Uma rara oportunidade
Hoje é o nono dia da quarentena. Fico imaginando como deve ser angustiante para muita gente uma mudança tão brusca em sua rotina.
Li e assisti pela televisão alguns psicólogos aconselhando a manutenção de hábitos que repliquem a rotina diária. Argumentam com a necessidade de evitar traumas e problemas emocionais decorrentes do isolamento social. Sob essa perspectiva, o ideal seria fazer as refeições nos horários habituais, vestir as roupas comumente usadas para ir trabalhar, dentre outras recomendações. Em síntese, fazer tudo o que já se fazia sem, obviamente, sair de casa. Para os espíritos mais críticos isso não passa de uma forma de permanecer na zona de conforto, reforçada literalmente pela permanência no lar. Comodismo? Insegurança? Não julguemos, pois cada um sabe onde lhe aperta o sapato.
Por outro lado, respeitando o direito de escolha de cada um, eu me pergunto se não seria abrir mão de uma rara oportunidade de experimentar novas vivências. Talvez se apresente o momento de descobrir algo inusitado, de explorar áreas desconhecidas dentro de nós mesmos, de surpreendermo-nos com potencialidades jamais imaginadas. Sair da caixinha. Reinventar-se.
Experimentar algo novo tende a ser muito enriquecedor. Arriscar-se no desconhecido pode ser comparado a uma travessia cujo destino é imprevisível. É uma experiência instigante, uma aventura que pode nos tornar pessoas melhores, mais fortes e destemidas. Uma oportunidade de descortinar novos horizontes.
Em um de seus belos poemas, Fernando Pessoa diz: “É o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la teremos ficado à margem de nós mesmos.”
Certamente, para alguns, essa travessia, no isolamento social, não será agradável, mas poderá ser redentora. A meditação e reflexão talvez conduzam ao encontro com o “Minotauro” na escuridão do “Labirinto” interior. Oportunidade de remover sombras da consciência e dar leveza ao coração.
Aceitar o novo, não temer a dor! Queimar navios e não voltar atrás!
Que oportunidade!
Por Gilberto Silos
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