Mil novecentos e antigamente

 

Mil novecentos e antigamente

A nossa gente vivia assim:
fogão a lenha na cozinha,
crianças por todo lugar,
segredos na camarinha,
rádio de válvulas no aparador,
oratório na sala,
a morada de Nosso Senhor.

A nossa gente vivia assim:
a canoa fundeada no raso,
a rede preparada,
o espia a soprar no búzio,
o anzol na linha,
o espinhel na espera,
pois está chegando a tainha.

A nossa gente vivia assim:
um pouco de peixe,
um pouco de farinha de mandioca,
uma pitada de sal,
o tempero de um limão,
um tanto de coentro
e estava pronto o pirão.

A nossa gente vivia assim:
muitas bananeiras em volta de casa,
cana-de-açúcar, cafeeiros na capoeira,
coqueiros, cajueiros no quintal,
laranjeiras, rosas, mil-flores
e mais um pé de jasmim…
Ai, meu Deus, que saudades de mim!

Domingos dos Santos

 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*