Ansiedade

Por Milton T. Mendonça

2h35min. A espera começa cansar. O quarto é pequeno, da janela se vê uma ponta do pátio nu. Pessoas caminham de lá pra cá sob o sol escaldante da tarde que se esvai lentamente. O medo deixa minha pele fria, pegajosa. Olho o telefone preto, antigo, que descansa silencioso em cima da mesa suja. Volto à janela, espio e procuro alguém à espreita. Nada! O céu límpido, azul brilhante ofusca meus olhos. Afasto-me tenso, e me deito na cama que range sob meu peso. Procuro descansar, mas as lembranças me deixam ansioso. Levanto-me de um salto e flexiono as pernas. Olho o relógio pela enésima vez, o tempo não passa. Procuro algo para ler. Olho debaixo da cama. Abro as gavetas, remexo as cortinas, viro os travesseiros. Caminho até a porta e volto contando os passos. O calor me faz suar. Vou ao banheiro, pego a toalha e enxugo o rosto, os braços. Desabotoo a camisa e esfrego o peito. Abro a torneira da pia que jorra água morna, molhando o piso de ladrilhos vermelho. Ouço passos! Corro para a porta pronto a abrir ao primeiro toque. Eles não param. Acompanho com ouvidos atentos, até sumirem ao longe.

Imagino armadilhas perversas sendo armadas ao longo do caminho. Ouço um tiro. Ouço gritos de dor. Mas o carro passa resfolegando, reclamando a idade.

3h. O atraso já é de meia hora. Algo acontecera, algo muito sério acontecera. Penso em ligar, mas não posso. O código fora criado considerando todas as possibilidades, e deve ser respeitado. Volto à janela e olho ao redor apreensivo. Nada vejo que mostre perigo. O calor lá fora é estonteante. A rua está vazia. Percebo um cão na penumbra do outro lado, que levanta a cabeça e me olha cansado. Aumento o ar-condicionado, o frio não faz diferença. O suor escorre fluido, descendo frouxo pelo meu corpo.

Vou até a porta e a abro rapidamente. O corredor está silencioso. Um homem sentado no saguão lê o jornal tranqüilamente. O garçom caminha em direção oposta. Nada indica perigo. Tudo está calmo, silencioso. Meu coração bate acelerado. Meu estômago se retrai e se revolta, deixando um gosto amargo na boca.

Volto para dentro e tento relaxar. Sento na poltrona de curvim azul esverdeado e procuro me entreter com o desenho da almofada. Percebo as linhas que se contorcem num círculo concêntrico, terminando num ponto. Preto em fundo verde.

3h22min. Estou preste a ir embora. Sei que ao sair não mais poderei voltar. A regra é clara, caso não venha. Esqueça! Nunca mais poderemos nos falar. A decisão fora tomada e eu perdera. Hesito! Mais um minuto.

3h23min. A porta se abre devagar e ela entra meio assustada, meio constrangida. Levanto de um pulo e a abraço agradecido.

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