Devo dizer que tive raiva e maldisse sua existência inúmeras vezes.
Apesar disso. Apesar da minha resistência. Ao mesmo tempo em que percebia sua presença não deixava de enxergar além da escuridão em que me encontrava. Sua luz sempre iluminava meu entorno clareando o local onde deveria colocar o próximo passo.
O tempo passou. Venci a batalha na escuridão e encontrei uma clareira onde consigo ver mais nitidamente, mas não muito, devo dizer os inimigos espreitando e tentando me confundir. Continuo enxergando Deus nos meus momentos mais desesperadores, mas agora o que me falta não é visão do caminho e sim compreensão… Qual a motivação que impele o inimigo contra mim?
Ser marionete nunca foi uma opção. Jamais deixarei alguém ou alguma coisa tomar posse de meu livre arbítrio. Mesmo que as promessas sejam o universo. Não! Meu espírito é inalienável. Minha meta está além da matéria. O meu caminho somente pode ser aberto por mim mesmo.
Não que eu seja autossuficiente. Não, nada disso. Somente exijo que as cartas sejam colocadas na mesa. Que a ajuda, caso tenha a sorte de consegui-la, seja oferecida ás claras. Com palavras e não pelas minhas costas como se eu fosse um retardado mental.
Não sou diferente das pessoas sinceras que buscam um lugar no mundo. Um lugar onde possa construir algo que ao ser conectado com o resto da humanidade acrescente e enriqueça e não se torne um buraco negro. Um ralo por onde escoa o melhor que é oferecido retornando apenas miséria como se vê muito por aí.
Creio que ser espiritual é exatamente isso. É não se deixar seduzir por fantasias infantis embrulhadas em conceitos coloridos e artificiais. Deus é mais sutil que isso… E mais denso. Quando ele fala conosco na maioria das vezes sentimos dor e não alegria. E nosso primeiro impulso é tapar os ouvidos e fugir para bem longe de sua influencia. Mas quando vencemos o medo e nos forçamos ouvi-lo, nos transformamos em algo totalmente diferente e qualidades que nem imaginamos ter vem à tona nos surpreendendo e nos dando força para enfrentar aquele inimigo que nos persegue, conhecendo ou não suas motivações.
Mas mesmo assim queremos conhecer suas motivações. Somos humanos e nossa curiosidade chega às raias da morbidez. Talvez por sermos incapazes, muitas vezes, de atos que nos rebaixam faz-nos imaginar que o mundo todo age da mesma maneira.
Como disse alguém: ”Todas as pessoas são boas, mas praticam ações de uma baixeza inimaginável basta lhe dar a oportunidade.” Talvez esteja olhando o mundo de maneira errada. Com raiva. Talvez esteja pedindo ao mundo coisas impossíveis de serem oferecidas. Não sei… Talvez mostrando ao mundo o que quero dando o que ele pede ele perceba o que quero e me ofereça espontaneamente. Ou tudo isso são apenas divagações fúteis e o mundo é o que é e não tem jeito.
A única certeza que tenho é que viver em guerra somente manterá minha vida no caos e o caos é desorganização e em um lugar assim é impossível se construir algo que traga felicidade.
Deus é paz… É organização. E com ele percebemos que todo o resto é apenas ilusão… Apenas vaidade.
2018
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