Nova York: A reflexão sobre o homem moderno

Nova York: A reflexão sobre o homem moderno

Falar de Will Eisner é prazeroso demais, para escrever esse texto eu reli o quadrinho “Nova York” – processo que eu já vinha querendo realizar há algum tempo, pois em minha opinião o quadrinho é em si uma espécie de testemunho antropológico em forma de quadrinhos da vida humana numa metrópole capitalista. Eisner de forma magistral retrata a cidade pelos seus aspectos mais banais e cotidianos, retratando o estilo de vida dos tipos mais presentes na cidade, no entanto invisíveis na maior parte do tempo.

Cada forma de vício, problema, dificuldade, ou mesmo sensações que a cidade produz, é ali representada de forma singela e profunda, para o olhar mais atento o quadrinho é um soco no estomago, pois em cada história ali desenhada uma pequena expressão de dor, alegria, medo, felicidade, êxtase nos é transmitida, mesmo expressões matérias como a arquitetura, sofrem uma espécie de humanização e passam sobre a perspectiva de Eisner a testemunhar a vida humana cotidiana de uma grande cidade.

Na edição lançada no Brasil pela Companhia das letras, a obra vem composta de quatro graphic novels: Nova York: A vida na cidade grande, Cadernos de tipos urbanos, pequenos relatos sobre o cotidiano. Já as duas últimas obras são descrições profundas sobre o homem e a angustia que é viver, se assimilando profundamente com o pessimismo de Dostoievski, Kafka, e a leveza o lirismo e também o pessimismo de Augusto dos Anjos, encarnado em seus desenhos.

Eisner, como gênio que é, consegue a partir de sua perspectiva, onde o quadrinho teve se espelhar no teatro para compor suas cenas, já que segundo o mesmo, a dramaticidade presente no teatro é infinitamente superior a que existe no cinema. Transmitir todo o peso que existe nas expressões corporais, uma vez que no ato de se comunicar, palavras e gestos compõem nosso discurso.

Nova Iorque, enquanto quadrinho leva-nos a uma viagem profunda pelas veias mais sujas e poluídas da “grande maça”, revelando que, aqueles prédios, janelas, esgotos, etc, são o cenário onde todos os dias a drama da vida humana se desenrola, a biosfera existente nas cidades é aqui representada como sendo caótica, imprevisível, fria, solitária, enfim humana. Todos os personagens, retratos como que por um antropólogo, tem suas dimensões mais profundas reveladas, todas as angustias do homem comum são magistralmente representadas segundo a mente e o lápis de Eisner. A cidade de Will Eisner tem uma alma humana e é consequentemente um reflexo do que é ser humano no século XX.

Em suma, o quadrinho Nova York mostra uma outra face do criador do “Spirit”, mais séria e reflexiva,  Nova York é uma aula de quadrinho como obra de arte, representando a realidade.

Rodolfo Salvador

2012

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