O mistério de Elisa – Capítulo 2

Por Milton T. Mendonça

O mistério de Elisa – 2º Capítulo

 

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– É a Dra Elisa, suponho. Sou Dagoberto! Fui eu quem lhe enviou o vídeo.

Elisa segurou sua mão estendida e apertou sem muita convicção.

– Bom dia. Estávamos esperando pelo senhor.

Virou-se para a janela enquanto os dois homens se cumprimentavam, sentia uma necessidade imperiosa de rir a gargalhada. A cada elemento acrescentado mais bizarro se transformava aquela expedição – pensou consigo mesma – esforçou-se para não gargalhar, não queria ofender o homenzinho. Pensou no irmão morto no auge da juventude e uma lágrima rolou dos seus olhos. Quando se voltou estava séria e compenetrada.

– O senhor conheceu o engenheiro Marcus Vinicius? Perguntou de supetão ao perceber que o estranho a observava.

– Bom…

O homem vacilou e por um momento sentiu uma energia violenta sair daquele pequeno corpo e voar em sua direção.

– Na verdade devemos partir o quanto antes para o interior. A estrada nessa época do ano não é muito boa para se trafegar. A chuva dos últimos dias deixou tudo lamacento e escorregadio.

João pediu licença para ir buscar os equipamentos e saiu rápido do restaurante. Dagoberto o seguiu e, na porta, virou-se para a saída, desaparecendo do seu campo de visão. Elisa ficou parada olhando os dois se afastarem com uma sensação incomoda na boca do estômago.

O jipe percorreu a estrada lamacenta subindo e descendo os aclives facilmente, apesar de velho e maltratado pela falta de cuidado de seu proprietário. Os doze quilômetros foram percorridos em pouco mais de vinte minutos. Elisa não teve tempo de questionar o guia sobre o que vira no vídeo e, os solavancos do carro durante o trajeto não permitiu que abrisse a boca.

Dagoberto bateu em seu ombro e mostrou a árvore ao longe. Estavam chegando ao final da viagem. O descampado terminava abruptamente no inicio do monte verdejante que contornava todo seu perímetro. No alto a caverna, como um ciclope, a olhava meio escondida por entre folhas e ramos.

– Os cabelos surgiram por toda parte até a vila de Nossa Senhora das Pedras, ao norte da cratera. Mas onde tem gente não fica muito tempo.

– O senhor acha que conseguiremos uma amostra para analisar? João perguntou espichando o pescoço na direção do homenzinho.

– Talvez, talvez!

– A chuva deve ter levado qualquer amostra – Elisa respondeu – talvez naquela caverna lá em cima possa ter alguma coisa.

– Sim – o motorista olhou-a sorrindo – estive lá em cima e vi porções de cabelo espalhado por todo canto. Penso que tudo começou ali e não no céu como algumas pessoas imaginam.

Olharam intrigados para ele e se voltaram para a caverna.

– Vamos direto para lá! Elisa ordenou seca.

– Está bem.

Dagoberto acelerou e virou o jipe para a direita entrando no caminho que os levaria ao pé do monte.

Estacionou o carro momentos depois e todos desceram curiosos com que iriam encontrar. Seguiram o homenzinho e entraram na caverna sem muito esforço. Lá dentro estava escuro e o cheiro recendia a limão.

– Ácido! – Elisa exclamou – cuidado onde pisa.

-Tem uma tocha ali atrás das pedras. Esperem aqui que vou buscá-la.

A caverna se alargava e se aprofundava até sumir na escuridão densa. Podiam ver montes de estalactites e estalagmites obrigando qualquer um que quisesse atingir o fundo seguir um caminho predeterminado. Bem no centro uma enorme pedra oval, chata como uma broa de milho, com mais ou menos metro e meio de raio, limpa como se fosse usada para algum fim específico, esperava para ser manipulada.

– Aqui está!

O pequeno guia levantou a tocha, orgulhoso – um pedaço de galho seco tendo em uma das pontas algo amarrado e encharcado com algum líquido inflamável – acendeu seu isqueiro e ao aproximá-lo uma enorme labareda iluminou o ambiente.

– Como é grande! João gritou de onde estava.

O chão próximo a entrada e sobre as estalagmites estavam cobertos de fios da espessura de cabelos. Elisa abaixou-se e tocou-os, num átimo e com um pequeno estalido evaporaram exalando um odor adocicado e sutil desaparecendo ao evolar para o teto. Mesmo assim pode sentir a densidade e sua textura. Levantou-se e foi tocando um após outro rapidamente até quase exterminar todos que se encontravam no ambiente.

– É sintético, não há sombra de duvida. Deu quase para sentir sua estrutura em minhas mãos.

– Concordo com você. Vamos colocá-lo em um frasco e quando evaporar não vai desaparecer. Assim poderemos analisar com os instrumentos.

– Vou lá embaixo pegar um recipiente, pare de tocá-los, tá bem?

– Vá logo!

João desceu deslizando pelo declive, bateu os dois pés no solo e se equilibrou remetendo o tronco para frente e movimentando os braços para os lados, respirou fundo e se ergueu ficando ereto sobre as pernas trêmulas. Um movimento inesperado chamou sua atenção. A meia distancia da árvore alguns veículos se aproximavam rapidamente. O primeiro tiro acertou seu braço direito, ficou paralisado com a dor repentina. Recuperou-se rapidamente, se virou ligeiro e subiu no único degrau da encosta. Com a mão esquerda segurando um tufo de mato rasteiro impulsionou o corpo caindo de joelho no topo da elevação. Arrastou-se morro acima chegando à caverna, enquanto os disparos ricocheteavam nas pedras ao seu redor.

– Elisa! – Gritou apavorado – Estamos sendo atacados.

O anão se aproximou e olhou para fora. Estava excitado. Tirou o aparelho do bolso e se comunicou com alguém usando palavras incompreensíveis. Mandou João se abaixar e sair da mira dos visitantes inesperados, que pararam para examinar o jipe, e se posicionou atrás de uma estalagmite. Ficou vigiando como se esperasse algo acontecer.

Elisa se aproximou e tocou seu ombro.

– Acertaram você? Perguntou com a boca próxima a sua orelha.

– De raspão! No braço direito.

– Deixe-me ver.

Elisa tirou sua jaqueta e rasgou a manga da camisa.

– Está cauterizado! Que estranho… Mas parece que não vai infeccionar.

– Não está doendo. O couro da jaqueta protegeu o braço.

Ouviram o grito de triunfo e olharam assustados para Dagoberto que saíra de seu esconderijo e fora para a entrada da caverna, os dois o seguiram parando à porta enquanto o homenzinho descia rapidamente o declive. Viram quando o veículo voador em forma de charuto lançou uma bola de fogo em direção aos homens que se espalharam correndo se afastando de onde estavam. O barulho ensurdecedor explodiu nos tímpanos dos dois ensurdecendo-os momentaneamente. Voltaram para dentro em busca de proteção.

Meio zonzo João se aproximou:

– Você está bem? – Perguntou preocupado.

– Sim! O que foi isso?

– Não sei, parece uma guerra.

Procuraram o pequeno guia e não conseguiram encontrá-lo. Elisa apoiou-se em João Saíram da caverna a tempo de ver alguns homens vestidos em trajes herméticos e com capacetes que cobriam a cabeça e o rosto, deixando-os irreconhecíveis, capturar os guerrilheiros caídos, provavelmente desmaiados ou mortos e carregarem para a nave que pousara no descampado e abrira a porta traseira.

– Quem são estas pessoas? Elisa perguntou confusa.

Ficaram contemplando em silêncio enquanto o serviço era finalizado. Finalmente a nave partiu sem emitir um único som. Ao passar sobre a caverna, a vibração do ar sendo afastado em alta velocidade jogou-os ao chão e amassou a vegetação contra o solo

Elisa abriu os olhos ao sentir algo roçar seu rosto levemente. O pequeno guia a tocava com os dedos. João sentado no chão e com os cabelos espalhados e sujos de terra esfregava o rosto e os olhos, ainda atordoado.

– O que houve? Perguntou confusa.

– Não se preocupe, estamos protegidos aqui dentro. Não corremos mais perigo. – Dagoberto respondeu incisivo

– Mas o que aconteceu? Quem são aquelas pessoas?

– Que veículo é aquele? Nunca ouvi falar dele…

Os dois perguntaram ao mesmo tempo.

Dagoberto levantou-se ao ouvir o zunido de seu celular e se dirigiu para longe dos dois. Ouviram sua voz e perceberam que discutia com alguém, mas não conseguiram entender o que dizia.

– Que língua é essa? Elisa perguntou indecisa.

– Nem imagino, Deve ser asiático… Ou dos Bálcãs.

– Ou tupi guarani – Riu nervosa.

– É pode ser…

João olhou em volta e exclamou surpreso:

– Todos os fios desapareceram!

– Não tem problema – O anão respondeu se aproximando – vocês não vão precisar dos cabelos. Tenho coisa mais interessante para lhes mostrar.

– Venham comigo!

Ambos se levantaram e o seguiram até a pedra em forma de broa de milho mais ao fundo. Dagoberto subiu e instigou para que fizesse o mesmo. Subiram e ficaram um em frente ao outro. O pequeno guia pegou seu celular e apertou a tecla como se fosse fazer uma chamada. Imediatamente se ouviu um estalido e a pedra se movimentou, contraiu-se e começou a afundar. Os dois levaram um susto, perderam o equilíbrio e se abraçaram para não cair. O piso da caverna foi subindo até encobri-los totalmente.

– O que significa isso? – Elisa perguntou espantada – para onde está nos levando?

– Calma logo saberão. Não fiquem alarmados, nada de mal vai acontecer a vocês.

A passagem por onde desciam era uma circunferência perfeita e isto rompeu a ansiedade crescente de Elisa trazendo-a para a novidade do momento. Olhou em volta com mais acuidade e não acreditou no que via. Passou a mão lentamente pela parede e sentiu a textura.

– É polímero! Exclamou para si mesma.

– Deve conter prata também… E a iluminação? De onde vem? Incrível…

– Como?! João levantou a cabeça e a olhou inquisidor.

– A parede, João! Não é incrível? É um tipo de polímero prateado. Dá para sentir sua resistência… E a iluminação parece que sai do próprio material… Nunca vi nada igual.

João observou sua volta, tocou na parede e olhou-a surpreso.

– Não conheço essa tecnologia… Talvez seja do governo.

– É pouco provável, eu saberia… Tenho contatos dentro do governo… Veja! Parece que a velocidade está aumentando! Olhe para esses pontos vermelhos… São marcadores de velocidade, está vendo? Sem eles não perceberíamos o movimento…

– É verdade… Está aumentando.

Ficaram olhando para os pontos que aumentavam de velocidade a cada reinicio em torno do triangulo de pouco mais de cinqüenta centímetros, até se transformar em uma linha contínua. Após alguns segundos e a cada dois minutos um traço de cor amarela surgia se juntando a anterior. João observou o relógio mais algum tempo antes de se virar para o pequeno guia.

– Falta muito para chegarmos?

– Mais algum tempo. Respondeu sucinto com um meio sorriso no canto da boca.

– Onde estamos indo – Elisa perguntou – É um laboratório?

O casal olhava para o anão com grande apreensão, seu semblante estava descontraído e o brilho de satisfação em seu olhar era algo impressionante.

– Não, não é um laboratório. É algo muito melhor. Acalmem-se Não quero deixá-los preocupados, como disse, não existe motivo para temor. Preparem-se para uma experiência que mudará suas vidas para sempre.

Tentaram arrancar mais informação, mas nada conseguiram. Levantaram várias hipóteses que foram rechaçadas com ironia e bom humor. A curiosidade de ambos haviam crescido inversamente ao medo de estar sendo levado para uma armadilha. Estavam calmos e relaxados quando João apontou para o marcador. Os traços amarelos havia desaparecidos e, apesar de ainda muito rápidos, os pontos estavam de volta.

Meia hora se passou antes do elevador parar definitivamente, o que foi confirmado pela ausência de movimento dos pontos vermelhos, que estacionados na base do triangulo, começaram a piscar. Estavam viajando há quase duas horas. Sem nenhum aviso a luz da parede mudou de cor. Primeiro vermelho vivo, logo após, verde e depois violeta. A velocidade foi aumentando alternando as cores: vermelho, verde, violeta, vermelho, verde, violeta, vermelho, verde, violeta, vermelho, verde, violeta, cada vez mais rápido até desaparecer por completo e ficarem numa escuridão impenetrável. Passaram-se longos minutos até as luzes se acenderem e com um estalido a porta se abrir.

A primeira coisa que viram foi a sala enorme cheia de equipamentos. Percebia-se que era de alta tecnologia, mas o formato e a função lhes eram desconhecidas. Sentiam-se tontos e enjoados, não conseguiam sair do lugar. O anão voltou-se para eles sorrindo.

– Chegamos, podemos sair…

– Espere um instante estou tonta! – Elisa exclamou lá do fundo, encostada a parede.

João respirou fundo e com gestos pediu paciência.

– Já vai passar – Dagoberto explicou – é a diferença de pressão. O corpo se acostuma rapidamente, ele foi tratado não se preocupem.

Saíram dali sem ser incomodados pelos homens que trabalhavam na sala. Todos estavam cobertos dos pés a cabeça com uma malha emborrachada aderente ao corpo, Não se podia identificar sexo ou idade. Cumprimentaram o pequeno anão, tocando-o e emitindo um som abafado que poderia ser compreendido como sorriso. O que foi retribuído com prazer.

O veículo elétrico esperava ao saírem do aposento. Dagoberto acomodou-os e com sua destreza habitual os conduziu por corredores infinitamente longos, dobrando aqui e ali sempre acompanhando o código de cores. Seguiram a linha verde que os levou a uma área residencial, onde foram recebidos por belas jovens, com não mais de trinta anos. Foram deixados sozinhos em um amplo aposento.

O pequeno guia explicou que deveriam ficar ali até serem chamados, mostrou os quartos e a área comum.

– Vamos nos encontrar novamente? Elisa perguntou.

– Não é normal isso acontecer – Respondeu – Mas não se preocupem, estarão bem.

Continua no próximo capítulo…

Sobre Quênia Lalita 434 Artigos
Quênia Lalita escreve poesia. É ilustradora, tradutora e faz revisão de textos. E mora em São José dos Campos, SP

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