Sidarta, de Hesse

SIDARTA,  DE  HESSE

Nestes dias em que vivemos atribulados por radicalismos de todos os matizes – ideológicos, religiosos, étnicos – encontro a paz na companhia de livros, esses meus amigos de longa data. Um deles li, e reli várias vezes. Estou falando de Sidarta, de Hermann Hesse, notável romancista alemão, ganhador do Nobel de Literatura de 1946. Sidarta foi escrito em 1922, inspirado em uma viagem que o autor fez à Índia em 1911.

Otto Maria Carpeaux, crítico literário, falecido em 1978, comenta na primeira edição de Sidarta, em português,  que toda a vida de Hesse, até   o último dia, foi uma série de fugas e cada uma delas  foi uma volta: contra a casa paterna; contra o cristianismo; contra a escola; contra a vida burguesa; contra a guerra e contra o nacionalismo.

Dá para perceber que Hermann Hesse era um rebelde,  mas sua rebelião tinha causa: a paz no mundo e a paz interior. Grande humanista, poeta, escritor,  mas antes de tudo um inspirado filósofo. Acreditava que a ruptura com os dogmas e sectarismos religiosos era a única forma de independência do espírito humano.

Sidarta é o protagonista principal do livro. Personifica essa inquietude interior, esse inconformismo com as pretensas verdades absolutas que geram as fórmulas dogmáticas de todos os ISMOS que tanto sofrimento já causaram à humanidade.

Sidarta, desde tenra idade, revelara predisposição para a busca espiritual. Percebendo as limitações da religião de seus pais, começa a procurar algo que lhe satisfizesse o íntimo. Mesmo contra a vontade dos seus, junta-se aos ascetas chamados samanas, com os quais aprende a pensar, esperar e jejuar. Nada disso, entretanto, elimina  suas dúvidas nem lhe aquieta a alma.

Decide ir ao encontro de Gotama, o Buda. O convívio com o Iluminado foi fundamental para o seu amadurecimento. Mas, esse  amadurecimento o levaria à conclusão de que o Caminho não se encontra em seguir mestres, gurus ou ensinamentos, mas em procurar a verdade dentro de si mesmo.

A partir daí deixa-se levar pelos seus instintos. Cai na vida mundana e aprende que até o pecado pode ser uma fonte de ensinamentos. Vai fundo nesse caminho, até fartar-se de toda sensualidade e riquezas que aquela escolha lhe proporcionara. Abandona tudo e inicia uma nova caminhada sem saber ao certo para onde.

Um dia, ao tentar a travessia de um rio,  encontra um balseiro, que só lhe ensina uma coisa: a ouvir. Ouvir as pessoas, ouvir a natureza,  e principalmente, ouvir o rio. Sim, o rio, que simboliza a vida em seu fluxo infinito. Era uma forma de aprender a conectar-se com a essência de tudo o que existe, com o Cósmico Infinito. Era o caminho para a liberdade.

Um dos ensinamentos fundamentais  de Sidarta é que o conhecimento pode ser transmitido, mas nunca a sabedoria. Podemos vivê-la, podemos permitir que ela nos guie, com ela podemos até fazer   milagres, mas não nos é dado ensiná-la. Ela é uma realidade individual e interna, única, de cada pessoa. Ela é o impronunciável.

A quem me deu a honra de ler estas linhas o meu  NAMASTÊ.

 

Gilberto Silos

 

Sobre Gilberto Silos 192 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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