Eu sou quinhentos…

“Mas um dia afinal eu toparei comigo…” (com Mário de Andrade)

Como cheguei à quingentésima crônica publicada (no Estadão), acredito ser merecedor de algo inédito: que ela seja escrita não por mim, mas por colegas meus de ofício. Afinal são oito anos e meio redigindo ininterruptamente, vale uma trégua.

Hoje então disponho alguns depoimentos generosos sobre meu mister de fazedor de formas breves. Não deixa de ser um modo do leitor, e eu, nos conhecermos ainda mais. 500 vezes obrigado a todas e todos que me acompanham no Crônica por quilo. Axé!

“Otto Lara Resende contava do dia em que, diante das alarmantes notícias sobre uma greve geral, o amigo Rubem Braga lhe telefonou e convidou-o a ir ao Bar Luiz. “Vamos ver a crise de perto”, propôs. O episódio ilustra a peculiar lógica do cronista. A ele interessam as miudezas, que quase sempre, num aparente paradoxo, têm o poder de iluminar o quadro geral. Pois Carlos Castelo é um dos mais brilhantes em atividade. Seja nas máximas cheias de verve e ironia, seja nos textos mais longos, papeia com o leitor como se estivesse à mesa do bar, de bermuda e chinelos, sob a brisa fresca da tarde. Se há forma melhor de se conversar, desconheço”.

– Marcelo Moutinho

“Carlos Castelo é um ótimo cronista. Admiro seu estilo calmo, sem pressa, de quem sabe conversar (sem nunca gritar) com o leitor. Pode ser muito engraçado, mas em geral seu humor é discreto — vence por pontos, não por nocaute. Pode ser lírico, até. De um lirismo suave, pouco dramático, em sintonia com o país de Rubem Braga e João Gilberto.”

– Fabrício Corsaletti

“O cronista é, antes de tudo, um irreverente. A reverência pomposa não combina com a crônica, seja ela direcionada a personalidades, lugares ou ideias. Certa vez, Castelo perguntou a seu leitor: “E se Jesus morresse no sofá? Uma coisa é certa: decorar as igrejas seria complicadíssimo!”. Assim é o cronista, um sujeito capaz de fazer troça até dos objetos mais sacrossantos, como os sofás. Que tipo de pessoa levantaria perguntas dessa espécie? Só um louco. Ou um cronista.”

– Marcelo Dunlop

“Carlos convoca todos os músculos da palavra pra chegar o mais rápido possível na linha de chegada. Tende-se a considerar este gênero mais fácil, por ser mais rápido. Mas é preciso muito tempo pra conseguir ser veloz. O atleta pode levar muitos anos pra chegar um segundo mais cedo. A crítica costuma preferir os romances longos, que conferem inteligência a quem lê. A narrativa curta, seja ela a crônica, o esquete ou o microconto, costuma ser tratada como frívolo divertimento. Mas se escrever é cortar palavras, como dizia Drummond, o microcontista é um vencedor – chegou no apogeu da sua arte.”

Gregório Duvivier

“Sei que este seria um espaço para elogiar o Carlos Castelo, mas não farei isso. E por um bom motivo: ele não me desperta bons sentimentos. Sinto é inveja desse sujeito, que todo dia faz frases que eu jamais conseguiria bolar. Bah! Abaixo o Castelo!”

– José Roberto Torero

“Quinhetinhas? Já? Como leitor faminto e pantagruélico deste estabelecimento, juro que nem contei ou pesei. Freguês das antigas, curti o lero-lero de cada crônica, com água na boca e apetite de um leitor iniciante. Parabéns, Castelo, estou sempre aqui no balcão à espera da próxima. Viva a crônica popular brasileira!”

– Xico Sá

“Castelo é um operário da palavra. E, mesmo trabalhando 365 dias por ano, nunca perde o bom humor. Que venham mais centenas e milhares de crônicas.”

– Giovana Madalosso

“Quando eu quero rir e me irritar ao mesmo tempo, vou direto aos aforismos de Carlos Castelo.”

– Ruy Castro

“O que coloca Carlos Castelo no distinto rol de Millôr e Verissimo é justamente a linguagem desinflada, a piada desentranhada da fala da rua e da retórica oficialesca, em suma, o faro para o cômico e para as contradições do presente – satirizados na linguagem do presente.”

– Manuel da Costa Pinto

“Ninguém é Castelo à toa. Misto de filósofo, jornalista e escritor, como um personagem que ele próprio se caracterizava nos palcos, é antes de tudo um caçador de si.”

– Paulo Caruso

“É sempre uma surpresa quando aparece alguém novo, com o dom raro – e misterioso – de acertar na sua escolha do tópico, do enfoque e do tom, e transformar a nossa realidade em ótimas crônicas. Porque não é fácil. O cara precisa ser ao mesmo tempo garimpeiro e lapidador. Precisa detectar a joia e aproveitá-la com arte. Precisa saber que o Brasil já fornece o exagero e o trabalho do cronista é só levar o exagero à sua conclusão lógica, ou ilógica. Carlos Castelo é uma destas raridades. E, ainda por cima, sabe como ninguém escolher as letras certas no teclado.”

– Luis Fernando Verissimo, no prefácio do livro de crônicas “O caseiro do presidente”, de 2001

(Publicado no Estadão)

Sobre Carlos Castelo 49 Artigos
Jornalista, poeta, humorista profissional diplomado. Um dos criadores do grupo musical Língua de Trapo.

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