Recruta Zero

Recruta Zero

Por Jorge Hata*

Criado por Mort Walker em 1.950, este personagem retrata a figura de um praça preguiçoso, eternamente inconformado com a vida dura do Quartel. Como se não bastasse, existe ainda o Sargento Tainha (Sarge) que não dá uma folga ao pobre Zero. Tem como companheiros de infortúnios Killer, o sedutor, Plato, o intelectual, Cosmo, o profeta e Dentinho, o mais bobo de todos. Esta série é considerada como a melhor sátira à vida militar já produzida em quadrinhos. Em 1.970, a Rio Gráfica Editora, publicava esta série em revista própria, com desenhos dos brasileiros Evaldo e Primaggio. MORT WALKER E RECRUTA ZERO: Contam que, há algum tempo, um alto oficial do Comando do Exército Norte Americano apresentou-se aos escritórios do King Features Syndicate com esta queixa : “A Marinha tem Buzz Sawyer (Jim Gordon), a Força Aérea, Steve Canyon. Para nós sobrou…Beetle Bailey (Recruta Zero) “. Aliás, a briga já vinha desde 1.954, quando o personagem de Mort Walker foi banido do jornal das Forças Armadas, Stars and Stripes. Zero era considerado subversivo. Divertia-se às custas da autoridade, satirizava o comando, apresentava um exército no qual poucos poderiam confiar. Curiosamente, depois deste banimento (e das inúmeras reportagens e notícias que aconteceram em torno do fato nos EUA), Beetle Bailey aumentou ainda mais suas vendas, tornando-se um best-seller do King. Mortimer Addison Walker, seu criador, no livro The Best of Beetle Bailey (publicado na Coleção Quadrinhos L&PM com o título de O Melhor do Recruta Zero), fala sobre o personagem: “Uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo, dizem, mas tome cuidado com este primeiro passo, é um dos grandes. Começar uma história em quadrinhos, é como dar um passo no escuro. Quem sabe onde você vai parar? Eu não sabia. Poucos lembram que o Recruta Zero começou como uma história sobre a vida na Universidade. E Zero tinha olhos naquele tempo (fechados). Pouca gente lembra, porque aparecia em pouquíssimos jornais. Como forma de sobrevivência, a história, alistou-se no exército. Todos os personagens originais (com exceção de Zero) desapareceram e deram lugar a novas figuras. Talvez isto seja o melhor de se fazer em histórias em quadrinhos. Você não precisa morrer abraçado com seu primeiro erro. Está livre para criar novos erros a qualquer hora. Por exemplo, o Sargento Tainha, originalmente,tinha mulher e filhos, esqueci…Quando isto passou a ser um empecilho, simplesmente esqueci que sua família existia e os deixei no limbo. O Quartel Swampy passou por muitas tentativas de adquirir mais personalidade e importância, mas acabou como uma instituição amorfa esquecida e ignorada pelo Pentágono. A tira passou por uma infinidade de distúrbios, sendo perseguida pelas Forças Armadas, censurada pelos editores e especialmente atacada por certos grupos de interesse, mas sobreviveu”.

Quando foi publicado pela primeira vez no dia 04 de Setembro de 1.950, o Zero não passava de um estudante. Bem… Cá entre nós, ele já era desengonçado e preguiçoso desde aquela época. Com o passar do tempo, Mort Walker, seu criador, foi alterando o rumo das histórias e o Zero finalmente se alistou no exército em Março de 1.951.

Zero, (Beetle Bailey), começou sua aventura pelos quadrinhos em 1.950, como estudante universitário, mas o público não reagiu – talvez pelo tema não pertencer ao cotidiano dos leitores – e a tira estava para ser “arquivada” pela distribuidora King Features Syndicate, após um ano de publicação. Mas, Mort Walker, com o início da Guerra da Coréia, resolveu alistar seu personagem e tudo mudou.

Logo a tira passou a ser publicada em cem jornais diários e mantém até hoje uma popularidade invejável. Com a mudança de argumentos da tira, os antigos personagens secundários foram abandonados, excetuando os pais de Zero. Havia a necessidade de novos companheiros para o recruta, assim surgiu alguém para colocar o Zero na linha, o escolhido foi o Sargento Tainha (Sargeant Snorkel), ou – simplesmente – Serge.

No início, Tainha era magro, esticado, tinha mulher e filhos, e seu dente saliente “dançou” por sua boca (começou com dois, na arcada superior) e acabou no canto direito do maxilar inferior. Com o tempo, virou um gorducho comilão e tem como companheiros inseparáveis uma pizza e seu cachorro Oto…Durão, tagarela, sentimental e de cara amarrada, o Sargento Tainha é o contraponto ideal para a personalidade do Recruta Zero, um tempero bem dosado para a “estadia” no Quartel Swampy;

O cartunista Mort Walker com os personagens da tirinha ‘Recruta Zero’ em foto de 1990 — Foto: Bob Daugherty/Associated Press

Walker, um dos mais bem sucedidos quadrinistas norte americanos, nasceu em Eldorado, Kansas ( 3 de setembro de 1.923 ). Esteve nos campos da Europa nos dias da Segunda Guerra Mundial e voltou com o posto de Primeiro Tenente de Infantaria . Ao regressar, fixou-se em Nova York, como cartunista. Seu trabalho era muto bom e ele foi contratado pelo King Features Syndicate para criar uma tira diária. Assim, em setembro de 1.950,surgiu Beetle Bailey. Em função da guerra na Coréia, o personagem, a início um universitário, foi convocado para servir no Exército. Isto garantiu ao Recruta Zero o sucesso que Mort Walker buscava. Em 1.954, Beetle Bailey recebia o primeiro prêmio para Walker, o Reuben Award. Na década de 60, Walker estabeleceu-se em Connecticut, criando um bem organizado estúdio cercando-se de assistentes. Até hoje, uma das “tiras” preferidas dentro dos EUA, Beetle Bailey é a prova que a sátira sempre é a melhor forma de encararmos a realidade massacrante do dia a dia. Pena que, em muitos países (no Brasil, por exemplo) grande parte do material para Recruta Zero é feito por artistas locais, criando por excesso de publicações, histórias que nada tem a ver com os originais de Walker e sua equipe.

*JORGE HATA
HISTORIADOR E COLUNISTA na HATA QUADRINHOS

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