Rodízio de coração

Sejamos francos e façamos história crítica: não foi amor ao país, mas à coroa portuguesa. Sim, uma portuguesa já de meia idade e com uns estragados aqui e ali, mas que ainda rendia um bom caldo.

Com ela, Dom Pedrito Primeiríssimo (ou Dom Pedrito IV em terras lusas) traiu ao mesmo tempo a Leopoldina e a Marquesa. O que prova que o coração do imperador era grande, metaforicamente falando. E dentro da média, em termos anatômicos, como todos podem comprovar em um palácio da capital federal, onde ficará exposto até o dia 7 – retornando à cidade de origem já na manhã seguinte à data do bicentenário da independência.

Até lá, segue o baile. A Semana da Pátria periga virar semana do pária, quando aquele um, filho predileto do coisa-ruim, tentará tirar todo o proveito que puder do coraçãozinho mole e da cabecinha fraca do povo. Tal qual uma tocha olímpica, pode ser que a coisa desfile em carro aberto pelas capitais dos estados. Ô, Glória! Isso sim é o que se poderia chamar de rodízio de coração. Passará o mandatário de moto, cercado como de praxe pelos harlleyros de Higienópolis, ostentando o pedaço de carne em conserva. Como se o picles cardíaco fosse o Santo Graal. E como se alguém estivesse dando a mínima para a coisa… ô dó!

Quem sabe se tente um fake-heart, já que de fake o mandatário entende. Abre-se o vidro do receptáculo, remove-se a relíquia e troca-se, quando da devolução à nação-irmã, por uma réplica. Plebeia, é verdade, mas em estado de conservação semelhante ao órgão original. Tão idêntico que ninguém perceberá a diferença.

Outra alternativa seria uma tomada de posse, pura e simples. Comunica-se ao governo português o sequestro do músculo e pronto, estamos conversados. Se os bigodudos e bigodudas quiserem tirar satisfação, que venham. Encontrarão um varonil exército pronto a defender seus mártires.

Esta é uma obra de ficção.

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