CRÓNICAS DE SÃO TOMÉ/ Chuva

Chuva

 

A “chuva de molha tolos”  está   para o orvalho   e a cacimba   como estes últimos   estão   para o sereno. Aqui pronunciado   deliciosamente  “serreno”. Quando os primeiros pingos de chuva começaram   a fustigar-me as costas  alguém alvitrou   que não   era chuva,  era “serreno”.  Depois as gotas tornaram-se mais grossas e passaram a chamá-las de “chuvisco”.  As palavras podem ser as mesmas mas estão   cheias de coisas e sensações   com outra intensidade.  É   uma questão   de percepção.  Enquanto vou fazendo mentalmente   acrobacias para entender por que razão   um simples chuvisco  me   deixa encharcada  até   aos olhos  explicam-me   que, neste caso, podemos afirmar   que é de chuva que se trata.

Pergunto se demora a passar. Depende, explicam-me, se for “chuva homem”   passa   depressa   mas se for “chuva mulher”… essa demora a passar!. Rio-me com gosto e não   forço   o esclarecimento   óbvio  que no entanto acaba por me chegar. “Mulher quando fala…hehehehehehehe…”. Opto por não me melindrar   com piadas   que perpetuem   as crenças   sobre  diferenças   de género,   nem sempre fundamentadas (ok, acabei de fazê-lo!).

Rio sem sombra de rancor nem pudor. Finalmente   constato   que a natureza tem   razão e os homens tentam reduzi-la   a palavras.  É   mesmo “chuva mulher”:  não   há   meio de passar, é   barulhenta, insistente  e impertinente.

Como   eu,   por vezes, com   a minha chuva de palavras   fora de estação.

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