Um Saci na São Silvestre!

31-12-2013

89ª São Silvestre 2013

É dia 31 de dezembro? Então para os amantes das corridas de rua é dia da maior de todas, a Corrida Internacional de São Silvestre! E como já é tradicional, o Entrementes se fez presente, tanto fora quanto dentro da “pista”, com mais uma participação deste poeta-atleta que vos escreve.

Só que minha história na SS deste ano começou alguns dias antes, mais precisamente no dia 20 de dezembro, num treino leve pela manhã. Leve na intensidade, pesado nas consequências… com apenas 8 Km corridos, senti uma fisgada na panturrilha direita. Tentei continuar mas logo vi que não daria mais, pois havia sofrido uma contratura no local, o que provavelmente era o fim de minha sexta participação na SS, a quinta seguida. Voltei mancando pra casa mas decidi que iria tentar sarar por milagre nesses 10 dias que ainda faltavam, e comecei a tratar da lesão, da melhor forma que foi possível. Ela foi melhorando a cada dia, o que me deu esperança de conseguir participar. E chegou o dia da prova… eu sabia que não estava totalmente curado mas tinha esperança de que, indo num ritmo mais lento, conseguir terminar a prova, e sem andar (jamais andei durante uma corrida e pretendo me “aposentar” sem fazê-lo).

Largada novamente pela manhã, às 9h, mesmo traçado do ano passado, a novidade neste ano foi a participação de meu cunhado Célio, debutando na São Silvestre. Chegamos mais tarde este ano e por isso ficamos bem lá para trás na largada, acho que foi a que demorei mais tempo par sair do lugar depois que já havia sido dada a largada… cerca de meia-hora!

E lá fomos nós, bem devagar no início, como é imperativo nessa corrida, que neste ano contou com a participação de quase 28 mil inscritos, isso sem falar nos que correm sem a inscrição oficial. Deixamos a Paulista (a qual eu esperava rever no final da prova) e seguimos para o Túnel  José Roberto Fanganiello Melhem e em seguida para a Avenida Dr. Arnaldo. E ali, com apenas 1 quilômetro de prova, minha panturrilha ligou o sinal de vermelho de “pare”. Foi muito frustrante, esperava que se a contratura fosse voltar, que fosse pelo menos perto do final da prova. Avisei o Célio que estava ao meu lado de que a corrida tinha terminado pra mim, e que iria voltar dali pra largada, que ao menos estava bem perto ainda. Mas meu lado teimoso assumiu o controle e mudei de ideia, e disse que a ele que iria continuar mais um ou dois quilômetros pelo menos, só para sentir o estado da perna. Ele prontamente mostrou sua solidariedade e perguntou se eu queria que ele me fizesse companhia, mas eu jamais iria estragar a corrida dele, ainda mais sendo a primeira SS do cara… disse para ir em frente e que eu iria me virar.

Diminuí a velocidade mas não adiantou muito, eu só conseguia correr mancando de forma bizarra, pisando apenas com o calcanhar da perna machucada. Passei pela Major Natanael e pela Rua Desembargador Paulo Passalaqua e daí cheguei na Avenida Pacaembú. Foi nesse trecho de descida íngreme que ocorreu um acidente fatal com um cadeirante no ano passado. Já era o Km 3 e a panturrilha parecia ter uma adaga fincada nela, dados as pontadas de dor onipresentes a cada passo, mas eu decidi não parar ali e ver até onde conseguiria chegar, sempre correndo quase feito um Saci. No Km 4 chegamos ao primeiro posto de hidratação e peguei minha primeira garrafinha… em temperatura ambiente. Algumas gôndolas tinham água gelada, outras não… pecado lamentável da organização. Em seguida veio a Alameda Olga, com sua subida de apenas 300 metros, mas de inclinação considerável. Ali notei que as subidas seriam minhas aliadas na prova, pois a contusão incomodava bem menos que no plano e descidas, Aí eu notei também uma situação curiosa: se por um lado eu corria mancando muito, por outro, devido ao ritmo mais lento que meu normal, eu não estava me cansando como normalmente ocorre numa prova forte como essa. Se a perna chorava, o pulmão estava quase em estado de descanso. E isso me ajudou na teimosia de ainda não parar e ver até onde iria aguentar.

Memorial da América Latina e Viaduto Pacaembu ficaram para trás e chegamos na Avenida Marquês de São Vicente, no quilômetro 7 e ao segundo posto de hidratação. Eu pelo segundo ano seguido havia esquecido o boné no ônibus mas dei sorte… às vezes até abria um sol durante a prova, mas na maior parte do tempo o céu se mostrava cinzento (como se ouvesse outro tipo de céu na capital paulista).

O  número de pessoas assistindo a prova nas calçadas aumentou em relação ao ano passado, o que é muito bom, apesar que este ano eu estava tão concentrado na perna que quase não fiz uma de minhas atividades favoritas na SS, que é tocar na mão das crianças que as esticam para a gente, mandando energias positivas. Antes de chegar na Avenida Rio Branco, oba, mais uma subida para me ajudar, que foi a do Viaduto Engenheiro Orlando Murgel. muita gente andando e eu fiz uma coisa surreal para a minha situação… comecei a ultrapassar muita gente! Depois do Monumento a Duque de Caxias chegamos ao Km 9,5 e ao terceiro posto de hidratação. Há que se registrar a “briga” que algumas vezes se vê, com pessoas empurrando umas as outras, ávidas para pegar a garrafinha de água primeiro. Pressa dez, educação zero. Nesses postos de hidratação também há postos médicos, com ambulâncias estacionadas… quando passava por elas eu me perguntava se não teriam aqueles sprays “milagrosos” que os jogadores de futebol usam, mas eu temia que, se parasse de correr por um instante que fosse e perdesse o ritmo de minha “corrida -saci”, não conseguisse mais continuar. Viaduto do Chá e Praça da República ficaram para trás, e ali estava eu no imortal cruzamento da Avenida Ipiranga com o da Avenida São João! Vinha logo ali o Km 12, será que eu iria conseguir terminar a prova mesmo praticamente numa perna só? Seria incrível! Insano também, claro.

Teatro Municipal visitado, Largo Paysandu e Largo São Francisco ficando para trás, e pronto, lá estava a temerosa Brigadeiro Luis Antonio logo à frente. Confesso que só ali fui ver o tempo de prova, e notei que estava com 1h22min de corrida/mancada, tempo esse que seria provavelmente o que eu faria na prova completa, se não estivesse lesionado. Passei no posto de hidratação que fica no começo da avenida e lá fui eu subir o morro de quase 2 quilômetros, rumo ao final da prova. Como a lesão atrapalhava menos em subidas e eu não estava cansado devido ao ritmo lento que fui forçado a adotar, o sofrimento não foi desumano, mesmo mancando eu subi num ritmo razoável  e ultrapassei muita gente que só andava.

Ignorei o último posto de hidratação, no final da Brigadeiro, e entrei na Paulista, mal acreditando que tinha conseguido isso. Obviamente não pude dar nenhum sprint final, o que fiz foi manter o ritmo e cruzar a linha de chegada mais improvável de minha carreira de corredor. Provei que a teimosia supera a dor! Fechei com o pior tempo de todas as minhas SS, mas isso foi o de menos. Esta foi, de longe, a que eu mais deveria comemorar. Foram lentos 1h42min de prova, com uma média de 166 batimentos cardíacos, com um pico de 188 batimentos por minuto.

Detalhes positivos a serem citados: a solidariedade de alguns concorrentes, que me perguntavam o motivo de estar mancando tanto. Isso não só no final, mas durante todo o percurso. E como critiquei a hidratação às vezes quente, devo citar também a parte positiva: o post ode Gatorade, geladíssimo e em saquinhos, que facilitam muito o consumo. Este fator deveria ser ecoado pela Ayrton Senna Racing Day, que disponibiliza o isotônico em copos, o que torna quase impossível o atleta consumir sem parar de correr por alguns segundos.  Depois de pegar minha sofrida medalha (mais uma vez imponente, nisto a organização sempre capricha), fui me encontrar com o Elizabeth (que cobria o evento) e o Célio, que sofreu com cãimbras nas duas pernas e teve que andar na subida da Brigadeiro. Ele acabou fechando em 1h51min, bem razoável para um estreante na maior corrida do país. Parabéns rapaz!

Agora é tratar a lesão para estar apto o mais rápido possível.
Conectando ideias, conectando Corridas de Rua!

89ª São Silvestre 2013 – Classificação Prova Masculina

1.Edwin Kipsang (QUE) – 43min47s
2.Mark Korir (QUE) – 44min08s
3.Stanley Koech (QUE) – 44min29s
4.Giovani dos Santos (BRA) – 44min49s
5.Abderrahime Elasri (MAR) – 45min28s
6.Joseph K.Aperumoi (QUE) – 45min43s

89ª São Silvestre 2013 – Classificação Prova Feminina

1.Nancy Kipron (QUE) – 51min58s
2.Netsanet Kebede (ETI) – 52min08s
3.Jackeline Sakilu (QUE) – 52min29
4.Sara Makera (TAN) – 52min40s
5.Delvine Meringor (QUE) – 52min46s
6.Suel Pereira (BRA) – 53min00s

DALTO FIDENCIO
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