Ídolos de barro

 

Ídolos de barro

Não nego que sou fã de muitos artistas, políticos, guerrilheiros, atletas, jornalistas, filósofos, cientistas, etc.

Somos admiradores de seres que de alguma forma se sobressaem em algum aspecto ou alguma área da vida humana. Apesar das minhas admirações e ser fã, nunca, nunca pertenci a grupos de seguidores de ídolos ou tive uma idolatria cega. Sou fã da obra e da genialidade daquele que produziu e presto reverência, vendo, ouvindo e apreciando suas obras, mas jamais arriscaria minha vida e nem faria coisas absurdas por eles. Eles são o que são e eu sou o que sou, no mesmo espaço e tempo ou relativamente de outros espaços/tempos e viraram legados e são tão humanos como eu sou.
Tem alguns músicos que gosto e antigamente ia em alguns shows, mas com cuidados exagerados, porque sempre tive noção que multidão pode ser perigosa. Alguns shows que fui eram bem tranquilos, outros nem tanto, até que nunca mais fui em show nenhum por saber dos perigos que se correm dentro desses espaços e eu preservo minha integridade física e mental.
Fico muito triste em saber que os adolescentes, seres extremamente intensos e que são fãs de alguns pop star de sua preferência, dão a vida por eles e fazem tudo que é possível para vê-los e defendê-los. Agora, chegar ao ponto de arriscar a própria vida fica impossível compreender.
Esse episódio que envolve Taylor Swift, considerada em 2010 a artista da década, uma bem sucedida cantora e compositora norte americana que faz muito sucesso e ganha muito dinheiro – veio fazer shows no Brasil por ter um número considerável de fãs que queriam e exigiam a presença dela no país.
Primeiro no Rio de Janeiro e depois em São Paulo e o primeiro show foi realizado no Rio de Janeiro numa temperatura de quase quarenta graus. Uma fã atravessou o país para vê-la. E nesse calor intenso que está fazendo no sudeste do Brasil, essa fã morreu no show – falta de água, nesse calor insuportável? Afinal, ninguém pode entrar com garrafa de água no show; você paga muito caro pelos ingressos e ainda tem que comprar água que é absurdamente cara. É justo? Depois dessa tragédia, o Ministro da Justiça, Flávio Dino, baixou uma portaria mudando isso. Espero que de portaria vire uma lei, porque é desumano demais os fãs se sujeitarem a isso, para verem seus ídolos que ganham rios de dinheiro.
O mais estranho é que a artista se pronunciou com um bilhete escrito à mão pelas redes sociais sobre o ocorrido e cancelou o segundo show de última hora, depois dos fãs ficaram horas e horas no calor intenso, esperando pelo show. E foi então que vi uma coisa extremamente bizarra que nunca imaginei que pudesse ver e saber: Uma fã se declarando revoltada com o cancelamento, pois havia ficado no sol escaldante por horas a fio e usando uma fralda geriátrica. Fralda geriátrica, como assim? Procede? Na minha ignorância, não sabia que muita gente vai nesses shows com horas e até dias antes para entrar primeiro e não tem como ir ao banheiro e nem podem sair dos seus lugares e por isso usam fraldas. Gente, que horror! Quem é capaz de se submeter a tudo isso por conta de um ídolo que ganha rios de dinheiro e não está nem aí para um fã?

No segundo show, a artista nem sequer mencionou o nome da menina morta e o fãs pediram para que ninguém mencionasse o nome da Ana, que morreu sem água num calor escaldante, para não deixar a Taylor triste. É inacreditável tudo isso.
As pessoas e o fandom em solidariedade, fizeram uma vaquinha para que o corpo da menina fosse transportado para a cidade dela e também ajudar a família que está despedaçada. E essa artista, sem nenhuma empatia, ganhando tanto dinheiro em cima dos seus fãs, nem sequer ofereceu ajuda ou pelo menos até o momento em que escrevi esse texto. Acredito que ao saber da repercussão que está dando e muita gente falando mal dela nas redes sociais ela então seja obrigada a tomar uma atitude mais empática…bem diferente de um Michael Jackson que quando esteve no Brasil, uma van da equipe dele atropelou um fã, ele deu toda a assistência e ainda foi visitá-lo no hospital…bom, Michael Jackson é Michael Jackson e sou fã. Ele fez isso porque sempre foi empático com tudo e todos em sua vida. As pessoas devem saber até onde podem idolatrar alguém e se vale a pena.

O mundo passou da hora – Pronto, falei!

Elizabeth de Souza
201123

 

 

Para saber mais:

https://x.com/Classicparktv/status/1726618877583675454?s=20

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/11/18/fa-morre-durante-show-de-taylor-swift-em-dia-de-calor-de-391c-no-rio-o-que-se-sabe-ate-agora.ghtml

 

Outro fã morto, mas em assalto quando saiu do show:

https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/brasil/2023/11/fa-de-taylor-swift-e-morto-em-assalto-no-rio-dois-foram-detidos.html

Sobre Elizabeth Souza 397 Artigos
Elizabeth de Souza é coordenadora e editora do Portal Entrementes....

10 Comentários

  1. Endosso em gênero, número e grau absolutamente tudo o que você escreveu nesta crítica. Coitadinha da cantora bilionária. Teve tanta empatia com a jovem, que nem quiseram que pronunciassem o nome dela para não deixá-la tristinha. Lógico que foi por isso que ela não se dispôs a apoiar a família com os procedimentos de traslado e funeral. E precisou de uma ordem do governo para a organização fornecer água aos espectadores da apresentação, mesmo depois da tragédia com a moça. Realmente já estamos no terceiro alçapão abaixo do fundo do poço como espécie.

    • Obrigada João, pelo comentário!
      Simplesmente revoltante esse acontecimento, uma jovem morre no show e a artista mal se manifesta, preocupada apenas com sua imagem…a banalização da vida e da morte.
      Abraço!

  2. Impressionante tudo isso que você descreveu Beth. Da idolatria exagerada da fã, culto à personalidade , desumanidade dos organizadores, falta de empatia da artista , à omissão das autoridades, tudo nos leva a admitir em que tipo de sociedade sem valores estamos vivendo.

    • Sim Gilberto, muito triste tudo isso. A idolatria é exagerada principalmente entre jovens e adolescentes e a indústria cultural deita e rola se aproveitando dos pontos fracos.
      Obrigada pelo comentário.
      Abraço!

  3. Legal Beth continue acreditando na escrita pois só ela pode nos salvar de tamanha ignorância muito oportuno a sua crítica num momento em que os jovens se parecem tão perdidos e sem um sentido real em suas vidas!

    • Nunes, a escrita realmente é uma forma de libertação, precisamos desse instrumento para mostrar alguns pontos de vista e opiniões.
      E nesse caso, é preciso escrever muito sobre o acontecido para que as pessoas tomem conhecimento e discernimento e assim, ter mais cuidados.
      Obrigada por comentar.
      Abraço!

  4. Pronto falou. De uns tempos para cá não tenho ido a shows. Acho na atualidade caros demais. Com todas as críticas, os eventos culturais gratuitos das Fundações, Ongs, Sesc falam mais alto. Lamentável esta morte. Mas neste Brasil só se tomam atitudes depois do ocorrido. Achei estranho nem uma ação das redes de ensino sobre as aulas nestes dias de extremo calor. Talvez para as famílias as escolas são depósitos de crianças. Ando desgostosos com esta profissão. Mas precisamos do pão amassado pelo diabo. Os movimentos sociais estão mortos.

  5. Obrigada Joka, pelo comentário.
    Já não vou em eventos pagos, nem gratuitos. Passou de quinze pessoas, para mim, já é multidão kkkk

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