Uma Cultura sem barreiras

 

Uma Cultura sem barreiras

Cheguei em São Paulo em 1961, vindo de uma cidadezinha do interior, local sem vida cultural. Imaginava que na capital minha fome de cultura seria saciada. Isso não aconteceu. Mesmo naquela imensa metrópole, o acesso à cultura encontrava barreiras. As opções eram poucas, caras e elitizadas.
Nos teatros e nos shows os ingressos estavam muito além do meu bolso. Galerias de arte? MASP e mais algumas frequentadas pela alta intelectualidade paulistana.
Em 1968 o MASP foi transferido para a Avenida Paulista, naquele prédio suntuoso, projeto de Lina Bo Bardi. Sua entrada voltada para a zona Sul, onde se localizam os Jardins, a região rica e aristocrática, também chamada de “nobre”. Os fundos voltados para o Centrão e bairros operários. Coincidência? A Paulista é a linha divisória entre as duas São Paulos.
O que sobrava para mim, jovem pobre, morador do Bixiga? Apenas os concertos matinais, gratuitos, realizados aos domingos no Teatro Municipal. Foi meu primeiro contato com a música erudita.
Quando aportei em São José dos Campos, no início dos anos 70, notei um ambiente cultural restrito a apresentações na Sala Veloso e Teatro Benedito Alves da Silva, mais uma ou outra atividade sem muita repercussão. .
Na minha limitada visão, a cultura em São José começa a ganhar alguma expressão nos anos 80. Parece que o processo de redemocratização do país lançou uma brisa de renovação nessa área. Movimentos populares culturais, informais, espontâneos, desvinculados do poder público, começam a ocupar as praças. A partir daí surgem a Rádio Aguapé, os Celebreiros da Poesia e outros.
Com a criação da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, a cultura toma um novo rumo, tornando-se política pública municipal. Outras instâncias culturais, como o SESC, por exemplo, começam a ganhar destaque, com a criação de novos espaços.
Mas faltava descentralizar, levar a cultura ao povo nos bairros, apagar sua imagem elitista. Uma iniciativa positiva da FCCR foi criar, então, as Casas de Cultura, oferecendo e tornando acessíveis as atividades culturais à população mais distante.
Penso que mais pode ser feito. Implantar mais Casas de Cultura nos bairros mais periféricos. Criar novos espaços. Estimular e apoiar as entidades da sociedade civil que atuam nessa área, contudo, respeitando-lhes a autonomia.
Os movimentos populares e as entidades da sociedade civil podem ser excelentes promotores da cultura. Temos um belo exemplo que é a Cia. Cultural Bola de Meia,
Descentralizar a cultura é dar-lhe capilaridade, é fazê-la chegar a todos os rincões, respeitando, assim, o direito do cidadão.

Por Gilberto Silos

Sobre Gilberto Silos 190 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

1 Comentário

  1. Gostei da lembrança da Sala Veloso que frequentei em 1977, e tenho saudades e curiosidade de saber qual era o endereço desse lugar. Se ainda existe? Saudades

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