Jogo da Comunidade!
Por Raul Tartarotti
Como em diversos momentos de uma jornada fascinante, entregamos maneiras de nos envolver com o outro, muito teatrais, efetivamente encenadas pra cada ato que surge nas esquinas sobradas de sonhos.
Seus outros eus, tem um tempo tragado pelo instante, e necessitam estar presentes da mesma maneira que participam os convivas do evento.
Funciona como uma metáfora do “theatrum mundo”, a vida como um teatro.
No livro do sociólogo Erving Goffman, “A Representação do Eu na Vida Cotidiana”, podemos ler a descrição do “modus operandi” do viver em sociedade, repleto de imagens retiradas das artes cênicas.
Para ele os indivíduos são atores que representam papéis, havendo em suas encenações cotidianas, regiões de fachada e bastidores. Há também plateia onde as pessoas criam personagens pra cada uma, surgindo a segregação destas e de papéis.
Dessa forma o indivíduo pode dar conta dos múltiplos personagens que necessita encenar ao longo de vários palcos que transita.
O filósofo Romeno Emil Cioran nos aconselhou que “O Homem só deveria escutar a si mesmo, no êxtase sem fim do Verbo intransmissível”.
Mas a metáfora teatral nos permite entrar em outro aspecto da obra de Goffman, que é o problema da consciência que o ator social tem da encenação que faz, onde se destacam o cinismo e a sinceridade. O ator sincero seria aquele mergulhado no papel que representa.
Como o fez Marilyn Monroe, depois de ser Norma Jeane uma mulher culta, indefesa e sonhadora, se transformou na segunda, tornando-se um produto, fruto da imaginação dos homens poderosos que moldaram sua carreira, hiper-sexualizada e pertencente ao lugar-comum da “loira burra”.
Apesar de seu empoderamento pela imagem que projetava, teve um impacto muito negativo internamente, devido à curva que a existência estabeleceu, como consequência da intensa entrega de si, e a representação em cada cena de seu cotidiano.
Nesse contexto era como se co-existissem duas mulheres, onde Marylin era uma prisão para Norma, apesar de necessitar dela, tinha uma relação de amor e ódio com essa personagem, sobre a qual não tinha controle. Suportou o machismo da indústria cinematográfica quando foi estuprada durante um teste de elenco, se calando sobre esse evento, pela permanência de sua carreira.
Essa teia que foi a vida de Marylin, foi retratada no filme “Blonde”, que a atriz Ana de Armas, interpretou com maestria as duas personalidades em uma só mulher.
Nosso contexto exige atuação precisa e dentro de um script desenhado pela sociedade, que expõe seu preço para participar do jogo da comunidade.
Todos nós necessitamos de alguém, de uma brecha em alguma alma doce que queira nos abraçar.
Afinal, amar não tem fim, tampouco tamanho.
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