Entrevista com o escritor Gustavo Elói

GUSTAVO ELÓI LANÇANDO SEU PRIMEIRO TRABALHO

Ainda nos nossos dias, existem pelo Brasil, inúmeros talentos não divulgados e que sequer tem a oportunidade de expor seus trabalhos e pensamentos… Este é o caso de Gustavo Elói, de Jacareí/SP… Atualmente residente em Wenceslau Brás/MG, Gustavo resolveu dar o pontapé inicial, se utilizando da Literatura para se expressar artisticamente… E o ENTREMENTES conseguiu contato com Gustavo Elói, para que o mesmo nos fale a respeito de sua primeira obra recém lançada, intitulada “Cinzas em Água e Sangue” – (Cleber Crispim)

 

1- Como foi o processo criativo por trás da criação de “Cinzas em Água e Sangue”???
GUSTAVO ELÓI: Meu processo de trabalho é algo bem natural: saio da cama, preparo um café, ligo o PC e começo a ordenar as ideias, a desanuviar a cabeça, a sair da sonolência noturna agarrando na cauda de impressões por ela deixadas, como alguma imagem de sonho que perdeu o sentido na vigília, e que reclama certa atenção. Meu processo de criação está naquela fronteira, meio incerta, entre a inconsciência e a consciência. Ao escrever, saio tateando de um lado em direção ao outro.

2- Como chegou ao título da obra???
GUSTAVO ELÓI: Depois que as histórias se fecharam, depois que adquiriram um sentido por si mesmas. Quando começo a escrever, como disse acima, não tenho um objetivo delineado, não parto de um planejamento sistemático. É uma travessia tateante, mesmo, na qual as personagens vão vagando com suas próprias pernas, vão saindo da noite… Quando então alcançaram a luz do dia, percebi que os elementos Àgua, Sangue, Cinzas, nortearam o caminho por elas percorrido. O título se impôs por si mesmo.

3- Fale-nos a respeito do conceito por trás da obra…
GUSTAVO ELÓI: O conceito que se desprendeu do trabalho, também por si e à posteriori, depois de feito, acho que é o da errância, o caráter itinerante da existência, sua incerteza fundamental e o modo com que o homem se cria a partir dela, nessa folha em branco, nesse horizonte sem desígnio nem finalidade. Acho que nas entrelinhas do texto se discerne o vazio que incita o homem a se encontrar, e sobretudo a se perder, na vida. É isso que dá um caráter existencial às histórias.

4- Parece que os três contos contidos na obra estão conectados… Fale-nos a respeito dessa conexão…
GUSTAVO ELÓI: O projeto inicial era o de escrever alguma história, qualquer história. Quando iniciei ela não tinha rosto, estava imersa em nevoeiro, seu sentido era garimpado linha a linha, e não sabia em que buraco estava me enfiando. Mas no fundo encontrei três personagens, cada qual com sua característica, seus dilemas, fragilidades e virtudes, e cujo denominador comum era o de habitarem um só subterrâneo, um mesmo buraco. Por isso, ao invés de um romance linear, o livro se tripartiu em contos que convergem sobre uma unidade de fundo, o vazio onde cada qual derrama seu elemento: ora o sangue, aquele a água, o outro as cinzas.

5- Quais as suas influências literárias??? Existe algum escritor que você aprecie a forma de escrita???
GUSTAVO ELÓI: Aos 18 anos mergulhei numa crise profunda. Tudo que até então constituía meu mundo se partiu, perdeu significado, passou a gravitar ao meu redor, como um grande absurdo: as perspectivas se mostravam sombrias no início dos anos 2000; a vida ordinária, adulta, prosaica, fechada no trabalho e na família, não me trazia qualquer atrativo. Foi quando passei a redescobrir o mundo através da literatura; foi quando descobri outras possibilidades, muitas outras. Lembro do impacto que Crime e Castigo, do Dostoiévski, me causou. Também entrei com gosto no subsolo de suas memórias, a do cárcere; acompanhei seus demônios, me compadeci de seu idiota. Depois veio Kafka, veio Nietzsche, Heidegger, Baudelaire, Sartre… Daí, para redescobrir meu mundo específico, recorri ao Erico Verissimo, à Raduan Nassar, João Ubaldo, Lourenço Mutarelli, este hoje meu autor preferido… Enfim, foram eles que me reabriram o mundo.

 

6- Como foi o processo de escolha da arte da capa???
GUSTAVO ELÓI: Não participei dela. O critério foi da editora.

7- Como foi o processo de acordo com a Editora???
GUSTAVO ELÓI: Conclui o texto em abril deste ano… A propósito, me permita um comentário: Cinzas em Água e Sangue não é meu primeiro trabalho de ficção; já havia escrito outros dois originais, com os quais perdera toda esperança de publicação. O mercado literário é mais “underground” que o da música independente, para você ter uma ideia. Existem os autores canônicos, estabelecidos no nicho, e abaixo toda uma leva de escritores desconhecidos, sem leitores, sem prateleiras, sem recursos, só com um livro muito manuseado debaixo do braço. Sou mais um desses últimos, já sem qualquer ilusão. Compreendo muito bem o receio de se investir 38 reais num livro de um anônimo, de um rabiscador em mesa de cozinha. Eu também cogito antes gastar em litrão; aqui não há riscos; lá se pode sacrificar além do dinheiro, tempo. Enfim, já sem esperanças, continuava a escrever mais por uma necessidade íntima, para explorar aquela fronteira que falei acima, e me divertir com isso. Mas eis que uma pequena editora de Guaratinguetá me retorna um e-mail, Editora com os pés no chão, edita poucos exemplares, envia para alguns influenciadores, propõe um contrato razoável, 60 e 40% das vendas para cada parte, sem custos de produção para o autor. Abracei a proposta e cá estamos.

8- Existem projetos para trabalhos futuros ???
GUSTAVO ELÓI: Sim, continuo minha exploração arqueológica, é o que gosto de fazer, independente das consequências práticas, quase nulas. No momento estou descobrindo uma história linear, que me arrasta para os confins da serra da Mantiqueira do século XVIII. Estou bem empolgando com ela; é ela que vem inaugurando meus dias.

9- Ao que sabemos, você também é músico… Existe algum projeto para trabalhos nesta arte ???
GUSTAVO ELÓI: A música é a arte que me trouxe o primeiro impacto, por assim dizer, estético. Descobri a arte pela música, lá, aos 10 ou 12 anos de idade, e desde então sempre esteve comigo, mesmo que nunca tenha saído do perímetro de meu quarto, mesmo que só tenha soado em meu amplificador particular. Se antes escrevi um livro é porque riscar papel é mais barato, e mais fácil, que gravar um som. Agora, porém, como a indústria da música perdeu o monopólio dos meios, como produzir música está muito mais fácil, retirei a guitarra de seu sono, a um canto de casa, e, aliando-me a dois amigos, iniciamos a gravação de um EP., quatro músicas, equilibrando agressividade e melancolia: daí nomearmos o projeto como “Bipolar Noise”, por abarcar os dois polos da música subterrânea. É bem divertido criar sonoridades, como você sabe muito bem. Em breve divulgaremos por aí…

10- Deixe aqui suas considerações finais…
GUSTAVO ELÓI: Agradeço a conversa, sempre franca e leal, contigo, com os leitores da entrementes. Se não puderem gastar 38 reais com o livro de um indigente, não há problema; daqui algum tempo libero o pdf por aí. A desilusão tem dessas virtudes… Aos leitores que apreciem metal, doom metal, death metal, dark metal, fiquem ligados; no primeiro semestre de 2021 nosso primeiro registro virá à luz, prenhe de outros pesadelos. Até breve!

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