Premonição

 

Premonição

Por Milton T. Mendonça

Fevereiro findava e aquele dia amanhecera frio, úmido e desprovido de presságios. Elisa voltara para cama após fechar a janela. Cobrira-se buscando refugio no morno deixado pelo próprio corpo. Aninhara-se, cerrara as pálpebras e se imaginara em um grande salão rodopiando com Morfeu ao som da fúria que se precipitava lá fora, sacudindo o telhado.

Aos poucos o zunido fino e cortante do vento lixando a parede mudara se transformando em musica suave e melodiosa. Repentinamente, sem anunciar, ao longe, em um canto do salão vazio, surgiu um homem caminhando em sua direção. Retesara os músculos assustada. Em seu ombro pode ver o violino se mover ligeiro, forçando o arco que subia e descia ágil numa cadência dramática, cheia de insinuações de perigo. Paralisada de medo recebera a descarga elétrica como um alivio. O som estridulante de cigarra atravessara seus tímpanos se alojando no coração. Fora jogada na escuridão.

O barulho penetrante da companhia voltara a tocar insistente. Abrira os olhos surpresa. Levantara, cobrira-se com o robe e fora á entrada da casa. Do lado de fora, com os dedos no interruptor pronto para pressioná-lo novamente, o mensageiro em um balão multicolorido, tendo ao fundo um céu magenta, lhe trazia flores. Recebeu-as sem uma palavra, fechando a porta atrás de si perplexa com a novidade.

Curiosa abriu o envelope. Pegara o cartão e lera a frase curta, percebendo a letra bem desenhada com uma mistura de angustia e medo:

– Chegarei às 12 horas.
Afirmava sem preâmbulos.

Olhara o relógio da sala atônita, faltavam trinta e cinco minutos para vencer o prazo. Correra ao banheiro, tomara uma ducha rápida, vestira-se, se maquiara e ficara a espera.

– Quem poderá ser o visitante? Perguntara-se ansiosa.

Tentara encontrar alguém íntimo o suficiente para enviar um recado tão sucinto, mas não conseguira.

Circulou os olhos pela sala apreensiva e pousou sobre o relógio. Finalmente o ponteiro escalava os últimos segundos. Levantara-se nervosa ao soar a primeira badalada imediatamente encoberta pelo som sibilante notificando que sua espera chegara ao fim.

Dirigira-se a entrada, girara a maçaneta destravando a porta com um estalo seco. Respirara fundo e abrira-a lentamente. O visitante parado no umbral, todo de preto, com um grande capuz fora ofuscado pela claridade do meio dia. Forçara a vista tentando reconhecê-lo.

– Não estava chovendo? Perguntara a si mesma indecisa.

Percebera a foice descer sobre si num átimo. Pulara para trás instintivamente caindo sentada no chão duro da sala de visita.

Acordara com o choque. Estava sentada trêmula e suada em sua cama. Lá fora o céu plúmbeo, visto pela fresta da janela confirmava que a chuva continuava caindo sem descanso. Pegara o celular na mesa de cabeceira. O número luminoso saltara inesperado – 12 horas!

Na sala soara a primeira badalada. O som agudo, estridente  da campainha penetrou seus ouvidos assim que a hora fora anunciada.

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