Corrida de São Silvestre 2017

Ano chegando ao final… é dia de correr pelas ruas da Terra da Garoa, é dia da Corrida Internacional de São Silvestre!
Para este poeta-atleta que vos escreve, era uma edição especial, pois esta era minha décima participação na mais importante corrida de rua da América Latina!
Este ano a organização resolveu decretar guerra aos corredores que participam sem inscrição, os popularmente chamados de “corredores pipoca”. Informações pipocavam (com o perdão do trocadilho infame) sobre o assunto já vários dias antes da prova, informando que uma operação anti-pipoca seria montada. Dois mil staffs estariam espalhados pela Paulista e imediações para tentar triar quem tentasse chegar na Avenida Paulista, e só deixariam passar os com número no peito.

93ª Corrida Internacional de São Silvestre – Foto: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press

Bem, isso realmente ocorreu, pelo menos a tentativa disso, mas é claro que é uma utopia tentar proibir uma pessoa de correr numa via pública, tendo ou não ela feito inscrição para tal. Voltaremos a este assunto em breve.
Cheguei na Paulista pouco depois das 7h da manhã e me dirigi aos guarda-volumes, que ficavam em uma rua atrás do MASP. Nesta parte não há o que reclamar da organização: havia vários staffs pelo caminho indicando onde ficavam os ônibus que fariam vez de guarda-volumes, com isso não tive nenhuma dificuldade em achá-los, e rapidamente já estava voltando para a Paulista… a dúvida era se seria igualmente fácil pegar meus pertences quando do final da prova.
Louvável a tentativa da organização de separar os atletas por desempenho, criando vários setores coloridos de acordo com os números do peito, como é comum em maratonas, mas infelizmente os atletas não respeitam isso, e no setor Azul, reservado ao corredores amadores mais rápidos, se viam vários atletas dos setores Amarelo, Vermelho e até do Cinza, destinados aos mais lentos, e isso se manteve até o momento da largada. Eu matava hora passeando pelos setores, quando, às 8h em ponto, a chuva veio nos visitar… São Pedro queria dar um  alô para São Silvestre! Eu falei lá acima em Terra da Garoa? Bem, mude para Terra da Chuva mesmo… e ela até que veio moderada no início, mas depois de uns 20 minutos, aumentou muito de intensidade. Como estava perto, corri me abrigar debaixo das árvores do Parque Trianon, já que o MASP, logo em frente, parecia já lotado.

Foto Sergio Barzagui Gazeta Press

E o céu chorou, lavando tudo de ruim que pode ter acontecido em 2017, até cerca de 10 minutos para a largada, que seria às 9h. Me dirigi rapidamente para o meu setor, e esperei ansioso o início iminente de minha décima São Silvestre.
Ah, antes da prova propriamente em si, preciso citar duas coisas sobre o sistema de som. Um: o bom gosto do DJ, que colocou pra tocar muito rock nacional, me deixando agradavelmente surpreso (talvez fosse uma compensação pelas atrações da Festa da Virada, que aconteceria horas depois…), e dois: a insistência em falar que a prova era só pra os inscritos, que pipocas não eram bem-vindos, e que estavam proibidos de usar os postos de hidratação ao longo do percurso, pois se o fizessem “poderia acabar a água para os inscritos”… menos, organizadores, menos. Em uma década correndo a SS, sempre vi água sobrando e nunca faltando, e os pipocas sempre estiveram presentes.
Essa é uma opinião bastante pessoal, mas não acho que elitizar uma prova que tem em sua beleza o fato de ser tão popular seja o melhor caminho. A organização alega que no ano passado foram 10 mil pipocas, e que isso encarece os custos da prova, elevando os preços da inscrição… eu por minha vez acho que, se ao invés de se cobrar 170 reais (!) na inscrição, fosse cobrado metade disso, o número de pipocas diminuiria muito, pois iriam preferir fazer a inscrição.

Foto Djalma Vassão Gazeta Press

Enfim… falemos de corrida: finalmente foi dada a largada! A elite, claro, larga bem na frente de nós, pobres mortais, então falemos deles. Os cadeirantes largaram antes, às 8h20, e em seguida as mulheres  às 8h40. E a queniana Flomena Cheyech logo assumiu a liderança, mostrando às adversárias que esta prova dificilmente escaparia de seus pés.
Pouco depois era a hora dos homens largarem… favoritíssimos eram os quenianos e etíopes, mas esperávamos por uma grande surpresa e que uma vitória tupiniquim acontecesse desta vez, pois a última vitória brasileira datava do distante 2010, com Marílson Gomes.
Nós, seres humanos normais só queríamos fazer uma boa prova e terminar sem nenhuma lesão… objetivos bastante distintos. A largada foi uma pouco mais à frente este ano, ainda na Paulista, claro, mas na altura da Rua Augusta e não antes do MASP, como nos anos anteriores. Saindo da Paulista, pegamos a Avenida Dr. Arnaldo e a Rua Maj. Natanael. passando pela Rua Des. Paulo Passalaqua e atingindo a Avenida Pacaembu e sua longa reta. Foi pouco depois dali que, no Km 5, enquanto a briga entre os atletas de elite estava acirrada. que o asfalto molhado contribuiu para uma queda ao solo dos atletas Edwin Rotich, do Quênia, e o brasileiro Wellington “Cipó” Bezerra. Felizmente ambos se levantaram e seguiram na prova, com o queniano inclusive assumindo a liderança pouco depois.

Foto Sergio Barzagui Gazeta Press

O tempo ajudava, os termômetros marcavam apenas 20º, e íamos seguindo nossa aventura, passando pelo Viaduto Gal. Olímpio Silveira, as Avenidas Dr. Abrahão Ribeiro, Norma Giannotti e Rudge. e pelo Viaduto Orlando Murgel.
Na elite masculina, na altura do Km 8, seis atletas africanos disputavam a liderança, enquanto que na prova feminina, a queniana Flomena Cheyech não tomava conhecimento das adversárias.
E nós, amadores, (inclusive vários pipocas) íamos deixando para trás uma das minhas partes favoritas do percurso, que começa na Avenida Rio Branco, passa pelas ícônicas Avenidas Ipiranga e São João, não podendo deixar de citar o Largo do Arouche e a Praça da República.
Vale elogiar o grande número de copinhos de água nos 6 postos de hidratação da prova, onde era possível pegar a água sem muito “engarrafamento” entre os atletas.
Lá pelo Km 13, já se sabia que só uma lesão tiraria a vitória de Flomena Cheyech, que já estava cerca de 200 metros à frente da segunda colocada, e ainda por cima ia abrindo cada vez mais.
E assim a queniana, que havia terminado em segundo no ano passado, se tornou a grande campeã da São Silvestre 2017! Fez uma prova perfeita, liderando de ponta a ponta, e fechando em 50min18s. Sintayehu Hailemichael, da Etiópia, foi a segunda colocada com o tempo de 50m55s, e em terceiro, ficou a sua compatriota Birhane Dibaba, com 50m77s

Foto Sergio Barzagui Gazeta Press

Entre os homens, já na temida subida da Brigadeiro, Dawitt Admasu, etíope naturalizado barenita, liderava com
mais de 100 metros de distância para o segundo colocado, o etíope Belay Bezabh. Já na segunda metade da subida, Bezabh acelerou o passo, diminuindo um pouco a distância para o líder, e abrindo do terceiro colocado, o queniano Edwin Rotich (o mesmo da queda com o brasileiro, lá no início).
Fim da Brigadeiro, curva para a direita na Paulista, e Admasu partiu para os metros finais rumo à glória. E assim Dawitt Admasu, nascido na Etiópia mas competindo pelo Bahrein, que havia sido vice-campeão em 2016, venceu a São Silvestre pela segunda vez (a outra havia sido em 2014), com autoridade, completando a prova em 44min15s. O etíope Belay Bezabh ficou com o segundo lugar, seguido pelo queniano Edwin Rotich, que tentava o tricampeonato da SS.

Foto Sergio Barzagui Gazeta Press

E, muito tempo depois, nós chegávamos finalmente no início da Brigadeiro… era hora de enfrentar o famoso e temido “morro acima”, para completarmos nossa última missão do ano.
Com algumas lesões ao longo do ano, meu treino para essa SS foi muito comprometido, e senti isso na Brigadeiro… eu que gosto de subidas e costumo apertar meu ritmo por ali, tive que me contentar apenas em não baixar o mesmo. Em detalhe muito curioso foi que, já na parte final da Brigadeiro, uns rapazes no meio da pista avisavam ter cerveja grátis (?!) logo adiante, no lado direito… e não é que era verdade? Alguns bem-humorados distribuíam copos de cerveja ao corredor que quisesse se “reidratar” de forma pouco ortodoxa e politicamente incorreta. Se alguém aí está se perguntando se peguei ou não, a resposta é negativa, pois não sou apreciador da bebida.

Finalmente atingimos a Paulista e depois foi só apertar o ritmo apra os metros finais, completando os 15 Km da minha décima Corrida Internacional de São Silvestre!
Depois foi pegar a merecida medalha (belíssima, para variar) e seguir para os guarda-volumes, onde rapidamente peguei meus pertences, sem problema algum. Ponto para a organização neste quesito também.
E assim terminou minha participação na mais esperada corrida de rua do ano, onde a organização não conseguiu o intuito de barrar a participação dos não-inscritos, mas promete ainda mais rigor para o ano que vem. Quem viver… ou melhor, quem correr, verá!
Em tempo, já no metrô, saindo da Paulista, conversei com um rapaz chamado Natan Pinheiro, que tinha vindo  da longínqua Aguanil, pequeno município de Minas Gerais, e havia feito sua primeira participação na SS. Ele tinha  pressa para voltar logo para sua cidade (6h de carro), pois ainda iria trabalhar no começo da noite! São atletas assim, que amam o esporte e fazem qualquer sacrifício por ele, que representam o verdadeiro espírito da Corrida Internacional de São Silvestre.
Conectando idéias, conectando amor às corridas de rua!

Foto Patricia Signore Entrementes Press

RESULTADOS 2017

Elite Masculino
1º Dawitt Admasu (BAH) – 44min17s
2º Belay Bezabh (ETI) – 44min33s
3º Edwin Rotich (QUE) – 44min43s
4º Birhanu Balew (BAH) – 45min06s
5º Paul Kipchumba Lonyangata (QUE) – 45min28s
* O brasileiro melhor colocado foi  Ederson Vilela , com o 11º lugar. Ele é atleta da minha São José dos Campos.

Elite Feminino
1ª Flomena Cheyech (QUE) – 50min18s
2ª Sintayehu Hailemichael (ETI) – 50min55s
3ª Birhane Dibaba (ETI) – 50min77s
4ª Wude Ayalew Yimer (QUE) – 51min35s
5ª Paskalia Chepkorir (QUE) – 51min55s
* A brasileira melhor colocada na São Silvestre foi Joziane Cardoso , que terminou na 10ª posição.

Cadeirantes Masculino
1º Leonardo de Melo (Brasil) = 45min06s

Cadeirantes Feminino
1ª Vanessa Cristina de Souza (Brasil) = 49min09s

Amputados Membro Inferior Masculino
1º Edson Dantas de Oliveira (Brasil) = 1h16min40s

Amputados Membro Inferior Feminino
1ª Lucia Helena Euzébio dos Santos Pontes (Brasil) = 1h57min08s

Deficientes Visuais Masculino
1º Fabricio Hungaro Jobim (Brasil) = 1h01min14s

Deficientes Visuais Feminino
1ª Dores Fernandes (Brasil) = 1h29min30s

Deficiente Intelectual Masculino
1º Diego de Souza Vieira (Brasil) = 57min08s

Deficientes Intelectuais Feminino
1ª Rute Menezes (Brasil) = 2h01min02s

Deficientes Andantes Membro Inferior Feminino
1º Vanessa Gomes dos Santos (Brasil) = 1h58min10s

Deficientes Auditivos Masculino
1º Eduardo Borges (Brasil) = 1h09min13s

Deficientes Auditivos Feminino
1º Edneusa de Jesus Santos Dorta (Brasil) = 1h06min50s

DALTO FIDENCIO 
 nils satis nisi optimum

 http://www.facebook.com/dalto.fidencio
 http://twitter.com/DaltoFidencio

Sobre Quênia Lalita 434 Artigos
Quênia Lalita escreve poesia. É ilustradora, tradutora e faz revisão de textos. E mora em São José dos Campos, SP

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*