Duña, uma fotobiografia

Estou indignado. Estou perplexo. Estou tomado pela ira santa, que apela à justiça divina, pois é falha e corrompida a justiça dos homens.

Um farsante da pior espécie, pilantrinha aproveitador, acaba de lançar no mercado o que ele chama de fotobiografia não autorizada da minha pessoa. Assim, de chofre, sem comunicado algum a mim, às beatas da minha congregação ou aos meus criados eunucos.

Não acreditem, amados discípulos, nesta patranha rasteira. Eu, o oráculo dos oráculos, não me deixo fotografar futilmente. Seria a banalização do sagrado, um desrespeito à missão que recebi do Alto. Não sou e nem quero ser figurinha fácil e repetida de álbum de Copa do Mundo!

O salafrário não teve escrúpulo algum em sua ânsia de faturar às minhas custas. Valendo-se de um photoshop genérico, desses vendidos nos alibaba da vida, fotografou qualquer um e levianamente afirmou ser eu. De minha parte fico de mãos atadas, pois não posso provar que aquele que o autor jura ser eu não seja eu de fato, pois nunca me deixei fotografar e não há, portanto, ser vivente que tenha tido a bem-aventurança de ver minha fisionomia, ainda que de soslaio. O que faz com que eu, o nunca suficientemente louvado Duña, possa ser qualquer um ou ninguém.

O livro, de capa dura e ricamente produzido, com lombada e marcador de página folheados a ouro, apresenta ao leitor incauto uma série interminável de duñas paraguaios. Da tenra infância à terceira idade, o profeta ali mostrado é falso como uma nota de 3 ou um Chivas sem válvula que se encontra a dar com pau em Pedro Juan Caballero ou em Ponta Porã. Um Duña que não passa de cópia fajuta e grosseira do original.

Jamais passou por esta minha cabeça raspada a ideia de lucrar às custas da adoração alheia. As peregrinações, visitas guiadas e romarias aos templos de culto duñesco se fazem sem que se endeuse imagem alguma. Quem vos fala é sempre minha alma, e a alma deste velho Duña não tem forma. Amém, pessoal?

Esta é uma obra de ficção

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