O Dia em que os Loucos Atacaram

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O Dia em que os Loucos Atacaram

Por Gustavo Souza Silva

Assim foi o dia em que os loucos atacaram, louco. O castelo era seguro, assim diziam seus construtores. Os guardas eram o suficiente, assim dizia o capitão. Sirva-me o leitão, assim dizia o Rei, sentado em seu trono e engordando com o dinheiro respeitosamente roubado da plebe. Dling, dling, dlang, assim ressoava a harpa prostrada nas mãos do mais novo bardo. Então algum agito começou nos andares de baixo, o que será que aconteceu? Um Terremoto? Uma rebelião? Uma criatura mitológica? Não… eram os loucos que estavam atacando. Atacando não apenas os soldados, mas também eles próprios, e eles nem mesmo percebiam, afinal, eram loucos!

Você consegue imaginar o rastro de destruição que surgiu no meio do caminho? Eu lhes direi como foi a jornada dos loucos para assassinar o Rei, foi mais ou menos assim: Eles pulavam e corriam para muitos lados, como se perseguissem um coelho atrasado, mas eles sempre andavam para a frente – até mesmo nas escadas mais estreitas do castelo. Castiçais e lustres caiam, afinal, os loucos sabem escalar paredes. Não há guarda imperial que resistisse a tal poder de ataque, afinal, o avanço dos loucos era nada mais nada menos do que caótico. Eles até cantavam! Lembro-me até da entonação que eles usavam em seu coro para a grandiosa figura do rei:

Não pegue um pedaço da nossa torta!

Não pegue um pedaço da nossa torta!

Não pegue um pedaço da nossa torta!

O coro repetia e repetia a onda dos loucos seguia por corredores e mais escadas, obviamente daí vinha o tremor. Pés para cá, pés para lá, todos pulando e dando mortal, produzindo trovões no palpitar do Rei, figura maiúscula e sem rosto, mas com um coração que batia como um tambor. Será que irão me atacar? Será que poderei cantar outra ópera em minha vida? Estas e muitas outras questões rondavam a cabeça do Rei, que, acima de tudo, ansiava por saber uma coisa: Será que o estúpido guarda se esqueceu de trancar a cela dos loucos? Afinal, todos eram bem guardados… mas a fuga dos loucos não foi devido a algum guarda distraído, mas sim à sabedoria de toda loucura. O saxofone cantou para um louco pescando num lago metafórico, e neste lago havia um louco de chapéu de palha e vestes rurais. Ele estava pescando guardas idiotas, e pelo que se pode ver, este louco com certeza saiu feliz do barco. Que sorte a sua hein pescador, assim disse um louco que achava que era um imperador chinês.

Agora o que importa não é isto, não tanto para o rei, que sentia um temor que poderia ser cantado pela mais bela voz. Afinal, ele ouvira a canção e as exclamações, que cresciam com o ascender dos passos dos loucos. Não pegue um pedaço da nossa torta! Não pegue um pedaço da nossa torta! Não pegue um pedaço da nossa torta! Não pegue um pedaço da nossa torta! NÃO PEGUE UM PEDAÇO DA NOSSA TORTA! O coração pulou para fora do peito do Rei quando a porta foi escancarada com o caótico coro dos loucos. NÃO PEGUE UM PEDAÇO DA NOSSA TORTA! NÃO PEGUE UM PEDAÇO DA NOSSA TORTA! Olá, disse o rei dos loucos em frente ao rei dos lúcidos, segurando uma adaga de insanidade. Você levantou a espada, disse o mais louco dos loucos, Você fez a mudança. Você me torturaria até eu ficar são. Há alguém em minha cabeça, mas não sou eu, e não consigo pensar em mais nada para dizer, exceto por isso: ISSO É MARAVILHOSO!

O coro de loucos ascendeu, mas agora apenas num cantarolar para aqueles que observaram atônitos à cena. Ó cena, tão cruel cena, nenhum sangue foi derramado, mas que cruel cena. Vejam o que aconteceu com aquela espécie de deus em seu trono, mas que vergonha! O início do fim de mais um rei tirano. Ninguém morreu naquele dia, pois os loucos não possuíam armas reais, apenas aquelas inventadas por aquelas insanas mentes. Ninguém morreu, mas após dar as costas ao rei e cantarolar pelo restante do caminho, em passos lentos e dignos de um som de Sinatra, uma ideia de relance abateu-se entre a plebe, prisioneiros da rotina. Ora, pensou boa parte da massa necessitada, se os loucos podem chutar este castelo de área, nós podemos derrubá-lo!

E assim morreu a figura daquele rei, assim morreram os sons de sua heroica canção. Morte que antecedeu uma frase que se tornaria lendária nos anos vindouros: E depois de tudo, ainda somos homens ordinários. E esvaiu-se o correr do coelho atrasado. Bem… Damas e cavalheiros, e assim foi o dia em que os loucos atacaram. E este é o fim desta épica trova, au revoir!

Sobre Quênia Lalita 434 Artigos
Quênia Lalita escreve poesia. É ilustradora, tradutora e faz revisão de textos. E mora em São José dos Campos, SP

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