Entrevista com Ernesto Moamba

Por Evan do Carmo

2016-07-29

Hip hop a poesia: Ernesto Moamba

jornal Omunumental

Ernesto António Moamba (Ernesto Moamba), nasceu a 04 de Agosto de 1994, em Moçambique, África, e residente na cidade de Maputo. Concluiu o seu nível pré-universitário em 2014, hoje é formado em Contabilidade Geral Básica e Financeira, Gestão de Materiais e Educação Financeira. Poeta e escritor, iniciou com apresentação dos seus trabalhos literários (poesias, contos, crônicas) nas escolas e mais tarde resolveu divulgá-los em jornais, revistas e redes sociais. A temática de sua escrita é marcada pela dor, desespero e o sofrer da sua África esquecida.
O poeta sublinha ter participado de duas Antologias (nacional e internacional), nomeadamente O mundo dos sonhadores e Corpo Negro, na qual teve participação de 4 países lusófonos (Moçambique, Angola, Portugal, e Brasil). Em 2014-2016, recebeu Menção Honrosa nos prêmios Quatro estacões e XIV Concurso Fritz Teixeira de salles de poesia, com os poemas “Mãe África “ e “liberta-te África”, respectivamente. Pela primeira vez o autor participa na revista literária intitulado “kamba” editada em Angola com participação de 4 países lusófonas. É membro do grupo Intercâmbio dos Escritores da Língua Portuguesa e presidente do grupo Lusofonidades-: Divulgando literatas lusófonas.

Ernesto, onde você mora em Moçambique?
Em Moçambique estou a residir na zona sul, cidade de Maputo, distrito municipal 3 – polana caniço B. Uma zona onde nasce grandes autores e artistas da categoria do Mia Couto.

Como começou escrever?
Como comecei a escrever? Uma questão que sublinho ser importante de todas. Diria que tudo foi por uma causa justa, é como alguém que dorme saudável e acorda doente. A sua primeira impressão é procurar um medido para lhe diagnosticar. Assim aconteceu comigo. Ainda criança esse amor pela escrita renascia em mim em cada segundo, e foi piorando quando comecei a ver a questão social e cultural do meu país. Refiro-me as histórias da escravidão e colonialismo que os meus ancestrais viveram, isso para mim criou um amargo sentimento de revolta. Creio que isso me influenciou ainda mais na escrita.
Antes de ser poeta comecei com a gravação de músicas Hip Hop Underground que até então faço, lembro-me que um dos primeiros títulos a gravar falava da CRIMINALIDADE. Foi com todo sucesso. Porque musica também è poesia em forma de canto. Mais tarde o vício da escrita tornou-se ainda mais intenso dai que comecei a rabiscar sentimentos em forma de crônicas e poesia em folhas brancas e rasgadas do meu caderno. Quando fazia o ensino médio nas aulas de português declamava algumas poesias que os mesmos eram divulgados na vitrina da escola e na sala da diretoria, assim aconteceu durante muitos anos.

Como a poesia é vista na ÁFRICA?
Como é sabido a África ainda é um país pobre embora independente, reflexo do sofrimento e da humilhação provocado pela escravidão. Literalmente a poesia da África ainda sofre distinções, digo um cancro em relação a que se vive, por exemplo, em Brasil e Portugal. Embora nesses últimos anos tenho observado um crescimento tangível dos novos poetas, mas acabam desistindo por motivos editoras do próprio país que não os patrocina.
Aqui em África temos grandes talentos de poesia, creio que sou o exemplo disso embora seja um leitor e poeta teimoso na escrita.

Além de Mia Couto, quem mais se destaca em Moçambique?
Além do Mia Couto vencedor do prêmio Nobel, tenho acompanhado os autores: Jose Craverinha, Paulina Chiziane, Ungulane Ba ka khosa, Calane da Silva, e mais.

O que você espera conseguir com sua poesia?
Libertar os meus irmãos africanos desse pensamento que considero absurdo de pensar que a África não igual a outros continentes, o receio do reconhecimento da nossa cultura e o sentir inferior aos demais só porque somos descendentes da escravidão e colonialismo que vivemos a flor da pele há tantos anos atrás. Para mim isso influencia muito na vida dos moçambicanos. È livre fisicamente e escravo mentalmente.

Em seu livro Liberta-te Mãe ÁFRICA, qual é o tema central?
O tema central do meu livro “Liberta-te Mãe África" basear-se na descrição da cultura e a tradição africana, repudio e exaltação de alguns valores que condenam a minha Mãe África de sentir-se livre ou em liberdade num pais independente com vários recursos.

Acredita que a poesia tem esta força toda, a que você parece imprimir com sua obra?
Sou amante da poesia e leitor ao mesmo tempo, sempre acreditei nas minhas habilidades e na minha temática em poesia, sublinho o meu objetivo não é a fama, mas sim o reconhecimento e a valorização do meu trabalho. Acredito que com a minha poesia já estou contribuindo na libertação do meu povo.

Existe um lamento ou uma revolta em sua poesia, sobre as condições sociais da AFRICA?
Palavras certas, lamentos e revoltas, minha poesia define-se nessas duas palavras. Com a minha arma de poesia estou em guerra para vencer essa questão que tanto abala a minha Mae África, “o sentir escravizado ainda num pais independente”.

Você se envolve diretamente nas questões políticas locais?
Sublinho que a minha temática em si retrata a cultura social do meu país, o quotidiano dos moçambicanos em geral embora com a minha ousadia de ser poeta tenho pisado indiretamente no amargo da cultura política local para exaltar alguns devaneios.

Moçambique e a AFRICA de hoje vive em paz, ou há guerras tribais onde você reside?
Moçambique está a passar por momentos amargos à violência de que falamos hoje, não é assunto de hoje! Essa começou há muito tempo! E violência, só traz mais violência!
Tensão politica miliar e a crise econômica.

Quando virá ao Brasil divulgar a sua obra?
Sinceramente não tenho uma previsão agendada de quando estarei no brasil. Mas è provável que apareça no Próximo ano-2017.
Nos dias 04-08 de outubro para participar da feira internacional da literatura Conhecer Brasil faz parte dos meus sonhos.

Onde podemos comprar seu livro hoje?
O meu livro intitulado Liberta-te Mãe ÁFRICA encontra-se a venda em 13 países do mundo nas lojas do amazon, site: www.amazon.com. Contudo poderá se alastrar para os demais países.

Tem contrato com alguma editora fora do seu país?
Claro, atualmente estou a trabalhar com a Editora do Carmo, responsável pela edição do meu recente livro. Uma editora do meu ponto de vista profissional que entende as condições dos seus autores.

As pegadas no passeio do vento

Tu dormes minha virgem África!
Dormes mais que uma pedra estática.
Enquanto não despertas
O teu munda murcha.
Levanta-te do silêncio
E esgravata no meu corpo precioso.
Ó mãe África misteriosa,
Vestida do aroma de ouro
E mineral,
Como vagueias no alto da solidão?
Minha mãe,
Minha rainha,
Minha virgem
E idolatrada vaidosa,
Enxergo-te a lacrimejar
Entre as paredes insólitas da panela de barro,
Curvando-se aos pés da cacana e nhangana;
Das resinas verdes sob as folhas do
Embondeiro.
Minha mãe,
Teus olhos nus reflectem
Feridas de desespero
Marcas de solidão,
Sorrisos de omissão,
Governação histórica
E mortes das orbitas nos hospitais
Mãe,
Enxergo-te clamando
Sobre as montanhas do Zambeze,
Rios e lagos do Nilo.
Lamento seus acutilantes sorrisos
Que hoje te condenam a solidão e desespero
Mãe,
Oiço o romper da sua corda vocal
Chorando a histeria de uma politica
(velha e caiada).
Seus filhos (em troca da liberdade)
Recatando feitiços
E dívidas acumuladas.
Condenados ao trabalho
E à glória atrasada.
Enxergo-te a lamentar,
(de joelhos) cavando túmulos.
Desterradas no umbigo do seu olhar
Minha mãe
Oiço-te a gargalhar com a sua enxada de pau
Rasgando a terra por uma migalha.
Diz-me, mãe:
Porque carregas cicatrizes;
Meu berço coração,
Filhos magistrados condenados sem razão?
Seu sangue, mãe,
Irrigando areia no orvalho da manha.
Porque tantos mistérios?
Guerras no save,
E delírios das armas em muchungwe
Estiagem e secas imundos.
Minha mãe
Seu corpo põe-me a duvidar
De ti, minha amada
Mama África.

Ernesto Moamba
(A voz da África)

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