O mistério de Elisa – Final

Por Milton T. Mendonça

O mistério de Elisa – Final

Margot acompanhou de onde estava todo o movimento e viu quando João subiu no cruzador. Saiu do edifício de vidro e foi ao estacionamento onde acabava de chegar um transporte trazendo mantimentos. Abriu a porta com a pistola na mão e apontou para o navegador obrigando-o a levá-la ao continente.

O piloto do outro transporte, em cima da ponte, ao perceber que o cruzador abatera uma nave amiga tentou correr em seu auxilio, mas foi desestimulado pelos companheiros que alegaram a perda da surpresa se isso fosse feito. Continuaram seu caminho em direção ao objetivo: A sala de instrumentos onde controlariam toda a cidade.

Após esperarem alguns minutos foram recebidos pelo novo líder. O homem estava sentado no trono em cima do tablado, no centro da enorme sala, toda decorada com a pompa de um imperador romano.

– Fomos informados que você descumpriu nossa ordem! – O líder exclamou olhando o soldado com os pequenos olhos perversos.

– Ordem, senhor. Não descumpri nenhuma ordem. Meu senhor me mandou acompanhar nosso visitante ao seu alojamento e foi o que fiz.

Kodaira levou um choque ao perceber que o motivo de estar ali não era a invasão da sala de instrumentação, mas ter acompanhado João ao alojamento. O ataque ainda não fora descoberto.

– Você está dizendo que não tinha conhecimento de que o visitante era nosso prisioneiro?

– Como poderia senhor? Sou ajudante de ordem de nosso venerável líder e não tenho tempo para mais nada…

João acompanhava a conversa sem entender. Falavam na língua nativa e o som não transmitia absolutamente nada aos seus ouvidos destreinados.

– Somente existe um líder nessa cidade, soldado. E sou eu! – gritou as ultimas palavras com ódio na voz – Ajoelhe-se e jure fidelidade ao seu novo guia.

Kodaira olhou-o nos olhos e perfilou-se na sua frente mostrando dignidade.

– Nunca senhor! – redargüiu – Jamais o reconhecerei como líder!

O homem levantou-se com ódio e chacoalhou a cabeleira como um animal encurralado. Fixou os olhos miúdos no guerreiro a sua frente que o analisava atrevido, puxou de dentro do manto uma pequena arma e disparou. Kodaira brilhou por alguns segundo e sem um gemido desapareceu em fumaça.

João deu um passo atrás perplexo e tropeçou nos próprios pés caindo sentado no piso atapetado. O homem gargalhou alegre batendo na coxa como um selvagem.

– Leve-o daqui! – Ordenou ao soldado que guardava a porta.

Margot chegou ao continente e mandou o homem estacionar no vão de descarga assim que saiu da ponte. Regulou sua arma e disparou no piloto que a olhava alarmado.

– Esse dormirá por horas – murmurou olhando-o sorridente – Acordará bem descansado.

Desceu da condução e procurou o elevador que a levou ao corredor laranja. Tudo estava calmo nada indicava que a cidade estava sendo invadida.

– É incrível a fé desse homem na inviolabilidade da cidade – Pensou consigo mesma – Precisamos resolver essa falha na segurança.

Percorreu com o veículo elétrico toda a extensão do corredor laranja dobrou o anel viário entrando no corredor cinza. Precisava alcançar seu apartamento sem ser identificada.

Enquanto isso a outra espaçonave deixou os guerreiros a poucos passos do seu objetivo e retornou ao porto onde deveria esperar para resgatá-los caso necessário.

Os soldados entraram na sala de instrumentos com as armas na mão, vasculharam todo o interior não encontrando ninguém. Faltava muito para a mudança de turno e os trabalhadores que Kodaira assassinara não haviam sido substituídos, tudo funcionava no automático. Os combatentes tomaram posse dos controles e contactaram a base lunar.

-General, a cidade foi capturada – O comandante comunicou assertivo.

– Muito bem soldado. O exercito já está dentro da cidade.

Satisfeito com a boa noticia entrou em contato com Margot:

– Senadora a cidade é nossa! Exclamou eufórico.

– Ótimo general. Estou a caminho da biblioteca para resgatar nosso visitante.

– O exército está dentro da cidade. Está submerso na enseada esperando ordens para atacar.

– Mande – os esperar general. Avisarei guando estivermos prontos…

Margot freou o veículo retornando ao elevador. Contactou a nave, que acabava de atracar no cais após deixar os soldados, e passou-lhe as coordenadas de sua localização. Subiu para o espaçoporto no telhado do edifício chegando ao local no mesmo instante que seu transporte. Foi conduzida ao prédio onde se encontrava o homem a ser resgatado. Antes mesmo de pousar, ainda no ar, a senadora saltou pela porta aberta rolando o corpo assim que tocou o solo, levantou-se ligeira e desceu a escada correndo. Percorreu o corredor em passos largos e adentrou como um furacão na biblioteca parando frente à atendente.

– Onde está nosso visitante? – Perguntou sem preâmbulo.

A moça olhou-a assustada e indicou com o braço estendido sua localização. João sentado no divã a viu chegar levantando-se de um pulo. Margot o chamou com gestos veementes.

– Não pode levá-lo senadora. Ele está detido por ordem de Soeltl – A bibliotecária falou firme.

– Ele vai comigo moça! E nem tente me impedir – Levantou a mão e apontou a arma pronta para atirar.

João se aproximou e ela o empurrou para fora indicando que deveria segui-la saindo em disparada em direção a escada, subindo-a aos saltos. A espaçonave deixou o prédio para trás segundos depois de recolhê-los se afastando da terra firme. Antes de chegar ao cais dois cruzadores surgiram em seu encalço. Margot entrou em contato com o comando do exército que esperava submerso e duas naves emergiram. Os tiros foram disparados com precisão acertando os inimigos que rodopiaram explodindo em chamas.

A nave dos fugitivos mergulhou no mar desaparecendo em suas águas negras. Pronta para seguir o exército na tomada da cidade subterrânea.

– Esta foi Por pouco – A voz de Theófilo chegou aos ouvidos de Margot.

– É você o comandante da armada? – Margot respondeu alegre.

– Bem vinda! – Parabéns pelo sucesso da missão. Parece que finalmente a guerra começou…

– Agora é para valer! Não podemos deixar a violência chegar aos civis… Mande um esquadrão para ajudar a proteger os instrumentos. Se o perdermos será o nosso fim e os cidadãos serão atingidos…

– General Konishi Estamos com seu líder sob custódia! – Soeltl gritou ao microfone surpreendendo o comandante da resistência.

– Está declarando guerra Soeltl? – O general respondeu após um pequeno silêncio.

– Quero seu exército fora da cidade!

– E se recusarmos?

– Destruirei a cidade e matarei seu líder…

– Você está blefando…

– Você tem duas horas para se retirar general…

A nave de transporte pousou no espaçoporto acima da sala de instrumentos e o batalhão pulou para fora um a um com as armas engatilhadas. Desceram a escada a tempo de surpreender os soldados que atacavam seus companheiros. A escaramuça foi rápida e mortal. O ponto mais estratégico da batalha que se prenunciava não seria perdido facilmente.

O exercito que estava submerso emergiu e entrou na cidade triunfante. A população avisada do perigo se escondeu lacrando portas e janelas deixando caminho livre para a invasão. O exercito inimigo depôs as armas se recusando a lutar. O palácio da assembléia foi tomado sem muito esforço e os soldados alcançaram a sala do trono.

Lá dentro o inimigo híbrido e seu estado maior compartilhavam o último reduto a ser conquistado. O líder da cidade subterrânea sob custódia, sentado à mesa, aguardava tranqüilo o final das negociações.

– Soeltl – o general chamou furioso – Deixe-me falar com o venerável.

O líder dos expansionistas o olhou sério através da tela de titânio.

– O que está pretendendo general?

– Não vou abandonar a cidade Soeltl! Aceitarei sua rendição e prometo que não haverá retaliação.

– Vai me deixar livre – Soeltl riu com deboche – Não sou ingênuo e nem espero nenhuma misericórdia que não daria.

– Prometo o exílio! Poderá se esconder fora de nossa zona de controle.

– Eu sou de carbono general! Não me faça rir…

– Deixe-me falar com o venerável…

– Você tem um minuto general nem um segundo mais.

A tela escureceu ficando assim por vários minutos. Quando voltou a brilhar o líder da cidade subterrânea apareceu sorridente.

– General! – Exclamou com sua voz melodiosa – Conseguimos então…

O general perfilou e tocou com a mão direita no ombro esquerdo.

– A senadora está do lado de fora da sala. Vamos resgatá-lo senhor.

– General tudo está correndo conforme os planos. Quando acabar por aqui recupere o cubo de memória que está com nosso visitante. Lá estão as instruções e as respostas que precisa para dar continuidade aos projetos…

– O que quer dizer? Logo o libertaremos…

– Adeus general! Foi uma honra tê-lo ao nosso lado nesse momento tão importante para a sobrevivência de nossa civilização.

Antes de o general poder dizer algo um estrondo encheu a sala surpreendendo a todos. A tela ficou negra. Teclou rapidamente e o rosto da senadora apareceu na tela, apavorada.

– O que houve senadora?

– Uma explosão general! Exclamou excitada – Vamos invadir.

A porta foi arrombada e os soldados entraram com arma em punho. A destruição era generalizada. Vários corpos jaziam espalhados aos pedaços pelo chão repleto de destroços. Toda a força da explosão fora dirigida para os fundos da sala destroçando a parede e metade do telhado.

Margot procurou seu venerável senhor encontrando-o debaixo da mesa. Estava morto como todos os outros. Ajoelhou-se e segurou sua mão beijando-a com deferência. Uma lágrima sulcou seu rosto sujo de poeira. Os soldados se aproximaram e rodearam o corpo afastando a mesa do caminho. Todos estavam tristes… Muito tristes.

O enterro trouxe a tona toda sua grandeza e quando tudo terminou a cidade se recolheu para chorar a morte de seu líder. O general sem querer dar chance a tristeza convocou uma reunião e no dia seguinte a sala da assembléia amanhecera cheia e a grande mesa redonda não tinha lugar vazio.

O elevador iniciou sua ascensão com o zumbido característico. Todos os presentes silenciaram e prestaram atenção ao volume que tomava forma no centro da grande mesa redonda. Ao terminar a subida a porta se abriu e o general apareceu com seu uniforme de gala repleto de medalhas.

– Cidadãos! – Iniciou – Hoje é um dia muito feliz para o povo da cidade subterrânea, apesar de ter perdido um filho muito querido. O conflito ao qual estivemos envolvidos nos últimos doze meses foi finalmente debelado. Estamos livres para tomar a rédea de nossa história e escrevê-la da maneira que sempre imaginamos seria escrita.

Nosso líder, como era de se esperar, mostrou mais uma vez sua grandeza de alma sacrificando a vida para salvar nosso mundo. Ele morreu, mas deixou pronto todo um projeto de vida ao qual me tornei avalista com a promessa de que será posto em prática o mais rápido possível.

– Gostaria que ouvissem os planos na voz de seu criador – Apaguem a luz! Levantou a voz olhando para o fundo da sala.

Quatro enormes telas baixaram do teto formando um quadrado bem no centro da mesa redonda onde seria o palco, se em vez da reunião formal que acontecia, fosse uma festa, e a imagem do grande líder acendeu sentada no canto da mesa de uma maneira bem descerimonioso.

– Paz a todos! – exclamou com uma referência – Imagino que os membros da assembléia estejam presentes – Mirou a platéia como se a visse, movendo a cabeça da esquerda para a direita – Se isso for verdade é porque detonei a bomba e estou morto juntamente com Soeltl, e, se tive sorte todos seus aliados também deixaram de incomodar nossa bela cidade. Muito bom… O plano está adiantado. Ninguém poderá sabotar o nosso retorno para a superfície como sempre aconteceu ao longo de centenas de anos… Não deixei alternativa.

Levantou-se da mesa e caminhou de cabeça baixa e as mãos entrelaçadas nas costas. Olhou para a câmera e sorriu.

– Penso que precisarei explicar os pormenores do plano para que possam entender seu alcance… E me perdoar pelos excessos que precisei cometer – parou ereto frente à câmera.

– Tudo começou há muitos anos atrás quando fui escolhido para liderar a cidade subterrânea. Houve uma reunião acalorada aqui mesmo nesta sala. Os mais jovens pretendiam aproveitar a mudança de governo para fazer uma reforma mais abrangente. Todos acreditavam que estava na hora de voltar à superfície. Nosso argumento era que estava ocorrendo uma mudança radical no pensamento dos homens com o descobrimento de novas terras, com novidades na ciência e nas artes. Até nossa inimiga numero um, a religião, estava sofrendo uma ruptura. Achávamos que finalmente poderíamos nos estabelecer sob o sol, um desejo arraigado no mais profundo de nosso subconsciente.

Ficou olhando fixo para a câmera como se estivesse perdido em lembranças. Após alguns segundos relaxou, respirou fundo e continuou sua explicação.

– Acabara de regressar de uma estada de cinco anos na superfície e deixara muitos amigos para trás… E uma esposa muito querida. Precisei de um longo treinamento meu corpo sofrera muito para ficar apto a conviver com seus habitantes, mesmo não podendo me expor ao sol e, apesar de não querer quando fui chamado de volta não pude desobedecer. Isto gerou em mim uma rebeldia que impulsionou os acontecimentos que culminaram neste vídeo

– Existia um medo irracional nos anciãos que destruía qualquer planejamento para o retorno de nosso povo á vida sob o sol. Mas eu sabia que a grande maioria sonhava com o regresso. Não é difícil de perceber isso basta olhar em volta. Nossa fixação pelo sol está em todo lugar, da arte a literatura, e não existe nada mais popular do que o MPN. E as escolhas nunca são por aventuras rocambolescas, mas para lugares onde o viajante possa desfrutar do sol.

– Nesses últimos trezentos anos ao qual estive a frente da administração da cidade sempre tive em mente a necessidade de resolver esse problema. Nos primeiros séculos tentei diplomaticamente uma solução, mas sempre esbarrei com o medo e com a manipulação. Nos últimos cem anos deixei de lado a política e resolvi agir. Talvez a nossa história me exclua de seus anais, ou talvez seja execrado e passe para a história como um louco. Mas como defesa de meus atos só posso dizer que fiz o que fiz pela sobrevivência de nossa civilização. O mundo exterior está evoluindo com a nossa ajuda. Nossos irmãos da superfície deixaram de ser apenas doadores de sangue e passaram a ser também os responsáveis pela entrega da tecnologia que permitiu o crescimento do homem exterior.

– Werner Heisenberg e Erwin Schrödinger, Albert Einstein e Bill Gates entre outros foram depositários desse conhecimento e uma peça chave na criação de um novo mundo na superfície da terra com o intuito de abrir caminho para nossa volta. Sempre acreditei que o choque cultural destruiria o homem da superfície. E nunca foi minha intenção destruir o homo sapiens sapiens e sim unir nosso DNA e fazer nascer uma super raça – o homo miraculum – com poderes para habitar o universo levando harmonia, paz e felicidade a todos, tanto carbônicos quanto não carbônicos. Assim está escrito em nosso três livros de profecias: In aeternum, Nunc et semper e Ratione temporis, deixado pelo criador de nossa civilização e que nos provou em diversas ocasiões que segui-lo é ter certeza de alcançar o porto seguro… Os quais deixamos vazar para o mundo exterior com a intenção de forçar o nascimento da era que os homens chamaram de renascença. O florescimento do pensamento humano. Ali, com aquele ato de enorme coragem foi dado o primeiro passo para nosso retorno. E o motivo para os dois últimos líderes que me antecederam e estavam engajados nesse projeto fossem exilados para além do universo conhecido.

– Foi um caminho árduo até chegarmos a esse momento. Os anciãos amedrontados com a perspectiva de retornarmos à superfície sempre bloqueavam qualquer iniciativa nessa direção. Precisei criar os híbridos e formatar em seus genes a rebelião. Condicionar sutilmente através das gerações – passo a passo – cada movimento em direção ao agora.

– Foi somente com Soeltl que consegui um híbrido com o desejo alucinado pelo poder a ponto de planejar e executar a eliminação de todas as famílias remanescentes de doadores de sangue, na tentativa egoísta de fazer desaparecer toda a descendência do grande rei Appolinaire tornando-se assim o primeiro de uma nova dinastia que dominaria todo o planeta. O que ele não sabia é que fora criado para isso. Fora criado para nos deixar sem alternativa, para nos forçar a uma atitude desesperada em direção à superfície.

Parou de falar e olhou para todos girando a cabeça da esquerda para a direita como se estivesse vendo-os ali sentados em silêncio com o olhar fixo na tela.

– Imagino que devam estar surpresos! – Exclamou sorrindo – Mas infelizmente a miscigenação não será simples. Do outro lado também existem aqueles que não concordarão com essa idéia. Ficarão assustados e reagirão com ódio. Por isso devemos ser cautelosos.

– Nos próximos cinqüenta anos teremos que travar a nossa maior batalha. A mais difícil. Ao longo de minha administração algumas pessoas foram escolhidas por terem qualidades que se somariam na hora da batalha e foram treinadas – apesar de desconhecerem esse fato – para liderarem essa transição.

Caminhou até a mesa e pegou uma pasta grossa de capa amarela que estava esquecida sobre o tampo. Voltou-se para a câmera e olhou-a fixamente. Abriu a pasta e leu a primeira página para o publico expectante:

– Estas são as pessoas que deverão liderar o movimento rumo à superfície:

. Senadora Margot: Líder supremo

. General Konishi: Líder militar

. Theófilo: Líder diplomático

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Recitou os nomes e a função de cada escolhido durante quase uma hora. O silêncio era absoluto.

– Não foi fácil escolher os guerreiros que enfrentarão a batalha mais difícil de todas. Mas acredito que hoje uma nova civilização está para ser criada. A derradeira. Aquela que transformará o universo no lugar que fora planejado pelo seu criador.

– Vocês devem estar se perguntando como faremos para conseguir isso considerando que não temos a estrutura necessária para viver sob o sol. Não adianta nada negociarmos com o povo da superfície se não podemos dividir o mesmo espaço sem sermos queimados até a morte.

– Como eu disse não vai ser fácil. Levará centenas de anos até a miscigenação se completar, mas para se acostumarem com o pensamento dos homens do exterior citarei um dos seus lideres – Mao Tse Tung era seu nome – Ele disse: Uma grande caminhada se inicia sempre com o primeiro passo. Hoje daremos o primeiro passo efetivo na nossa caminhada em direção ao sol.

– Como faremos isso? Vocês devem estar se perguntando. Não será simples isso eu posso garantir.

– Conseguimos criar uma matriz com as informações genéticas do nosso povo e com as adaptações necessárias para aceitar a união com um elemento da superfície e gerar um hibrido que poderá se unir a qualquer das duas raças sem degenerar… Essa separação nos custou diferenças inconciliáveis como todos sabem. E as gerações subseqüentes serão tão aleatórias como são as atuais. Conseguiremos uma nova raça…, mais forte, mais inteligente, mais bonita… Uma evolução tanto para nós como para os homo sapiens sapiens.

Parou de falar e perscrutou a sala olhando de um lado para outro como se pudesse ver os rostos espantados dos ouvintes

– Espero que a Dra Elisa esteja presente – falou de repente – Perdoe-me por não ter esclarecido as coisas desde o momento que chegou. Mas o segredo sempre foi a única arma disponível

– Você foi concebida para ser a primeira mulher! – Exclamou tenso – O elo que nos unirá a superfície da terra. A mulher que será cantada em prosa e verso por todas as gerações do porvir. Você foi criada pelos nossos cientistas e dada em adoção para um casal muito esperado… E muito procurado, que sem saber de nada a amaram como filha transformando-a em uma mulher lúcida, Inteligente e espiritualmente evoluída.

Elisa levantou-se de um pulo ao ouvir essas palavras.

– Como?! – Exclamou nervosa.

Como se tivesse ouvido suas palavras o homem na tela parou de falar.

– Não fique nervosa Elisa – ordenou com um grande sorriso – Você se saiu muito bem e a partir de agora será uma mulher com muitos privilégios. Será a primeira senadora de dois mundos. Terá acesso a toda informação que precisar… E sua verba será ilimitada – sorriu como criança ao se deparar com alguma brincadeira divertida – E seus filhos – espero que tenha muitos – serão líderes… A única ressalva é que somente poderá engravidar de um homem da superfície.

Elisa caiu sentada na cadeira e segurou a cabeça com as mãos. Todos a olhavam espantados.

– Seus filhos terão um novo sangue – a união dos nossos com os deles – O resto de nosso povo poderá caminhar na superfície com alguns cuidados e o povo da superfície será convidado a freqüentar a bela cidade subterrânea. Não existe retorno… Não existe alternativa. Nossa única opção de sobrevivência é nos unirmos como um só povo.

– A ONU já foi informada de nossa existência e estamos sendo esperados daqui a dez dias para uma apresentação mundial em sua sede. Depende dos novos guerreiros nossa vitória diplomática. Aproveitem os dias que faltam para se prepararem… Contamos com vocês.

– Agora me despeço, não mais me verão, estou morto. Sei que farão a coisa certa e seremos a super raça que a lenda dos não orgânicos canta e que nossa profecia espera… Adeus a todos!

O grande líder fez uma profunda referência deu as costas e caminhou desaparecendo atrás da cortina.

Os monitores foram içados desaparecendo no teto do salão. As luzes acesas. O silêncio continuou por mais algum tempo. Aos poucos as pessoas foram se levantando e saindo de cabeça baixa. Elisa, João, Margot, o general Konishi e Theófilo continuaram sentados em suas cadeiras, imóveis.

O mundo não era mais o mesmo. Uma nova era se iniciava naquele instante. Ficaram se olhando perplexos sem nenhuma vontade de levantar. Ansiavam por reter o conhecido por um pouco mais de tempo.

Fim do primeiro livro

Caro leitores,

Comecei esse conto por brincadeira e quando dei por mim os personagens tinham mostrado um mundo que não estava esperando. Meu propósito era desvendar um mistério, acabei descobrindo uma nova civilização. Sei que o final ficou incompleto por isso resolvi escrever os dois livros que faltam para completar a trilogia. Espero que estejam interessados nos novos acontecimentos que surgirão quando o povo da superfície tomar conhecimento da existência desse povo maravilhoso escondido no interior da terra. Aguardem…

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