Carpe Diem

Por Amy Champagne

CARPE  DIEM

Os primeiros dias de abril me deixaram aturdido  com as notícias a respeito da educação neste país. A troca de um ministro da Educação conservador, indicado por pretenso filósofo e ex-astrólogo profissional, por um outro igualmente conservador foi uma dessas notícias. Trocou-se seis por meia dúzia?  Aconteceu no  primeiro dia de abril e, o mais triste, é que não é mentira.

Fico ruminando, cá com meus botões, o que poderá acontecer nos meios educacionais de uma nação de população jovem como a nossa. Afinal, estamos em que século? Vamos olhar o mundo pelo retrovisor ?

Absorto em minhas reflexões, lembrei-me do papel  de Robin Williams no filme “A Sociedade dos Poetas Mortos”.

Robin protagoniza John Keating, professor de literatura da Welton Academy, escola ultraconservadora, onde estudavam os filhos da elite norte-americana.

O lema da escola era “Honra, Tradição, Disciplina e Mérito”.  De início já é possível imaginar a rigidez do ambiente. Aos alunos não se concedia outro direito a não ser absorver  o conhecimento que lhes era imposto. Obedecer normas incontestáveis, sem o mínimo espaço para inovações e criatividade era o padrão vigente.

Essa situação nos faz pensar no mito da Caverna de Platão, sendo a escola a própria caverna. Os estudantes, acorrentados lá dentro, vislumbravam apenas sombras da luminosa realidade externa.

Keating, ex-aluno da escola, tenta  revolucionar o ambiente. Numa jogada de alto risco procura mudar aquele esquema tradicional, desde o relacionamento entre professores e alunos, até a metodologia de ensino.

Como professor de literatura trabalha no sentido de que aqueles jovens tenham uma nova e mais profunda compreensão das poesias e obras de Shakespeare. Estimula a todos a transcender os tecnicismos da arte poética, acrescentando-lhe mais liberdade, espontaneidade, sentimentos e sonhos. E, principalmente, autonomia para pensar. Heterodoxia. Pluralidade de pontos de vista. Alguma dose de iconoclastia.  E afirma para seus alunos: “Nós não lemos e escrevemos poesia porque é bonito. Lemos e escrevemos porque pertencemos à raça humana. E a raça humana é cheia de paixão”.  Keating inspirava-se no “Carpe Diem”, frase de um poema de Horácio. Significa “aproveite o dia”. Tentava transmitir aos alunos a ideia de que o dia é precioso demais para ser vivido aleatoriamente, com algo que não valha a pena. E insistia: “Carpe Diem, tornem suas vidas extraordinárias”.

É claro, que no final o professor seria demitido. Não lhe  permitiriam  abalar os alicerces anacrônicos daquela instituição.

Exatos 30 anos nos separam do lançamento  desse filme dirigido por Peter Weir. Não é preciso muito esforço para estabelecer uma analogia com a educação brasileira, que visa preparar o  jovem para ingressar na universidade e, quando graduado, suprir o mercado de trabalho. E só.

Temos razões de sobra para nos preocuparmos  quanto ao futuro, mas, apesar de tudo, não percamos a esperança.

Carpe Diem !

 

Por Gilberto Silos

Publicado em 13/04/2019

Sobre Gilberto Silos 225 Artigos
Gilberto Silos, natural de São José do Rio Pardo - SP, é autodidata, poeta e escritor. Participou de algumas antologias e foi colunista de alguns jornais de São José dos Campos, cidade onde reside. Comentarista da Rádio TV Imprensa. Ativista ambiental e em defesa dos direitos da criança e do idoso. Apaixonado por música, literatura, cinema e esoterismo. Tem filhas e netos. Já plantou muitas árvores, mas está devendo o livro.

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